domingo, maio 31, 2009

Eu quero rimas

Ruas me espantam
Luzes me sustentam
Fomes me repelem pelo ar
Enquanto o amor se faz canção
E olho o mar
Calado, distante, impassível
Vejo aves, sons
Para o sol nascer nas colinas.

Não me pare agora
Sou tantos
Quero ir enquanto há tempo
Pelas luzes de outro bairro
Quero na verdade uma só palavra.

É só
Eu quero rimas.

Querendo ler o viver

Acordei pra ver o sol curtindo o ócio
Deduzi sem ler a história dos nossos lumes de amor
Sai pra correr  pra sempre contra o tempo
Sem querer mais ver sucessos, contratempos
Eu só quero ir voando sem ter direção
Repetindo versos, lendo mil artigos
Aprendendo a ler estrelas nos sorrisos
Rasgos de improvisos retumbando o metal.
Se eu fosse sorrir eu voaria em pombos
Se fosse meu gosto eu ficaria um tempo ouvindo o vento
Ouviria um pouco de velhos sussurros
Quereria tempo pra notar desejos
Pronto pra aprender amores que escorrem nas mãos
E a caçar palavras
Quero desatinos
Pra poder tecer respostas sem ofícios
Recriando artifícios pra fugir do banal.

Se há tempo me deixe confuso
Não há tempo pra viver esperando
Nova vida recriada do zero
Se for pra ver, quero inventar o ver.

Se há tempo me largue nos muros
Pelo invento de ser tanto e tantos
Minha vida é um som perpétuo
E por aí vou assim
Querendo ler o viver.




Voar nas auroras

Minha ilusão dá margem à palavras
Reduz o ser triste a ritmos e cargas
Espere a hora de sermos ruins
E abra a porta que esperta
Cala a boca e me deixa ir.

Agora
Indo pra casa me sinto cheio
Remoço ao andar entre espamos de ruas e medos
Vejo o luar
E permito-me voar nas auroras.


Havendo Deus

Havendo Deus 
Surgem em pássaros palavras
Havendo Deus luzes parecem soar
Não tendo deus
Gostas de dor?
São sininhos
Doem olhos de passarinhos
Surgem medos de voar.

Havendo Deus cores tentam ser presentes
Fomes têm um pão decente
Poetas não são um horror
Não tendo Deus Riobaldo até se engana
E o medos viram dramas
Ilusões viram amor.

Malvadezas sazonais

Dê-me a água cálida dos fins
Morra de improviso
E me permita o ócio perfeito
Pelos mesmos velhos motivos
Pelo extremo risco de ser apenas um nú repúdio
Ao que reduzido à superfície parece crime
Pela justa relação entre o perfeito, o banal e o feio
Calculada em cheio por minhas pálpebras serenas.

Dê-me a calma de olhar o bom designio
Enquanto eu ouço um ritmo metafísico
E evito me isolar nos desertos
Por motivos inúteis, arrogantes
Enquanto rosno entre risos
Por um ódio que é de graça
A quem me ofende no sistema
Enquanto curto malvadezas sazonais.

Pelo aprendizado de ser tempo


Se há canção
Espere o dom da não palavra
Se é a fé
Aguarde ser só existência
E entre sins escreva a letra que calada
Cobre de esperança o silêncio.


Fosse ação
A vida intera já parada
Pulsaria gotas insanas de inferno
Fosse um riso
Talvez o amor fosse amarra
E a corte da felicidade não fosse invento.



E assim como que invertida
Pasmada
Na antevisão deste presente
Move-se em vão a vida inteira remoçada
Pelo aprendizado de ser tempo.

Outro som irracional


Repare no extremo
E assim, me pergunte a razão
Para o mar ser tanto 
Ao passo que seu surgir
Tem um que de Rei
Sugando a força do canal
Não pergunte nada a ninguém
E espere o mau tom de um velho madrigal.

Não me fale do velho problema seu
Enquanto rosna inconsequente um ódio despejado
Sem esteio
Sem a fome de violar mil leis
Mas eu gosto quando me falam de destinos
E da cor do luar
Espelhado em destroços sós
Remoçados em túneis de metrô, escritos em pedras de amolar.

E é isso, é o fim
Só queria cantar
Um destino, uma terra
Um desmontado depois
Para ver o quão cinza é o acordar.

Repare no extremo assim
E mergulhe a canção até o verso se afogar
E reluzir
Refletindo além do espelho a fome, o sonho, o sal
Escrito no mar por outro alguém
Me espere por outro som
Irracional.






Ao menos ir


Se houve fim
Sussurrem pretéritos
Gastem o vento e digam sim.

Noto um rumo no fim
Calculo inútil raiz.

Enquanto há fim
Deduzam corretos
Espelhos retos que causem sins.

Noto um rumo nos sins
Enquanto pego o ritmo pelas linhas que deduzem-nos sós
(Talvez por sermos só nós)
Enquanto reduzindo minha sina
Espero um trem perfeito
Tomo um gole de cerveja e no peito
Calculo estragos do fim.

Enquanto há sim
Espelhe o provérbio
Me dé ao certo um som, um fim
Me deixe ir por aí
Me deixe ao menos ir.

Renasce coração

A luz do sol desliza
Sorrisos dizem sim
A rua é tão aflita conduzindo sons e fins
Calaram-se as mil palavras
Reduziram-se ilusões
Enquanto tecia a fé dentro de espasmos de razão
Caindo assim em mim, em casa
Sussurrando canção
Esperando uma rima que nascesse sem paixão.

Reluz o vidro cinza
É lindo o prédio, o chão
Espero na esquina talvez me assoberbar
Desejando mil semanas
Zepellins, Caixas, revoluções
Enquanto ando e canto um medo de não ter razão.

Enquanto o sonho adia o drama
Repare nas gentes, nos dons
Tecendo museus, luzes, mar
Enquanto tornam-se coração.

Eu sei, é assim a hora
É assim a rua, o chão
É dura a voz que acorda em desarrumação
Por isso guardo o choro agora
Reparo na expansão
De um sorriso findo que renasce coração.

sábado, maio 23, 2009

De mulher


Rasgue-me em vinhos
Em tintos toques de desejo
Pegue a mão 
Dê-me afagos e em beijos
Ponha a si  inteira em sabor. 

Note-me em ruas e cores e atos
Respire seu corpo no espaço
Me dê esta ânsia de iluminar.

Pelo seu jeito, sua cor, sua dança
Me importa saber o sabor desta índia, esta luz, esta vida de imenso mar
Enquanto o sol vem luzindo
Me dê este teu cerne do céu 
Sob as lindas forma de desejo que pintam na pele e no cais.

Desenhe a cor e a luz destas ruas infindas
Note o que é a cor que sussurra existência
Distante, o universo é este balcão de bar
E todos hoje somos a porta que clama  o toque,a fé
De ser teu desejo assim
De mulher.




O mundo é meu ser

Rabicós, Delfins, viscondes
Imperadores, anjos fazendo florir
Ruas novas
Velhos capins
Praças do tamanho certinho
Redondas 
Nos trilhos
Aprendi ali
A escrever sonhos e sacis.

Pelas cortes do meu raro duro imaginário jeito de fugir
Inventava obras de Dalí
Rasgando rios suburbanos
Jedis bons lutando e meus oilhos ali
Costurando espaços de patins.

Coisas de luzir distantes
Flores operantes
Como não nascer
Vendo a cor brotar do ver?
E curtindo a vista incerta, a razão desperta, a paixão de ser
Coisa boa o céu e a mulher.

Esperanto em vão se digna
A escrever batinas em jeito de crer
Será bom o Bom Deus?
Vejo a rua, o madrigal
O curto e banal bonde a desdecer
Santo, o mundo é meu ser.




Perdemos cores


Esquinas escutam o delírio de viver
E o giz me torna útil na espécie de lua que é o quadro
Enquanto procuro curvas negras pra beber
O suco de destino que habita nuas formas de espaço.

Escrevo o mar sob a  forma de um verso cru
E formo um luar pras belezas me tornarem a rir
Vejo um preto perfil
Recuo meu olhar  
Mudo de cor
Espero a fome reformar meu ar
Rabisco luas para encantar
Caço panteras nas florestas
Como somos enquanto homens se não atores?

Não note os subúrbios debaixo destes meus nobres segundos mudos
Enquanto calo algum subterfúgio para ter um beijo
Combino em sussurros desejos e sonhos alvos.

Repare na luz que amplia o medo da zona sul
Espelha o mar pelas beiras do desejo de rir
Me faça colidir
Preteje meu sonho redentor
Calcule a fome de me desnudar
Repinte e borde para nos mostrar
Como é que sendo poeta
Retrucamos sobrenomes
Perdemos cores.






terça-feira, maio 19, 2009

A prisão de minha vontade


Sabendo falar podemos ver o fim
Até verDeus.

Pedindo bonito podemos ser lindos
Até ateus.

Mas olhe, não sei sequer ruminar
Talvez seja até coisa de amarrar
Um crime, um erro, um vil pecado
Um jeito assim tão pensado
Cala mais até mil desculpas pra salvar amor
Mas não cala fel.

Pedindo se busca até ter favor
Mas nunca eu
Eu calo a razão e choro saudade
Me prendo na rede da iniquidade
Olho pra janela nua da maldade
Construo a prisão de minha vontade.

segunda-feira, maio 18, 2009

Amor sem dores


Ruas nuas me espalham sem saber
Agosto tira mundos
Enquanto o espaço cumpre mudos vestígios
E me faz ver
A correria tola de nós
Que como ratos
Procuramos ouro e contas na lua azul
Perdemos os pais e partimos sem besteiras
A contar e a sorrir
Fingindo ter daqui uma vista qualquer do redentor
As luas cruas de Paris, sem mar
Chove lá fora
Já vou trabalhar
E vou me esquecendo da festa
Que foi meu horizonte
Acordei hoje.

Meu Rio tem seus rumos e perdi meu berço
Calando entre risos um resmungo baixo
Fui filho de destinos colados ao jeito
De perceber murmúrios de Deus nos faróis baixos.

Procuro dos mundos uma detalhe que entre azuis
Me possam pintar um luar com estrelas
Um som de reluzir
Um sorriso sem fim
Uma vista qualquer do redentor
Um jeito único de redundar
Eu quero as ruas e um balcão de bar
Um papo cheio de misérias
Sorrisos entre homens
Amor sem dores.

Olhando grades


A dor de deixar
A arte de ter fim
Ri de meu deus
Existo no indício do que pode vir
Morro sem reis.

E enquanto me deixo sonho em voar
Respondo a meus medos
Sonho com um mar
E busco a dor de perder os passos
E cheio de embaraços
Vou atrás do trabalho burro
De colher amor
De sorver fel
Redundo na muda dose de rancor
Xingo a Deus.

Se calo a razão
Calo por partes
Ouço sons de rua
Sinto saudades
Torço qual uma mula em meio às tardes
E perco esperanças olhando grades.

domingo, maio 17, 2009

Não vou morrer

Fomes e artes
Luas e bagres
Peças de mil motores
Muros e grades
Peças de arte
Ruas e mil rotores.

Se eu soubesse dizer o que quero
A grandiloquência de minha semente sugeriria a gente.

E eu amo morrer plebeu
E o inferno
É que eu não quero morrer
Quero apenas perceber senões a ser.

Gotas de classe
Fomes de classe
Formas de paz
Louvores
Umbilicais
Os meses são mais
Os meses são maios atores.

Repita o seu desdizer
Meu inferno
É a semente da impotência a reduzir-me à mente
E a mente é meu derreter, meu deserto
Que construo sem querer
Para destruir meu ser
Não vou morrer.

Quero ser terra

Do mar recebo em versos corpos negros
Pisos de sangue que tomam casas
Asas de papel e de luar.

Do invento percebo espadas e gerânios
Percebo sorrisos e elefantes
Crio céus e infernos de rir.

Cale-te se não me notas mundo
Rasa é a cegueira sem invenção!
Tudo é um versinho de outrora
Reduzido a um simples rancor
Permita-me voar desempregado
Quero ver o fogo renascer.

Dê-me meu ser de amor
Dê-me meu rir de louvor
Dê-me meu Deus de amor
Dê-me a terra!

Quero  o gol de placa dos planetas
Quero o sol queimando mil vespeiros
Quero reluzir-me invenção!

Grita!
Que eu canto aqui uma modinha
Tamborilando versos mudos
Regredindo sem infância atroz.

Não me cale te negando mundos
Se há a luz, é feita desta dor
Dados jogam Deuses pelas forcas
Enquanto comemos nosso pão
Nada de paraísos e hóstias
Quero ver terra de sangue correr!

Sou apenas louvor
Amor de rir
Amor
quero partir, amor!
quero viver, louvor!
Quero ser terra.


Nos ensinando a cantar

Dá de mim o tempo!
Note almas novas pelos campos!
Eu que vivo o inferno da voz
Calo-me pra sonhar.

Peço espaços múltiplos pras palavras alcançarem o vento!
Será mesmo impossível notar
Que letras têm seus tons
Presas no tecer ruas, luas, velas
Barcos que navegam ventos.

Como assim nunca pôdes olhar? 
Barcos são só canções
A nos pertencer vagos e tão fugidios
O silêncio é uma linda voz
Nos ensinando a cantar.

Silêncio confuso

Ria do sabor, do sagrado
Corra o espaço
Vire festa
Resmungue acordada do calor
Há espadas e há canções entre as rugas e entre os nós.


Venha viver
Venha rápido
Enquanto o sol cumpre promessas
E o Rio se espalha no olhar. 

Se você notar vai ver
Um espelho de puro amor
É tão simples de perceber como é ruim rimar sol com flor
E meu riso se diluiu
E notou outra rua,outro túnel
Enquanto eu ia nascer
Soberano no amor que procuro.

Ria!
Vem amor, venha rápido!
Que meu mundo é um frágil
Recuo do espaço pra voar
Enquanto rola a canção meu sorriso desenha o pó
Na esguelha de um sonho brincado
Respingando de mil fontes
De águas pintadas de você.

Como pude não perceber?
Rua cheia me faz chorar!
Muros secos me fazem ter medo meu de nunca brincar!
Acordei pra poder viver
E respiro o luar obtuso
É tão simples saber viver
E viver é um silêncio confuso.







segunda-feira, maio 04, 2009

Em vão vou crer


Gotas de arte, formas de arte
Mortes de arte
Ardores
Pintam luares
Fogem dos mares
Compram jornais e amores.

Respire a calma dos seus que eu espero
Dê-me a ciência do mundo alerta que construímos ausentes
Grite um som que morreu
Dê seu berro
Enquanto os seios oscilam alertas
Nesta nudez que mente.

É fogo depender de deus
Por isso berro
Querendo só perceber
Quanto de mundo é viver
Em vão vou crer.

Me cause amores



Espero perder meus sonhos de nascer
Em torno de aviões e itinerários
Rebuscando uma palavra pra entender
Amores e cidades que jazem sob meus lábios.


Repare no mar que não costura meu sonho zona sul
Repare o lugar onde Madureira me aprende a sorrir
Me faça colibri
Eu quero o rumo de ser sem senhor
Repare o lume de Lumiar
A cor das horas diante do mar
Me deixe correr na floresta
Me separe destes homens
Me mate as dores.

Espero aprender a rimar amor sem medo
Enquanto acuso flores de matarem cactos
Se a cor de meus olhos derretem sem dizer
Costumo preencher horrores sabendo o espaço
que cobre meu mar antes de saber-me lua azul
E onde está o bairro de Madureira
Pra eu saber fugir
E perceber assim
Um resmungo sonolento de amor
Um gesto brusco que me faça voar
Mundos e formas de luzir luar.

Me pinte outra cor na floresta
Cale a boca destes homens
Me cause amores.

Buscando sabores.


Me suponho sussurros na reinvenção das noites
Enquanto o que me consome
São ruas e vozes loucas
Toda a nudez que afaga as cores.

Me escondo em meus mundos
Perdido em paixões musicadas sem nomes
E reparo no sabor da fé que me escapa
Que me arrasa dominadora
Enquanto meus hidrantes respingam o olhar
Pintados nas alcovas de meus delírios banais.

E por isso procuro alvos nestas gentes
Pintadas de celofane
E crio monstros sem nome
Redigito o medo, a fome.

Espero dedos cruzados
Espero hordas de fados
Velhas guerras, velhas terras
Enquanto olho da janela um mundo devastado
Me mato por controle.

Se singro o sol dos mundos
Peço a amigos uma dica de TV
Faço hora esperando ao telefone
Leio livros usados, vejo quadros na tela dos meus ócios
Espero um som sem remorsos
Não espero ninguém.

Leia o medo nos astros
A morte dando de lado pelas eternas promessas
Na janela o mundo encerra o expediente extenuado
Morro sem controle.

Me calo olhando o fundo
De uma cena da TV
Perco a alegria dos descalços
Perco o amor
Perco o querer
Quero ir além
Voar em redes, laços.

Me dê conta dos recados
Me mostre o Rio escaldado
Entre as pernas das donzelas
Reina ela, a lua, a cela
Onde durmo calado
Buscando sabores.