sexta-feira, junho 29, 2012

Amor

Flores são pessoas, pessoas são horas
Sonhos são trabalho, brincadeira, ação
Amores são corpos
São danças e vida
Vidas são artífices da criação
Criar é voar, voar é ser floresta
Ser é ser animal, animar a pele
Ser suor e rosto, ser pequeno, atroz
Ser o bom e o maligno
Ser assim: Nós.

Ver é misturar-se pelo mundo
Resplandecendo mundos e corações
Saber respirar no centro do país
De países, mundos, estradas e vulcões.

Anos são distâncias
Distâncias são semente
São nascer e ver as fomes, homem e mulher
São o ver o tudo, o nosso, o crescer da voz
Passeatando o ser pelos cantos, pela foz destes rios todos
Tantos que se chamam povo
Desses mares todos, tantos, que são só pessoas
Desses jeitos e lugares que se chamam tempo
E que chamo só de ser e assino amor.



Com meus passos.

É a parte sob a  luz do sol que me lembra das noites
Lembra espaços
É a luz das vozes e da alegria, do ritmo do trabalho
Que fazem ávidos de saber dos ventos o gosto dos mundos
Tantos mundos
que fazem estrelas serem madrugada
E o sorriso ser primavera.

É a força de saber-se só e ser só coração
Saber ser dor
É a gana de saber-se firme enfrentando guerras
É o corpo aprendendo o jeito dos caminhos, das canções
É a alma que vive e sente-se gente,fogo, vento e terra.

É o ato de saber-se ato em vida, em alegria
Pois ser é festa
É andar como quem teme e treme o aprender da lida, da alegria
É o passo decidido no rumo dos espaços indignados pelo mundo
É assim o amor que me permite assinar os trabalhos com meus passos.

Amo você

As coisas dessa vida: Artes e dramas
São Vinhos, são artistas, são canção
O drama de esperar o sol se pondo
A fome e a vontade de ser beijo
A dor de voar e de pousar.

Há o lugar coração e os gestos, as certezas, a menina
As palavras
Asas, aspas
Há o mundo coração e milhões dessas pessoas que são passos de uma vida.

Dói morder a arte sem palavras
Dói perder minutos, levantar guarda
Abro o mundo que são as cenas e durmo como um morto
Acordo em busca de primaveras
Busco o sol imerso nos teus olhos
Busco o teor farto de teu solo na tua pele
Em teus negros mundos
Em teus planos de ir embora.

Há o lugar coração e a beleza de sentir o sol da estrada
E com isso há a linda voz do ir
Escrita nas tuas penas
No teu jeito de voar
E amo você...


quarta-feira, junho 27, 2012

Somos mar

Como o sal floreia o dom da pele
Sabe-se o mar
E a tez do amor é a tez, é a vez do amor
A cor do amor é o sussurro ao pé da pele
O fio do passo é espaço
É o siso do passo
É a fome de ser como a luz que nos precede.

Como o mar floreia o olho aberto
Sabe-se o voar
E o mar, o voar é o riso vivo, livre, redivivo
Entre pernas, peles, corpos que se entendem e se querem
Muito se vive e se crê e se dá
E se vai
Muito se é livre e se tem e se dá
E se vai.

Entre o mar, o riso, o que se desenha mais vivo é livre o sorriso
Entre as palmas que desenham o som da pele
O amor da pele
E as vozes que nos têm como paz vêem-se mar
Somos mar.

A seu lado

Não vou dizer toda a razão
Nem ela
Nem mesmo o nome dela
Ela inteira
Que faz-me assim imenso e sideral.

Não vou fazer uma invenção, uma tela
Uma explosão no atlântico
Um múltiplo ardor mutante convencional
Talvez nem vá falar assim de amor
Talvez nem vá cantar assim o amor.

Não vou dizer a invenção mais bela
Não vou chorar sozinho
Nem ficar calado
Tornado triste pelo som banal
Vou só paixão perambular nas noites
Cantando meu ocular sonho de amor.

Talvez assim em um gesto isolado
Meu coração desenhe-se a seu lado.

terça-feira, junho 26, 2012

Poesia se faz mesmo é com as horas

As vestes da poesia são as mesas das ruas mal faladas
As vestes da poesia são as almas
As almas que fogem das televisões
A poesia é como o rádio
É como o cantor falso que lhe pede a mão
Poesia é calar
Poesia se faz mesmo é com o passo.

O verso é como o pé
A alma é o palco
Poesia se faz mesmo é com o passo
O pé é quem faz mover a roda
Poesia se faz mesmo é com as horas.

Verbos feitos liras

Uma forma de flor é a forma do mar
Espalhado na curva do sol
Uma forma de dor é a dor de voar
Pelas luas que se fazem dó
Uma forma de cor é a que depender
Dos detalhes das luzes que vêm
Pelas coisas que a cor é capaz de fazer
Só pra ser pintura de alguém.

É como amor repintado em flores vivas
Cor de ver-se assim como a flor
Espelhado em verbos feitos liras
Renascer por existir qual flor.



Mulher

É dia
É coisa de ilusão
É duro, é verbo, cantoria
É como um labirinto
Um sol que irradia
É como só viver.

É casa
É ser homem, mulher, axé, infante coisa estrada
É ser em mim melhor por ser a mim agora
É ser, é só viver.

É velha a luz que sobre os homens faz de Deus uma noção singela
É a canção que faz nascer a luz mais bela
É ele ser ela, é ser.

É o que se sabe
Porque ser homem é sugerir-se glórias
É ver assim o Deus sutil das horas
E amá-lo Mulher.

Implosão

Se meu canto te é lúgubre ou tangencia a razão
Como um ódio com espadas
Como animais em explosão
E meu riso, meu jeito te desorienta a canção
Se meu grito não te alenta
Te apavora
E se o pão que invento e devoro não te alimenta a paixão
Da-se um jeito,
Dê o fora!
Me deixem na irrazão do meu riso.


Não canto porque quero ir pelo mundo sob um sol que me derrete o ir
Me transforma em um agridoce feitor da raiva que vem
Como quem enfrenta um vulcão
Me largue a vagar, me largue a voar
Meu mundo aguenta, garanto, 
Até a própria implosão.

Saudades de Carnaval

É um jeito de mar, de amar, de angu
De ver mundo e rua virado
De calçar a sandália da treta, a meia e a chuteira do jogo pegado
É correr como trem sem parar na estação
Reduzindo o transtorno a um fado
Tocado na paixão do juízo final
Com a faca nos dentes quebrados.

Não basta prece
Beber quermesses
Não é pro bem, não é pro mal
É pela gana de não ser Zé
De ir além do carnaval.


Me desculpe meu nego, mas minha cabeça não tá ai pra enfeitar diabo
minha alma, meu nome, minha voz e meu sal não dão conta mais de ser escravo
Não sou riso de medo empinando canção
Nem rebolação sem pecado
Não sou sua mão no panfleto ao sinal
Nem o professor engomado.

Não me dê prece
Foda-se a quermesse
Quero ser trem, quero o tribal
Decente é o drama dos sons Tom Zé sem flores ou saudades de Carnaval.



segunda-feira, junho 25, 2012

A cor dos meus aceites

Azul é a fome, é o deleite
É o tom do jeito de ser mar
O tom da forma de ser pele
A cor da fome de voar.

Azul, é a doce fome, o azeite
correr ao véu que faz o mar se parecer com outra pele
A onda, o dócil velejar.

Azul é livremente ave, ar
Azul é mel, é céu, é mar.

Azul é a cor dos meus aceites.

Azul

Dê-me o sol
Corte as amarras que o traduzem como fogo
Me espelhe em água fria, dê-me luz
Cala-me azul
Como quem serve-se de céu
E toca a terra e veste-se de estrada
Torna-se o obus que destrói o vício
De morrer-se inicio sem ser mar
Que faz-se beleza, destilada em lua cheia.

Dá-me um nome sem razão
Dá-me um verbo, um chão
Uma noite mais preta
Um deslizar-se do não
Um sim feito de ação, de pessoas, de tretas
Diga-me enfim que o pão desta delicadeza é a própria vida
Me torne então vida.

Dá-me o sol
Dá-me a palavra
Não traduza o gosto
Me deixe enfim ser alma
Ser azul.

Uma forma de invenção

O sonho é uma forma de vaidade
Redesenhada nas manhãs
Escrita pela fria vã saudade, cidade, que diz bom dia
E vive um afã de ser da madrugada a semana
Calada, retorcida, feita mar
Que em ondas nos transforma, nos transtorna, nos clama
Para um remexer desse lugar
Já feito de monstruosas mil besteiras
Já repintado em quadros de emoção
O sonho é uma forma de fogueira
Incendiemos toda imensidão.

O sonho é uma forma de saudade
Que faz gelo da Antártida derreter
A luz, a alma fria, as cidades, as tardes
São desenhos de mundo acontecer
Há o urro dos medos e das coragens
Deitados nos delírios e nos afãs
De todos que desdenham das vontades
O sonho é uma forma de invenção.

A Tragicomédia da dor

Se meu sorriso é um desancar qual grosso desse teu maravilhado jeito mentiroso
Se meu olho é um acre e cruel meio de ser fiel a meus próprios desatinos
Te recomendo ir um dia a fio perambular nos rebotalhos deste céu dormido.

Se o que digo é de uma orelha grande
De um jeito demasiado pleno arrogante
Não note que a tragicomédia da dor não tem bom diretor
E todo teu amor fodido vira paçoca na sarjeta a fio de uma água que não dá pra beber
Não se incomoda de morder
Não dá mais pausa pra sofrer
Fluindo.

sexta-feira, junho 22, 2012

O risco da vida jogada

Há o alto risco da vida jogada
O lance esperto de ter pés no chão
É irmão! A coisa certa é o fim da picada
A Certeza é a beleza na palma da mão.

A dura lição para a juventude
É que a bela batalha é a guerra truncada
E o bom negócio de toda cidade
É a estranha saudade do sol quando a lua acaba.

É a véra a arte de ser assim meio gente
Pelas ruas e vidas da vida
Pelo mundo inteiro
Sabendo a arte do jogo e o jogo é duro
E nas nossas malasartes fazendo costuras de sermos inteiros
Catando o gogó pro pagode
A arte rueira das ratas da rua
Fazendo certezas e sonhos serem piada
Catando o som do trabalho no dedo, na meta, no canto, na lua
E fazendo besteira
Porque tudo é besteira
E vamo embora sendo assim.


Somos o risco da vida jogada.

quinta-feira, junho 21, 2012

Signos da Cidade

Se a cidade fosse um hoje
Um presente, uma armadilha
Uma pista sem ser berço ou legado
Só desatino
O que faríamos ao esmo do destino?

Se a cidade fosse um ontem
Uma idade do ouro, uma fábula
Uma delírio amargurado
Ou um doce e bobo delírio
O que faríamos mesmo do Destino?

Se a cidade fosse um mundo de futuros
Um amálgama de páginas de planos, projetos, desejos
Profecias e algarítimos
O que faríamos do espelho que sorrimos?

A cidade é o adiante
É além da marca rara
É relógio e é flagrante
É legado, plano, destino
E somos assim porque somos seu signo.

sexta-feira, junho 15, 2012

Tão frio

Uma rua é mais que rua
Mais que pedras e hidrantes
Mais que mundos, mais que ninhos
Caiam almas e aflitos destinos desencolhidos
Das lamas das zonas nortes e oestes dos meus gritos
E mundo é mais que mundo
Mais que desenhos líricos
Mais que armas, mais que vícios
Tudo assim é quase um eco
Um sentido.

As vontades, as estradas
Todo o antes, todo dia já são vozes que se ardem no segredo do instante
Onde o tapa na cara da tolerância se anuncia
Nos meninos, nos pequenos que morrem agonizantes
No instante que a amarra é feito redonda letra
Feito espada cara, roupa nova na gaveta
Cuja honra do segredo não existe
É desatino
Toda alma é um processo, uma cátedra destruída
Tudo assim desinocente, tanto rua quanto palha
Quanto extremo desejo de cair feito destino
As distâncias sendo medos, sendo inícios.

E tudo é tempo, é mundo, é surpresa e luz fria
E talvez a ironia do mundo seja apenas o dia a dia
A alma que nos fornece o medo da segurança
A voz que nos segura com a cátedra do ritmo
São distantes oposições, desatinos
Não se beijam no desejo dos mil hinos
E é tudo assim tão claro
É tudo assim tão Rio
As ladeiras, os degredos, as nações que tramam tranças
Todo samba é um tormento, todo samba é magia
É tudo tão semelhante
E tão frio.

Sacanear

Meu sorriso é fome de pacificação de prece
E como uma criança meu desejo é o que me cresce
Assim faz-se dança, como um sopro, como descer pelas ramblas
De uma ciudad del leste.

A luz do sol madrugou e não sou de madrugar
A rua ao sol acordou pra me desacordar
Minha voz desandou a sonhar
E meu olho não parou de sacanear.

O que é preciso é correr pro mar

Tem dia que o dia sorri
E a calha do tempo parece a pressa
E a pressa come, a pressa corre
A pressa amansa o medo
E o medo morre
E morre a segurança do medo
O apoio do medo
O medo que nos desfaz estúpidos.

O fim do estar só é a distância da nossa dança
E o que é preciso é correr pro mar.


O cerne do não

Minha coragem é meu medo, meu mundo distante, minha sanha, meu asco
Meu sonho é um tempo, um instante, uma forma, um vaso
A partir destas eras meu nome é uma mesa
E meu sorriso é um cisne
Pinte a imagem na ação de um sentido covarde
Faça o que quiser com os cães
Amo o segredo, o perigo
Deixo as razões pelas cercas
Amo em completo sentido
E em fomes que me apresentam ao inferno
E ao som dos invernos.

Aspas são olhos vermelhos e comidas jogadas por sobre as cestas
São cortinas que rodam, que viram saias e pálidas negras
Que desfilam bobices
E reboleiam canções
Enquanto os homens nos parques
Desfilam comiserações
Guarde seu jeito bendito
Deixe no meio das festas
Vou partir num sentido que me derrube cercas
Deixo o cerne do não
Neste inferno.


O som das peles, das camas
Das longas distâncias pro centro da festa
É o grito de peles bascas, negras e senzalas que dirigem carretas
E tudo é o sol que insiste a transformar-se em canção
É a ilusão destes parques
Faixas que pedem salvação
Somos todos amigos
Até que um punhal apareça
Não economizo sorrisos
Só os guardo pra quem peça meu inverso, meu não, meu inferno
Meus mil versos, meu dom, meus desertos.

quarta-feira, junho 13, 2012

Nada mais nos cabe

Liberdade é no lombo
Força forjada na lapela
Um passo pra trás, um grito de guerra
Um quê de perigosa loucura
Ser meio quilombo, meio transa, cultura de ser
Rosnar pro sol nascer em plena tarde.

Liberdade é humano
Fogo lançado sob a lona
Raça ruim de rir, rindo de lua tonta
E Blues na vitrola da vida
E homem é rei da sua própria poesia
E ser é talvez ser macumba high society.

Liberdade é mulambo, vodu no quengo da muvuca
Rádio Patrulha queimada
E bundas feitas todas de balançar
Sambando nuas numa rádio gagá
Vá lá que todo dia é dia de astronave.

Liberdade é humano
Humanamente a cada guerra
Sendo um luar, um sono, uma festa
Um jeito de parecer loucura
Livre o humano é quase que uma surra de ser
Racionalmente nada mais nos cabe.




domingo, junho 10, 2012

Nosso seres

A luz azul do sonho é flerte entre o céu, a fé e o mar
A luz substitui a pele
Faz das montanhas, meninas.

A luz azul ao sul do flerte
É cor de céu e céu é mar
É como a cor de luz da pele
Da pele inóspita do mar.

A luz azul é amor, é mágica
É verde, é véu
É fogo, é ar
A luz azul é nossos seres.

Vidas feitas de espelho

Ver o mar do céu
Ver o mar do nariz
Escutar o som de saber ser feliz
Rasgos, tretas, incendiárias canções pagãs
Cada treta me espanta pela imensidão.

Ver é ter um dom
Ser é dar-se pro dom
Ser é respeitar o entorno do dom
O certo, o perto, o verme, a estrela e o luar
São verdades, razões feitas de enxergar.

E o risco é imenso, é adiante, é incerto, é grilo, é treta, é fé
Risco é linha
E linha é pé pela noite.

Ter é ser, comer, respirar, ser feliz
Ver é mergulhar, é saber ser raiz
Se esteio é a paz, a faca da força vã
A força viva do fogo é só coração.

Ver é ser e ter a dor de ser canção
Ver é ser de pobre vida, paixão
Andar pelos caminhos desta espada é mais que prosseguir
É notar, é saber, sorver, luzir.

E o frio é deslize do mundo na pele que arrepia de ser imensidão
Vida é este andar
Vida é ter esta fome.

Tanta cor no  planeta, tanto ardor e frio
Tanta forma de gente ser meu pavio
E a pele das tretas reflete-se no sabor
Destas letras que espantam de tanto amor.

E ao Rio caminho, me torno inventário de vidas, de versos, canções
Assim vivo de vidas feitas de espelho.

quinta-feira, junho 07, 2012

Atlântico, tropical

Costumava andar em montanhas minhas. Adoro-as. 

Sou montanha e mata, atlântica of course.

Sou assim como quem não decide, nem se voluntaria como amazônico, mas desliza atlântico como que se a tropicalidade rosnasse.

Nasci e cresci como quem trabalha entre montanhas, como quem é espremidos por pedras e florestas na direção de um mar que lembra deserto.  O deserto,a  areia, o sal das águas que devoram almas e vontades,o mar que me expande em alma e som, tudo isso me alimenta de lindezas, mas é na montanha que encontro o surdo eco das fomes e vontades.

As montanhas me fazem cidade, me desenham nas ruas e estradas, me colorem com a mistura de terra com fundações de civilização, portos e castelos.

As montanhas me desenham a pele, o hábito, a jugular da corte a ser mordida em uma voadora ação suburbana, o ônibus, a igreja, a linha do olhar, a direção, o norte, a zona norte.

Nasci montanha, floresta, atlântico, tropical, nasci ruelas, desenho irregular de casas e gentes, gente preta, branca, amarela, pobre, de bicicleta em pernas, pão e carne, cerveja gelada e erres a mais.

Nasci numa terra onde a casa é dura, onde a Madureira madura nos transversaliza em Portelas e Impérios, onde o rosto contempla o longe, e ao longe se faz sorriso e dor, e corte e faca e vela.

Nasci montanha, morro, verde, ar, cachorro, pé no chão, bola e pipa. Nasci sem voar, sem saber soltar-me pipa, mas correndo, sempre correndo, pé no chão, cachorro na mão, vadia vida, vazia alma, leve, pesada, arrogante, brigona, minha.

Se o mar avisava o grande, amontanha me avisava o longe, a linha, o norte.

Apaixonei-me por montanhas desde sempre, pelo Dois Irmãos, pela Pedra da Gávea, Serra de Madureira, Serra dos Órgãos, Itatiaia. O Mar olhando ao longe, e elas, enormes, magnânimas, olhando de dentro.

Daqui do Oeste ,montanhas fazem sentido, mar expande o olho, florestas nos fazem sorriso.

Nasci montanha, coleciono montanhas e florestas. 

Atlântico, tropical.




terça-feira, junho 05, 2012

Cristos sem espinhos

Cancioneiros e sorrisos
Leis que vagam pelos ninhos
Que deitam nos trilhos dos sorrisos
E deixam o morrer ser desígnio
A dor do desejo, o horror do mundo pobre
E o grito que nos faz mundo
O horror de ser desejo
De ser eixo, ser menino
De ser um corpo aceso entre destinos.

Cancioneiros e limites
Esperados pelo siso
Pelo juízo da corte, do corte, do quadrante
Entre a honra atolada em letras e palavrórios assassinados
E a morte acompanha o segredo das bastilhas
Esqueçam companheiros: Não existem camaradas na porta do destino.

Cancioneiros sangram cortes
E somos tão semelhantes
Calados e tão fervidos nas porradas tão diárias
E aqui temos o bom dia
E a velha melodia
A covardia dos atentos sonhos das seguranças
A morte das esperanças
E aqui estamos
Na lavra da morte e da lida
Estamos aqui tão mortos
Tão cravados de sentidos
E tão mortos feito Cristos sem espinhos.

Que em mim é poesia

O meu deus mora nos seios da lua
A lua gagueja sorridentes que parecem seus
E as almas são vadias
E tudo parece estrela
É tudo rua
E tudo parece nuvem.

Estrelas envelhecem
E ternas nos fazem grandes luzes brilhantes
E a paz é a calmaria.

As ruas me trazem morenas e almas pintadas
Com perdidos cinemas e vontades ariscas
Que me livram das dúvidas e dos medos que enxertam o ódio nos olhos
E a vida se parece terna.

E encerram os montes a paisagem deslumbrante
Toda a paz torna-se dia.

Filmes me buscam calado
Leio mundos na Terra
Creio na Deusa Terra
Creio no Deus que em tudo brinca
Escrevo por ter certezas
Escrevo por ter magia
E ter medo de maus dias.

Estrelas erram
E é tão distante o meu mundo delirante
Que a paz se torna vida.

Escrevo como quem teme o fogo e no fogo nasce um dia
E escrevo por ser a primeira vez
E eterna vez mais um dia
E é assim, e é gente, é rua, é lua, é magia
E a alegria me faz verso.

Estrelas legam ao olho distante
Um estar, um ir adiante
Estrelas calam a alma
E dão bom dia.

E é de tudo o espaço, a alma, a falha, a coragem
Viver é como ir de manso fazer eterna viagem
Olhando janelas fechadas
Olhando almas ternas
E ver o mundo nas faces.

Estrelas enxertam no sonho andante a ilusão do caminhante
E a paz faz-se um dia.

As espadas calam brados
Escritos calam o amor
E a beleza sincera da História é meu calor
Vejo o mundo como a vida
E a vida é tempo, Deuses, Imperador
E a rua tão vadia
Que tem tempo, querer bem.

Minha vida é ser veio da Estrela
Que encerra na História o andante mundo velho caminhante
E que em mim é poesia.



Todos meu

Minha lua passa nua
Minha rua tem sorrisos
Meu mundo mora longe, é meu vício
Meu lar tem janela com grades
E meu sonho é com ruas onde moram rosas vivas
Minha lida é o uivo pras luas
Meus olhos rasgam as grades
Sou um mundo, sou só eu
Sou mil mundos todos meu.

Multidão

É quase lá
Uma ação, um descampado
Um motor desalmado, uma vinha, um espasmo
Um pedaço de passo
Um abraço, um gosto amigo
E é quase que o mundo e o riso
Parecem cidade e me dão sentido armado.

É quase lá
Uma sela, um jeito meu
Uma forma de garrote
Uma forma de sossego
Um passo bem dado
Um gesto, um riso, uma fala
Uma surdez embriagada
Uma multidão que passa parecendo eu mesmo.

Deixem-me ser apenas quem não sou

Olho defronte ao surdo e pré vejo cidades
Escondo nomes e sumo como quem vai só ali
Olho adiante do mundo e pós-vejo grades
Espalho a alma no corpo e traduzo a dor no sorrir.

Entre as luzes que a vida me dá em cacho
Colho passos, colho fé e vou mulher
Entre pernas, entre seios e vertigens das favelas
Que costuro no meu mundo e amor.

Meio segundo de medo e o riso me pareceu solamente
Uma tolice, um rugido, um medo, uma forma de fugir
Meio segundo e o mar me soprou a verdade e livre fui em frente
Mais um minuto e nem eu mais estava ali
Nessa fuga pelos mil medos e mil gentes
Nesse correr, nesse morrer de amor
Procurando desaparecidas almas velhas
Companheiras, primas, velhas formas de calor.

E se sou um paradeiro de ovelhas
Deixem-me ser apenas quem não sou.

Resser

Rua de ver
Aspas da minha esperança
Cruz de meu peito que alcança a forma de ser
Cristo sem cruz pelas matas
Formas de ver
Alma de ir entre florestas e calçadas que são meu ser.

Escrever chão
Deslindar som
Cidade ser de meu olho que espalha a festa e vê o saber
E no amor de toda cabeça
Alma no peito que faz amor
Entre o ver som
Entre o ser chão
E vou ver estrela na palma da selva
Da mão da luz que é relva
Que é querer.

Dedilhar bom
Retocar som
E se resser.