sexta-feira, julho 25, 2003

Preservação da imagem X preservação da água


Claudia Mello Gonçalves*

Ainda fico impressionada ao encontrar pessoas em São Lourenço que simplesmente desconhecem o processo que se desenvolve por detrás do famoso “Muro da Nestlé”. São pessoas inteligentes, cultas, com formação e informação em relação a uma série de coisas, mas não em relação a este problema que afeta diretamente a sobrevivência da cidade.

Estas pessoas acreditam que estão trabalhando pela cidade, enquanto nós que defendemos as águas minerais estamos contra o desenvolvimento da cidade. É
impressionante, mas elas realmente acreditam nisto.

Hoje, aconteceu algo que me levou a refletir sobre este assunto mais uma vez. Uma empresária da cidade estava na redação do jornal onde trabalho, conversando, quando abriu a última edição e imediatamente se voltou para mim perguntando: “foi você que fez esta matéria sobre a Nestlé?”, respondi que sim. Torcendo o nariz, ela me repreendeu: “mas justo agora que estávamos querendo propor uma parceria à empresa?”

Esta pessoa é alguém que merece reconhecimento pelo seu trabalho profissional e social. Uma pessoa inteligente, papo bom, com visão ampla sobre negócios e administração moderna, sem os ranços que o interior ainda carrega. No entanto, é incapaz de compreender a razão pela qual estamos fazendo este “barulho todo”. Não compreende porque não parou para ler até hoje um resumo do que vem acontecendo, aliás, demonstrou total desconhecimento em relação à Pure Life e à água utilizada para sua fabricação.

As pessoas preferem não saber, assim, não precisam tomar uma atitude ou não ficam com dor na consciência por deixarem o barco correr e cuidarem dos seus negócios. Mas eu gostaria de lembrar a estas pessoas, em especial comerciantes e hoteleiros de algumas coisas, que talvez ainda não tenham sido analisadas.

O Rio de Janeiro é uma das cidades brasileiras mais visitadas, ainda hoje, com praias nordestinas, serras gaúchas e chapadas (qualquer uma delas) sendo tão divulgadas e aclamadas como alguns dos lugares mais belos do planeta. O fato do Rio ser uma cidade turística, em momento algum, fez com que a imprensa e as ONGs não denunciassem desde a volência e o poder do tráfico de drogas nos morros até os crimes ecológicos de grande escala, como vazamento de óleo na baía de Guanabara.

O turismo no Rio caiu por causa dos arrastões nas praias? Os turistas abriram mão do Carnaval carioca? Pelo que me consta, não, ou pelo menos não de forma a prejudicar o mercado turístico da cidade. Estrangeiros vêm de todos os cantos do mundo, enfrentar a violência urbana inexistente no seu país de origem, para se deliciar com as coisas que só o Rio tem (poderia até fazer campanha publicitária).

Então, porque o Cidadania pelas Águas e a imprensa local não podem divulgar o que a Nestlé vem fazendo aqui, sob o risco de afastar os turistas? A
verdade é que São Lourenço vem perdendo os seus atrativos por incompetência administrativa do Executivo, por falta absoluta de visão de grande parte dos comerciantes, por um egocentrismo mórbido de alguns hoteleiros e por total falta de criatividade de quem tem a possibilidade de reverter a situação. A briga contra a Nestlé é fichinha diante deste quadro.

Ao contrário, creio que muitas pessoas que não visitavam a cidade há anos, resolveram vir até aqui para ver o que estava acontecendo e até apoiar um movimento que se dispõe a defender a maior riqueza da cidade. E isto poderia
ser mais trabalhado, se as pessoas parassem de ter tanto medo e saíssem de cima de seus cofrinhos e conceitos arcaicos. Uma grande campanha nacional, chamando o turista para São Lourenço poderia se basear, justamente, no fato do risco que a cidade corre de a Nestlé esgotar as suas fontes. O famoso “venha beber água mineral antes que ela acabe” poderia ser trabalhado por especialistas em publicidade, transformando a frase em algo atrativo, que fizesse com que a cidade alavancasse o turismo ecológico, apesar de não possuir cachoeiras, praias e trilhas famosas, e, ao mesmo tempo, obtivesse mais aliados à sua ideologia ambientalista.

Não adianta tentar preservar a imagem da cidade, se a água está em risco. Não adianta preservar a imagem da cidade, se quando o turista chega aqui não existe uma estrutura adequada. Estamos querendo vender um engodo ou estamos querendo mostrar ao mundo o que de melhor temos a oferecer? Temos a melhor água do mundo, temos um dos climas mais perfeitos - com temperaturas e níveis de umidade bastante razoáveis, temos céu azul e sol na maior parte do ano. Além disto, temos todas as bênçãos de todos os místicos, indicando São Lourenço como um local especial, com uma energia única. Temos artistas de todas as áreas reconhecidos em seu talento, temos o charme da comida mineira, tão valorizada, na tradição das famílias.

Me pergunto porque ninguém juntou todos estes talentos naturais da cidade e
buscou viabilizar projetos turísticos DE VERDADE, ao invés de querer maquiar uma cidade que já é linda por natureza, só precisa desabrochar. Por que ninguém ouve os gritos desta moça-cidade que vem sendo violentada brutalmente por bombas que retiram de seu ventre o maior poder feminino existente: as águas da criação?

Assim como a Marina da música, São Lourenço já é bonita com o que Deus lhe deu. Não precisa que ninguém lhe preserve a imagem, só precisa que defendam a sua riqueza mineral, para que o resto flua como as águas em suas fontes.

* jornalista por formação, anarquista (graças a Deus!) por opção.


quarta-feira, julho 23, 2003

Isso é muito bom.

O corporativismo Feminino

Um das coisas que mais me surpreende é a facilidade como se dá o linchamento moral.

Muitas vezes percebemos pessoas que aqui e ali se sentem à vontade de jogar uma pedra no quengo de alguém, assim que,por menor conhecimento dos fatos tenha, uma pessoa tem uma conduta x que não concorda com o conceito Y que a outra tenha.

Explico.

Algumas vezes percebo muita gente falando em "amor Livre" etc, presos aind ano sonho, no íntimo, a uma idealização das relações,mas mesmo assim conduzem sua vida para o "amor livre" e quando ele chega se magoam. Normalmente isso é solucionável pelo próprio choque da realidade e não é o assunto de hoje.O que me deixa doidinho é a forma com que,normalmente as mulheres, a galera em volta tende a defender o caboclo do mesmo sexo julgando na maior cara de pau o bichinho do sexo oposto.

Se um homem defende o amor livre, a infidelidade,mas com o amor pela parceira e ela fica comoutro ele fica triste,mesmo tendo ele ficado tb. E seus companheiros normalmente colocam-na como piranha, e vice versa. Mas tem sempre um caboclo do grupo masculino que coloca os muchochos nalinha.Quando é com mulher,meu filho,o bicho pega. Menage pode,mas com a mulher sendo sincera ficante com outro ou outra e o homem sendo umfilho da puta, basta umerro de planejamento.

No fundo mesmo, nego quer príncipe encantado e quando ele cai do cavalo e vira gente cai depedra, não sabe conviver como real, não sabeoptar ou ser macha o suficiente pra bancar a escolha,é ingênua e egoísta e quer que os outros assim tb o sejam, e tem o apoio das companheiras, as infalíveis membras do sexo feminino.

Quer saber? Isso é de uma hipocrisia que dói.

sábado, julho 19, 2003

Liberalismo e Anarquismo

Fonte: Anarcko

Pode-se considerar o anarquismo como um desenvolvimento quer do liberalismo, quer do socialismo, quer dos dois. Como os liberais, os anarquistas querem a liberdade: como os socialistas, querem a igualdade. Mas só o liberalismo ou só o socialismo não os satisfaz. A liberdade sem igualdade significa que os pobres e os fracos são menos livres que os ricos e os fortes e a igualdade sem liberdade significa que somos todos escravos em conjunto. A liberdade e a igualdade não são contraditórias, mas complementares: em vez da velha polarização liberdade-igualdade segundo a qual mais liberdade significaria menos igualdade e vise-versa , os anarquistas fazem notar que, na prática, não se pode ter uma sem outra. A liberdade não é autêntica se alguns forem demasiado pobres ou demasiado fracos para dela gozarem e a igualdade não é autêntica se alguns forem governados por outros. A contribuição decisiva dos anarquistas para a teoria política é a constatação de que liberdade e igualdade são afinal de contas a mesma coisa.
O anarquismo diferencia-se também do liberalismo e do socialismo pela sua concepção do progresso. Os liberais vêem a história como um desenrolar linear que vai da selvajaria, da superstição, da intolerância e da tirania até a civilização, à cultura, à tolerância e à emancipação. Há avanços e recuos, mas o verdadeiro progresso da humanidade vai no sentido dum sombrio passado para um futuro radioso. Os socialistas vêem a história como um desenvolvimento dialéctico que passa pelo despotismo, pelo feudalismo e pelo capitalismo e vai até ao triunfo do proletariado e à abolição do sistema das classes. Há revoluções e reacções, mas o verdadeiro progresso da humanidade continua a ir dum triste passado para um belo futuro.
Os anarquistas consideram o progresso de maneira totalmente diferente, na realidade, consideram muitas vezes que não há progresso algum. Nós vemos a história não como um desenrolar linear ou dialéctico numa determinada direcção, mas como um processo dualista. A história de todas as sociedades humanas é a história duma luta entre governantes e governados, entre opulentos e miseráveis, entre os que querem comandar e ser comandados e os que querem libertar-se, assim como aos seus camaradas; os princípios de autoridade e de liberdade, de governo e de rebelião, de Estado e de sociedade estão em perpétuo conflito. Esta tensão nunca é resolvida; o movimento da humanidade vai tanto num sentido, como no outro. O nascimento dum novo regime ou a queda dum antigo não são rupturas misteriosas no desenvolvimento ou patamares de passagem ainda mais misteriosos nesse desenvolvimento são apenas acontecimentos. Os acontecimentos históricos só são bem vindos na medida em que aumentam a liberdade e a igualdade para toda a gente, não há nenhuma razão para chamar bom o que é mau, simplesmente porque é inevitável. Nós não podemos fazer nenhuma previsão útil para o futuro e não podemos estar certos que o mundo será melhor. A nossa única esperança é que, à medida que o conhecimento e a consciência se desenvolvem, as pessoas tornar-se-ão mais aptas para descobrirem que podem organizar-se sem necessidade de nenhuma autoridade.
Não obstante, o anarquismo deriva com certeza do liberalismo e do socialismo, ao mesmo tempo histórica e teoricamente. O liberalismo e o socialismo precederam o anarquismo e este nasceu da oposição daqueles; a maioria dos anarquistas foram primeiro liberais, ou socialistas, ou ambas as coisas. O espírito de revolta está raramente plenamente desenvolvido à nascença e geralmente leva mais ao anarquismo do que dele provem. Em certo sentido, os anarquistas permanecem sempre liberais e socialistas e, cada vez que rejeitam o que há de bom em cada uma dessas teorias, traem um pouco o anarquismo. Por um lado, apoiamo-nos na liberdade de expressão, de reunião, de movimento, de comportamento e particularmente na liberdade de se ser diferente; por outro lado, apoiamo-nos na igualdade das posses, na solidariedade humana e particularmente na partilha das possibilidades de decisão. Somos liberais, mas mais que isso; somos socialistas e mais que isso.
No entanto, o anarquismo não é apenas uma mistura de liberalismo e de socialismo; isso é a social-democracia, ou o capitalismo de abundância. Devamos nós o que devermos aos liberais e aos socialistas, por muito próximos deles que estejamos, somos fundamentalmente diferentes deles e dos sociais-democratas porque rejeitamos a instituição do governo. Todos contam com o governo: os liberais, ostensivamente, para preservarem a liberdade, mas na verdade para impedirem a igualdade; os socialistas, ostensivamente, para preservarem a igualdade, mas na verdade para impedirem a liberdade.
Mesmo os liberais e os socialistas mais extremistas não podem prescindir do governo, do exercício da autoridade por alguns sobre os outros. A essência do anarquismo, a única coisa sem a qual não há mais anarquismo, é a recusa da autoridade de um homem sobre outro.

A religião e a mitologia de Matrix

Fonte: Omelete
Por Érico Borgo
19/5/2003




Em 1999, Matrix sacudiu Hollywood com espetaculares efeitos especiais que revolucionaram o cinema de ação. Porém, muito mais que encher os olhos dos espectadores com seqüências de imagens jamais vistas na tela grande, o filme garantiu aos mais interessados material para um caloroso e interessante debate, algo que já dura quatro anos e promete se estender por décadas, a exemplo de outros grandes clássicos da ficção científica como 2001 - Uma odisséia no espaço (2001: A Space Odyssey, de Stanley Kubrick, 1968) ou Blade Runner - O caçador de andróides (Blade Runner, de Ridley Scott, 1982).

Dentre os aspectos mais empolgantes de Matrix estão a utilização de simbolismos religiosos como embasamento para as idéias propostas na história. Os enigmáticos irmãos Wachowski, criadores e diretores da série, nunca gostaram de comentar a esse respeito. Porém, num raro chat com os fãs há alguns anos, a dupla revelou que absolutamente todas as referências foram cuidadosamente plantadas e intencionais, incluindo todos os nomes de personagens, e que todas elas têm múltiplos significados. "Matrix é o resultado da soma de cada uma das idéias que já tivemos", disse Larry Wachowski.

É difícil não acreditar na afirmação depois de pesquisar um pouco sobre a mitologia existente no filme... um verdadeiro caldo de idéias filosóficas e religiosas.



Morpheus preparou a vinda do Messias

O que é a Matrix?

Antes de se aprofundar nos simbolismos que permeiam toda a série, é preciso lembrar da resposta para a pergunta essencial do filme: O que é a Matrix?

No filme, a Matrix é um mundo dos sonhos gerado por computador, um gigantesco sistema de realidade virtual que simula o nosso mundo como é hoje e conecta toda a humanidade adormecida, mantida sem consciência de sua própria realidade. Todas as pessoas do planeta (exceto um grupo de rebeldes que habita o subsolo da Terra) foram escravizadas há uma centena de anos, depois de uma sangrenta batalha que foi vencida por máquinas dotadas de inteligência artificial. Os humanos são utilizados como fonte primordial de energia pelas máquinas, impossibilitadas de usarem a energia solar, que não penetra mais na atmosfera (ver Animatrix - O segundo renascer).

Catolicismo em Matrix

As analogias de Matrix com as religiões começam fáceis. Boa parte das pessoas que viram o filme devem ter notado a presença de elementos cristãos na produção. Na mais óbvia delas, Neo (Keanu Reeves) morre, ressuscita e ascende aos céus. Jesus Cristo? Pode apostar que sim.

Neo é O Messias, O escolhido, aquele da qual falam as profecias e cuja vinda é preparada por Morpheus (Lawrence Fishburne), que por sua vez cumpre o papel no filme que na Bíblia é de João Batista. O personagem, cujo nome é o mesmo do deus grego dos sonhos (mais uma simbologia inteligente), aguarda pacientemente a vinda do Messias, que poderá submeter a Matrix às suas próprias regras, reprogramando-a a partir de dentro. Em outras palavras, realizar milagres.

A ligação de Neo com a figura do Messias cristão é reforçada no filme de inúmeras maneiras. "Aleluia! Você é meu salvador, cara. Meu Jesus Cristo particular", exclama Chad, um comprador de softwares ilegais de Neo, enquanto ainda era Thomas Anderson, um programador no mundo real. Na nave Nabucodonosor (batizada com o nome de um rei babilônico responsável pela destruição do templo de Jerusalém para colocar o povo de volta no verdadeiro caminho de Deus), a tripulação, maravilhada com os feitos de Neo, exclama com freqüência "Jesus Cristo" ou "Cristo". É no veículo também que está gravada a inscrição "MARK III nº11", referência messiânica do Evangelho de Marcos 3:11, que diz "E quando os espíritos impuros o viam, se jogavam gritando: `Tu és o filho de Deus`".

Depois de Neo, o nome Trinity (em português Trindade) - que significa o conceito de Pai/Filho/Espírito Santo - sugere outro elemento católico. Todavia, tem implicações mais profundas, que derivam do significado convencional da palavra, algo justificado no primeiro diálogo da personagem com o escolhido: "Você é A Trinity? Jesus... é que pensei que fosse um homem", diz surpreso Neo. "A maioria dos homens pensa assim", revela a hacker, sugerindo que a utilização de seu nome não deriva da maior fé em atividade no planeta, na qual a trindade é essencialmente masculina. Mãe, filha e espírito santo? As feministas devem ter delirado. ;-)


Trinity - Mãe, filha e espírito santo

Merecem destaque ainda o fato da primeira Matrix ter sido concebida como um lugar ideal - um paraíso - que foi rejeitado pelos humanos (a história de Adão e Eva) e os nomes Apoc (abreviação de Apocalipse), Zion (Sião, a Terra Prometida para os judeus) e, o mais interessante, Cypher (interpretado por Joe Pantoliano) - cujos atos refletem a traição de Judas na Bíblia. Cypher, que quer dizer "codificador", também espelha a natureza do personagem: alguém que não pode ser decodificado/entendido.

Gnosticismo
Porém, apesar dos elementos descritos acima serem essencialmente cristãos, a analogia entre o sistema da Matrix e as crenças religiosas pouco se utiliza dessa fé. A fundamentação para o funcionamento da câmara de sonhos parece mais calcada nas filosofias gnóstica e budista, em eterno questionamento da realidade como a vemos.

O gnosticismo foi uma sistema religioso que floresceu entre os séculos II e V e tinha seus próprios rituais e escrituras, sendo a principal delas o Evangelho de Tomás. No mito gnóstico, o Deus Supremo é absolutamente perfeito, reside no paraíso, e abaixo dele estão outros seres divinos - sem gêneros distintos -, que têm o poder de gerar herdeiros, também divinos e perfeitos, quando unidos em par. Todavia, quando um deles - Sophia - decide dar à luz uma entidade sem o auxílio de outra divindade, surge Yaldabaoth - um herdeiro aberrante, imperfeito, que é jogado fora numa região separada do universo. Tal divindade solitária acaba acreditando que é o único Deus existente e decide criar anjos, a Terra e as pessoas. Tal decisão acaba privando os humanos - também criações divinas - de seu reino de direito, o paraíso, mantendo-os presos num mundo material terrível.

As referências ao gnosticismo em Matrix vão além do simples fato de que os humanos são tratados como prisioneiros em um mundo no qual não escolheram viver - e do qual precisam despertar. As próprias inteligências artificiais parecem refletir o deus aberrante criado por Sophia. Os robôs pensam e existem, mas não têm espíritos. Como Yaldabaoth, criam sua própria raça e mundo - a Matrix. É só quando Neo toma consciência da fragilidade desse mundo imperfeito e de sua condição de entidade divina que consegue quebrar as regras e passa a operar milagres, tornando-se o salvador de sua raça. Vale notar também que Thomas Anderson - o nome de batismo de Neo - significa ANDER (homem) + SON (filho), ou seja, filho do Homem; e Thomas ou Tomás é o nome do autor do Evangelho fundamental do gnosticismo.

Alguns autores vão ainda além e atribuem parte da própria criação do efeito bullet time (aquelas seqüências congeladas baseadas nos animês e HQs, nas quais a câmera dá até uma volta 360º ao redor dos objetos em cena) ao gnosticismo. É que nos mitos dos gnósticos, as divindades mais elevadas conseguem tornar-se imóveis e silenciosas, sem qualquer medo, através de concentração e meditação. "Concentre-se, Trinity", pede Morpheus à sua aliada em determinado momento do filme.

Todavia, concentração e imobilidade também são encontradas em outra filosofia religiosa cuja presença é maciça no filme - o budismo.

O budismo em Matrix
Logo depois de ser proclamado o "Jesus Cristo particular" de seu comprador, Neo lembra-o que aquela transação é ilegal, ao que ele responde: "Isso nunca aconteceu. Você não existe". Trata-se da idéia budista da Vacuidade ou Vazio: a não-realidade do indivíduo e dos fenômenos, prenúncio precoce do que ainda está por vir.

Matrix reflete nas telas o Samsara, o ciclo budista de morte e renascimento no qual a existência é considerada uma ilusão, palco de sofrimento e a frustração engendrados pela ignorância e pelas emoções conflituosas. Através de meditação, os monges budistas têm como objetivo escapar desse ciclo, atingindo a iluminação, o estado além do sofrimento.

Um "iluminado" na Matrix
Também conhecida como Budeidade - estado que requer generosidade, disciplina, paciência, perseverança, concentração e o conhecimento transcendente - a busca é a meta de Morpheus para Neo. O capitão da Nabucodonosor já está desperto e optou por auxiliar outros a despertarem, ao invés de desfrutar de sua própria iluminação. No jargão budista ele representa um Bodhisattva e vê em Neo (anagrama para "One" - Um, único) algo mais que um semelhante... alguém que é a reencarnação do humano que no passado transcendeu o conhecimento e controlou a Matrix.

A idéia é reforçada em pelo menos três passagens de morte/renascimento. A primeira é a vida de Thomas Anderson. A segunda é o despertar de Neo para a vida real em seu útero mecânico na Matrix. A última é a "morte" de Neo nos dois mundos e seu renascimento como um novo ser, capaz de reprogramar a realidade da Matrix. O sistema de reencarnação também é sugerido na explicação do funcionamento da Matrix. Nela, os humanos mortos são liquefeitos e usados para alimentar os demais... num eterno ciclo de reaproveitamento.

Todavia, um importante ideal budista não é respeitado no filme. Trata-se da doutrina da não-violência, na qual é ensinada que nenhuma vida deve ser prejudicada. Obviamente, um filme de ação não sobreviveria em Hollywood sem tiros, armas e mortes, numa triste constatação que a iluminação ainda está bem longe de ser alcançada por nós.

Reloaded

Todas as informações acima meramente arranham os simbolismos religiosos em Matrix. Há dezenas de outras menções mitológicas/religiosas, algumas simples - como a inscrição "Conhece-te a ti mesmo", do Oráculo de Delfos, na casa da Oráculo - e outras paradoxais - Zion é sugerido como o Paraíso, mas fica nas profundezas ardentes do planeta, onde seria o Inferno. O fato dos humanos terem arruinado o próprio planeta e serem responsáveis diretos pelo caos do futuro também faz pensar...

Em Matrix Reloaded, segundo filme da série, algumas das idéias até dispostas são reforçadas. Neo, por exemplo, experimenta a vida do Messias e tem até mesmo seguidores! Surgem também outras idéias, novas e ainda mais complexas, enquanto outras, que o público parecia finalmente ter entendido, caem por terra de maneira chocante. Enfim, uma análise completa das referências religiosas da saga só será possível no final do ano, com o lançamento de Matrix Revolutions, e depois de algumas sessões e muita conversa sobre a saga. Será uma longa espera até novembro.

Matrix Reloaded: O diálogo entre Neo e o Arquiteto

Fonte: Omelete

Por Roberto Tietzmann
27/5/2003


Neo na sala do Arquiteto

Ficou meditando sobre o que o Arquiteto falou para o Neo em Matrix Reloaded? Pior, boiou do início ao fim? Você não precisa voltar ao cinema só para rever aquele discussão.

Economize uma grana e fuja das filas lendo agora uma tradução baseada numa destas transcrições em inglês que circulam pela Net.

Mas atenção! Não leia o texto abaixo se você ainda não assistiu ao filme!




O diálogo entre Neo e o Arquiteto


O Arquiteto - Olá, Neo.

Neo - Quem é você?

O Arquiteto - Eu sou o Arquiteto. Eu criei a Matrix. Eu estava à sua espera. Você tem muitas perguntas, e embora o processo tenha alterado sua consciência, você continua irrevogavelmente humano. Assim sendo, algumas de minhas respostas você entenderá, e outras não. Em consonância, ainda que sua primeira pergunta possa ser a mais pertinente, você pode ou não se dar conta de que ela é também irrelevante.

Neo - Por que eu estou aqui?

O Arquiteto - Sua vida é a soma do saldo de uma equação desequilibrada inerente à programação da Matrix. Você é o desenlace de uma anomalia, que, a despeito de meus mais sinceros esforços, fui incapaz de eliminar daquela, caso conseguisse, seria uma harmonia de precisão matemática. Ainda que continue a ser uma tarefa árdua diligentemente evita-la, ela não é inesperada, e portanto não está além de qualquer controle. Fato este que o trouxe, inexoravelmente, aqui.

Neo - Você não respondeu à minha pergunta.

O Arquiteto - Exatamente. Interessante. Foi mais rápido do que os outros.

*As respostas dos outros Predestinados aparecem nos monitores: Outros? Que outros? Quantos? Me responda!'*

O Arquiteto - A Matrix é mais velha do que você imagina. Eu prefiro contar a partir do surgimento de uma anomalia integral para a seguinte. Neste caso, esta é a sexta versão.

*De novo, as respostas dos outros Predestinados aparecem nos monitores: Cinco versões? Três? Mentiram pra mim também! Isso é conversa fiada.*

Neo - Só há duas explicações possíveis: Ou ninguém me disse ou ninguém sabe.

O Arquiteto - Precisamente. Como, sem dúvida, você está percebendo, a anomalia é sistêmica, criando flutuações até mesmo nas equações mais simples.

* Mais uma vez, as respostas dos outros Predestinados aparecem nos monitores: Você não pode me controlar! Vai se f*&%#! Eu vou te matar! Você não pode me obrigar a fazer nada!*

Neo - Escolha. O problema é a escolha.

*A cena corta para Trinity lutando com um agente e volta para a sala do Arquiteto.*

O Arquiteto - A primeira Matrix que eu projetei era evidentemente perfeita, uma obra de arte, impecável, sublime. Um triunfo equiparado apenas ao seu fracasso monumental. A inevitabilidade de sua ruína é tão evidente para mim agora quanto é uma conseqüência da imperfeição inerente a todo ser humano. Assim sendo, eu a redesenhei com base na história de vocês para refletir com maior precisão as variações grotescas de sua natureza. Todavia, mais uma vez, eu fui frustrado pelo fracasso. Desde então, compreendi que a resposta me escapava, porque ela necessitava de uma mente inferior, ou talvez uma mente menos afeita aos parâmetros da perfeição. Portanto, a resposta foi encontrada, por acaso, por outrem, um programa intuitivo, inicialmente criado para investigar certos aspectos da psique humana. Se eu sou o pai da Matrix, ela sem dúvida seria a mãe.

Neo - A Oráculo!

O Arquiteto - Oh, por favor... Como eu dizia, ela se deparou por acaso com uma solução por meio da qual quase 99,9% de todas as cobaias aceitavam o programa, contanto que lhes fosse dada uma escolha, mesmo que só estivessem cientes dela em um nível quase inconsciente. Embora esta resposta funcionasse, ela era óbvia e fundamentalmente defeituosa, criando, assim, a anomalia sistêmica contraditória, a qual, sem vigilância, poderia ameaçar o próprio sistema. Por conseguinte, aqueles que recusavam o programa, ainda que uma minoria, se não vigiados, constituiriam uma probabilidade crescente de catástrofe.

Neo - Isso tem a ver com Zion.

O Arquiteto - Você está aqui, porque Zion está prestes a ser destruída. Cada um de seus habitantes será exterminado, sua inteira existência erradicada.

Neo - Papo furado!

* De novo, as respostas dos outros Neos aparecem nos monitores: Papo furado!*

O Arquiteto - A negação é a mais previsível de todas as reações humanas. Todavia, não tenha dúvida, esta será a sexta vez que a destruiremos, e estamos nos tornando extremamente eficientes nesta tarefa.

*A cena corta para Trinity lutando com um agente e volta para a sala do Arquiteto.*

O Arquiteto - A função do Predestinado agora é retornar à fonte, permitindo uma temporária disseminação do código que você carrega, reinserindo o programa principal. Em seguida, você receberá a incumbência de escolher 23 indivíduos - 16 mulheres e 7 homens - da Matrix a fim de reconstruir Zion. Em caso de discordância deste processo, o resultado será um crash de sistema cataclísmico, matando todos aqueles conectados com a Matrix, o que, somado ao extermínio de Zion, em última análise, acarretará a extinção da raça humana.

Neo - Você não deixará isso acontecer. Não pode. Vocês precisam dos seres humanos para sobreviver.

O Arquiteto - Há níveis de sobrevivência que estamos preparados para aceitar. Todavia, a questão relevante é se você está ou não apto para aceitar a responsabilidade pela morte de todos os seres humanos deste mundo.

*O Arquiteto pressiona um botão na caneta que segura e aparecem, nos monitores, imagens de pessoas de toda a Matrix.*

O Arquiteto - É interessante ler suas reações. Seus cinco predecessores eram, por conta de seu projeto, baseados em uma mesma premissa, uma afirmação contingente responsável por criar um profundo vínculo com o resto de sua espécie, facilitando a função do Predestinado. Enquanto os outros experimentaram isto de maneira genérica, sua experiência é bem mais especial. Vis-à-vis, amor.

*Imagens da Trinity lutando com o agente que apareceu no sonho de Neo tomam os monitores*

Neo - Trinity.

O Arquiteto - A propósito, ela entrou na Matrix para salvar sua vida ao custo da própria.

Neo - Não!

O Arquiteto - O que nos traz finalmente ao momento da verdade, em que a falha fundamental é definitivamente expressa e a anomalia revela ser tanto o começo quanto o fim. Há duas portas. A à sua direita leva para a fonte e a salvação de Zion. A à sua esquerda leva para a Matrix, para ela [Trinity] e o fim de sua espécie. Como você com muita propriedade manifestou, o problema é a escolha. No entanto, nós já sabemos o que você fará, não é mesmo? Já posso ver a reação em cadeia, os precursores químicos que sinalizam o raiar da emoção, projetados especificamente para sobrepujar a lógica e a razão. Uma emoção que já o cega para a verdade simples e óbvia: ela vai morrer e não há nada que você possa fazer para impedir.

*Neo caminha em direção à porta da esquerda.*

O Arquiteto - Humff. Esperança. Eis a quintessência do delírio humano, ao mesmo tempo fonte de sua maior força e de sua maior fraqueza.

Neo - No seu lugar, eu torceria para que nós não nos encontremos de novo.

O Arquiteto - Nós não nos encontraremos.

Fim do diálogo.

Continua boiando? Leia nossa análise dos pontos cruciais do filme. Clique aqui.

A Marvel e sua fórmula de sucesso

Piolhices e afins
Por Rodrigo "Piolho" Monteiro
20/6/2003






Constantine

Depois de assistir a Demolidor e X-Men 2, ficou mais clara minha idéia a respeito das recentes adaptações da Marvel Comics para o cinema. Desde o primeiro Blade, a editora, que, por décadas, nos "presenteou" com versões cinematográficas dignas do velho Contos de Thunder - antigo programa da MTV no qual Thunderbird apresentava filmes tão trash, que fariam Ed Wood parecer um Spielberg - parece ter entrado nos eixos.

A fórmula do sucesso é pra lá simples: estrelas são tratadas como estrelas, coadjuvantes como coadjuvantes. Em outras palavras, as personagens do primeiro escalão (Homem-Aranha, X-Men, Hulk) são tratadas a pão de ló, têm orçamento de blockbuster, elenco, diretores e produtores de primeira e, principalmente, um roteiro o mais fiel possível aos quadrinhos. O que dá pra ficar é mantido; o que não dá (tem complicações que não funcionam na tela grande) é modificado. Foi o caso de Homem-Aranha, X-Men e, esperamos, do Hulk.

Já o segundo e o terceiro escalão (Demolidor, Justiceiro e Blade) têm um orçamento mais modesto, com elenco menos glamouroso, mas não menos competente. A grande diferença, no entanto, sobra pro roteiro. Aí, a Marvel faz mais concessões. É quase como uma adaptação livre dos gibis.

Tais "adaptações livres", às vezes, saem melhor do que a encomenda. O protagonista ganha mais em todos os aspectos. Blade é um exemplo. Eterno coadjuvante nos quadrinhos e séries animadas da Marvel, o caçador de vampiros tornou-se mais tridimensional ao ser interpretado por Wesley Snipes. Antes, o coitado estava jogado às moscas. Depois, a Marvel até lhe deu mais uma chance com um título no selo MAX. Tudo bem que o gibi foi cancelado antes do primeiro ano, mas vocês entenderam o que estou dizendo... (Cacilda, tem nego que não perdoa umazinha!!)

A DC e sua atual fórmula de fracasso



Se, por um lado, a Marvel aprendeu com seus erros, a editora DC Comics parece decidida a seguir o caminho oposto. Os executivos da Warner/DC devem ter titica na cabeça. Como é que pode os caras marcarem tanta touca diante do sucesso da concorrência?

Atualmente, há quatro projetos da DC engatilhados: Super-Homem, Batman, Mulher-Gato e Constantine. Pra cada notícia relacionada ao filme que anime aos fãs dessas personagens, aparecem pelo menos uma meia-dúzia de arrepiar. No caso do Super, por exemplo, o número de notícias assustadoras, que culminaram com o boato a respeito da escalação de Justin Timberlake para vestir a capa do azulão, é infinitamente superior ao de alvissareiras. Na verdade, desde que "Super-Homem, a novela" começou, a única novidade que animou a todos foi o fato do tenebroso primeiro roteiro da produção ter sido recusado pelos executivos da Warner. Duvida que era tenebroso? Então clique aqui e descubra, por sua própria conta e risco, do que falo.

O que me deixa ainda mais impressionado no caso do Super é que, se por um lado, a Warner/DC tenta recuperar a popularidade do kryptoniano um dia deteve nos quadrinhos e na tv (Smallville), por outro, parece determinada a afundar de vez sua franquia cinematográfica. Vai entender...

No caso de Batman, a bagunça não fica atrás. A cada dia, surge um novo boato ou notícia. Em muitos casos, uma novidade conflita com a anterior. Não seria melhor, então, essa turma ir pra um cantinho e ficar por lá até a vontade de ressuscitar a franquia do morcego passar. Nem a confirmação de David Goyer (Blade, Hellboy) como roteirista e diretor da película me deu esperanças.

A Mulher-Gato é um pouco diferente. Mesmo tendo Halle Berry (X-Men) como protagonista, o francês Pitof, diretor da película, pelo visto, vai radicalizar o conceito de "adaptação livre". Segundo recentes declarações suas, o filme não se passa em Gotham City, Batman não será sequer mencionado e a Mulher-Gato não é uma ladra. Só falta dizer que o alter ego dela não será Selina Kyle e que nem vai se chamar Mulher-Gato.

Constantine, por sua vez, é o que dá mais medo. O filme é, teoricamente, baseado no título John Constantine: Hellblazer, que traz as desventuras do cultuado mago inglês criado por Alan Moore para ser coadjuvante no gibi do Monstro do Pântano. Digo teoricamente, porque, até onde se sabe, o protagonista do filme será interpretado por Keanu Reeves (Matrix), John será transformado em americano e, pra avacalhar de vez o barraco, o filme terá censura livre. Nos Estados Unidos o gibi é publicado pela Vertigo, linha de títulos da DC Comics voltado para o público adulto (no Brasil, depois de uma tumultuada história editorial, o título estabeleceu uma moradia na Brainstore). Deu pra ter uma idéia da lambança?

Estou torcendo pra DC tomar um prejuízo medonho com todos esses "projeeeeecas", maior ainda do que o do escabroso Batman & Robin. Quem sabe aprendem?

As boas séries da FOX



Se existe um canal que faz valer a pena a mensalidade da TV a cabo é o Fox.

Impressionante como esse canal - mais ainda do que seus similares Sony e Warner - emplaca uma série boa atrás da outra a cada nova temporada. Em 2001, foi Boston public; ano passado foi a ótima 24 horas. As duas gozam de plena saúde e estão, respectivamente, na terceira e segunda temporada.

Em 2003, com a ameaça de cancelamento de dois dos carros-chefes do canal, Buffy, a caça vampiros e Angel, a Fox voltou suas baterias para promover uma nova série de Joss Whedon, o criador dos sucessos vampirescos: Firefly. Infelizmente, sabe-se lá por que, o programa foi superestimado, tendo sido cancelada antes completar sua primeira temporada. Os executivos da matriz americana não gostaram dos índices de Firefly. Pelo visto, os fãs de Buffy e Angel não se ligaram muito nos aventureiros espaciais. No Brasil, o horário de exibição (sábado, 20:00 hs) também não ajuda muito.

No entanto, enquanto a Fox promovia Firefly e suas séries já consagradas, outra produção, que não inspirava muita confiança, foi avançando pelas beiradas e mostrou ser uma das mais inteligentes aventuras da última temporada: John Doe.

John Doe mescla elementos da falecida Arquivo X com as mais bem boladas histórias policiais. O protagonista é um homem que, certo dia, aparece em uma ilha no meio do oceano. Nu, sozinho, é resgatado por um barco pesqueiro. Ao chegar ao continente, descobre que não se lembra de nada a seu respeito. A única pista que tem sobre seu passado é uma estranha marca no peito. Todavia, há algo estranho em John Doe (termo que, nos Estados Unidos, serve para designar indigentes, pessoas e cadáveres não identificados). Apesar de não saber nada sobre si, sabe tudo a respeito de todo o resto. E por "tudo", entenda-se literalmente tudo. De alguma forma, o cérebro de John Doe foi dotado de todo o conhecimento registrado pela humanidade desde o início dos tempos até os dias atuais e o processo não pára. Não há tópico que ele não domine, desde número de gomos presentes em uma bola de golfe até as mais modernas teorias da física quântica.

Munido desse infindável arsenal de conhecimento, Doe parte tenta juntar as peças de seu passado. Nesse meio tempo, ajuda a polícia local a desvendar os mais intrincados crimes, encarnando um detetive que, ao meu ver, mescla a genialidade de McGiver, as deduções um Sherlock Holmes e os poderes do Cifra, aquele membro dos Novos Mutantes que podia falar qualquer idioma apenas ouvindo poucas palavras. Sensacional! E espero que, ao contrário de outras séries promissoras canceladas prematuramente, como a ótima Brimstone, Doe tenha uma sobrevida longeva.

Chega, né? Mês que vem eu volto.

A "Piolhices & Afins" desse mês foi escrita ao som de Heart of darkness, dos alemães do Grave Digger e de Vampire (or dark faerytales in Phallustein), do Cradle of Filth

Reflexões do Vigia: Como perder um leitor e influenciar pessoas

Fonte: Omelete
Por Uatu, o vigia




Por Uatu, o vigia
19/10/2001

O lançamento da série Ultimate (aqui chamada de Marvel Século 21) trouxe uma proposta ambiciosa: recomeçar do zero a cronologia dos personagens, renovar o público de leitores e atualizar os personagens para este século.

Fato: Eu gosto da série Ultimate. De verdade. Mas lembra do menino que falei no último artigo, que tem um Playstation em casa e decidiu se aventurar no mundo dos quadrinhos?

O nome dele é Paulinho e tem 10 anos.

Paulinho acabou de alugar o filme dos X-Men e achou "iraaaado".

Ele vai até a locadora, devolve o DVD e então quer saber mais sobre os X-Men, que até o momento ele pensava que se chamavam "Xis-Méim". Já que ele tá lá mesmo, ele pega uns episódios do desenho animado para ver o que rola...

Aí ele chega em casa, assiste... e os X-Men não tem nada a ver com os personagens que ele viu no filme. O Wolverine usa um infame colant amarelo, todos os personagens usam cores berrantes e uniformes "da hora".

Aí começou a confusão. Mas Paulinho, pacientemente assiste aos desenhos até o fim e acha legal.

Ele desliga o vídeo e, graças a seu pacote ultra-fuckin’-master de TV por assinatura, assiste ao desenho X-Men: Evolution.

O Wolverine, o mesmo da roupa (e cuecão?) de couro ou collant amarelo, agora usa um collant laranja e é o professor da turma. Ciclope é um adolescente e, por toda a tela, começam a surgir mutantes de tudo quanto é cor e nome diferente.

Paulinho começa a achar estranho... como formador de opinião em sua classe, ele imagina que vai ser difícil convencer seus amigos a gostar dos X-Men. Ele mesmo já não sabe se gosta tanto assim...

Bom, ele vai até a banca, e compra duas revistas: X-Men e Marvel Século 21, da editora Abril. Chega em casa e....

"Wolverine é vilão? Mas peraí! Ele não era herói? Não usava collant amarelo? Laranja? Mas nessa outra revista que comprei, ele é herói e..."

"Ah, quer saber?"

Paulinho joga a revista fora e, condizentemente com o vocabulário de um garoto de dez anos, diz "FODA-SE, NÃO QUERO MAIS LER ESSA MERDA".

Ele liga a TV, assiste Dragon Ball Z. No dia seguinte, compra o mangá que, mesmo em preto e branco e leitura invertida, é extremamente divertido e "muito mais legal" que os tais dos Xis-Méim. Porque é fácil de entender. Porque é disso que seus amigos na escola falam. Porque os personagens não tem 7 ou 8 versões e histórias diferentes.

E, lamento informar, perdemos mais um leitor que, pelos próximos 2 anos da sua vida, vai passar muito longe de qualquer revista em quadrinhos. Aos 13, ele descobrirá algo que gibi nenhum jamais vai substituir (ou pelo menos, jamais deveria): as meninas (ou meninos, mas isso é outra história). E, é claro, depois disso, ele nunca mais vai ler nada... pelo menos até a época do vestibular, quando ele vai ler de tudo, menos gibi.

O GRANDE PROBLEMA das revistas e propriedades da Marvel é esse. Vivem tentando consertar o que não está quebrado, reformula isso, reformula aquilo. Enquanto isso, um público em potencial se perde pelo simples fato de que não dá pra pegar UMA revista do Homem-Aranha e entender o que acontece, sem ter que ler a edição anterior e também a próxima.

Renovar o público não é o mesmo que renovar o personagem. Renovar o personagem é fácil. Põe a Tia May pra acessar a Internet (aliás, quando foi a última vez que você, caro leitor, ouviu sua tia de cabelos grisalhos dizer: "Vou pesquisar isso na Web!"?). Bom, acho que minha família é que é estranha, porque hoje em dia até a Dona Benta acessa a tal Rede Mundial de Computadores e a minha tia, não.

A série Ultimate é legal? É! Eu li, você leu, e achamos tudo muito legal! Histórias legais, desenhos legais (com exceção do Mark Bagley, que nunca engoli), sem dúvida um produto muito bom para FÃS.

E FÃS, logo depois do terrorismo e armas bacteriológicas, são o grande mal que aflige a humanidade.

Note, o Paulinho não sabe que, apesar da Jean gostar do Ciclope ela tem uma queda pelo Wolverine. Ao invés de causar impacto (o que certamente acontecerá com os fãs), ele vai ficar confuso ao ver Wolverine sendo amante de Jean Grey. Percebe?

Linha Ultimate, Marvel 2099, Marvel isso, Marvel aquilo... nada disso nunca vai funcionar enquanto o Paulinho não entender exatamente o que está acontecendo. Para nós, FÃS, é legal ver um NOVO Duende Verde, um NOVO ELEKTRO, uma NOVA origem para o Homem-Aranha. Mas e pro coitado do Paulinho, que nem a velha ele conhece?

A refletir...

Uatu agradece aos e-mails elogiando sua última crônica, e pede que os editores e roteiristas de HQs lembrem-se sempre do Paulinho.

UATU arrasa os f?s

Fonte: Omelete
Por Uatu, o vigia


5/3/2002
Há cerca de um ano e meio, recebi um presente de um amigo: o livro O hobbit, de JRR Tolkien. Foi um pouco antes da febre em torno de O senhor dos anéis começar em virtude do blockbuster de Peter Jackson.

Comecei a leitura empolgado, e, apesar do começo um tanto quanto confuso (muitos nomes, muitos personagens, "mas desencana, que depois você entende tudo", disse um outro amigo), confesso que me diverti um bocado. No entanto, entre o final do livro e o começo de A sociedade do anel, uma espécie de efeito mágico me atingiu, e passei a ver o mundo de outra forma.

Sim, caro leitor. Tudo mudou na hora em que percebi como um simples livro, escrito por um excelente contador de fábulas, tornou-se a filosofia de vida de milhões de pessoas aparentemente vazias e confusas. Pessoas que, após a leitura, decidiram aprender a falar élfico; a colecionar anéis com uma rima pobre "Um anel para todos..."; a se tatuar com a maldita inscrição. Gente que, por incompetência ou falta de personalidade, destoou o talento criativo de Tolkien, transformando sua fábula numa bizarra visão do mundo real.

Uma coisa é você ler um livro, entrar na história, emocionar-se, vibrar com a capacidade humana de transmitir emoções, paisagens, rostos e cheiros através de palavras impressas em papel. Outra, é ver um bando de desocupados de vinte anos vestidos de elfos, hobbits e afins, com suas irritantes espadas e anéis, pulando de lá pra cá como crianças de seis anos imitando o He-Man.

Toda febre é assim. Trekkers, Jedis, Exxers, Otakus, Macmaníacos, Marvetes e DCNautas provam, cada vez mais, a pobreza de espírito de algumas pessoas que esperam preencher vazios existenciais com obras de ficção puramente comerciais com, no máximo, dois dedos de talento e um bocado de clichês.

Vamos aos fatos: tem gente se casando em élfico. Marmanjos de vinte anos brigando por que uns gostam mais de Dragon Ball Z, outros de Cavaleiros do Zodíaco (leia aqui). Teve até editor de revista que se socou por causa disso. Pessoas com mais de cem quilos vestidas de Sailor Moon andando na rua (e o que é pior, pessoas de ambos os sexos). Tem ainda os extremos, como gente que “odeia” o Figa (Editor da Abril) - aqui -, o Jotapê (Via Lettera) - aqui - e o Yabu (criador dos Combo Rangers) - aqui -, ou o pobre jornalista, a essa altura, morto e sepultado, que cometeu o sacrilégio de criticar A sociedade do anel (leia aqui). Sim, eles são odiados pura e simplesmente pelo gosto literário ou editorial. Injustificável e infantil.

E me pergunto: “Por quê?”

O que leva as pessoas a trocar suas vidas reais por essa fantasia que, se perdurasse apenas até o começo da adolescência, seria saudável e divertida?

Movimentos como "Vamos salvar o programa X", "Vamos salvar o desenho Y", "Vamos matar o editor que cortou a página do meu gibi!" espalham-se pela Internet. Num país onde 23 milhões de pessoas passam fome, considero injustificável tantos usando sua energia e tempo livre por razões tão pífias quanto... gibis ou filmes de ficção.

Atitudes como essas servem para mostrar como uma fantasia saudável, aliada a pessoas com auto-estima negativa e problemas de relacionamento social, gera indivíduos vazios e simplistas.

E, por definição, perigosamente manipuláveis.

A se pensar.

UATU, que provavelmente será o próximo a ser odiado.

Leitura indicada: OTAKU OS FILHOS DO VIRTUAL por Étienne Barral

This is my new blogchalk:
Brazil, Minas Gerais, São Lourenço, Centro, Portuguese, English, Gilson, Male, 26-30, Anarquismo, Música e Ecologia. :)

sexta-feira, julho 18, 2003

O OBJETIVO DOS ANARQUISTAS-La Questione Sociale, 1899



Errico Malatesta


O que devemos fazer?

Tal é o problema que se nos apresenta, a nós e a todos aqueles que querem
realizar e defender suas idéias, a todo o momento em sua vida militante.

Queremos abolir a propriedade individual e a autoridade, isto é, expropriar
os proprietários da terra e do capital, derrubar o governo, e colocar à
disposição de todos a riqueza social, a fim de que todos possam viver a seu
modo, sem outros limites senão aqueles impostos pelas necessidades, livre e
voluntariamente reconhecidas e aceitas. Em resumo, realizar o programa
socialista-anarquista. E estamos convencidos (a experiência cotidiana nos
confirma) que se os proprietários e o governo dominam graças à força física,
devemos, necessariamente, para vencê-los, recorrer à força física, à
revolução violenta. Somos, portanto, inimigos de todas as classes
privilegiadas e de todos os governos, e adversários de todos aqueles que
tendem, mesmo de boa fé, a enfraquecer as energias revolucionárias do povo e
a substituir um governo por outro.

Mas o que devemos fazer para estar em condições de fazer nossa revolução, a
revolução contra todo privilégio e toda autoridade, e triunfar?

A melhor tática seria fazer, sempre e em todos os lugares, propaganda de
nossas idéias e desenvolver no proletariado, por todos os meios possíveis, o
espírito de associação e de resistência, e suscitar cada vez maiores
reivindicações; combater continuamente todos os partidos burgueses e todos
os partidos autoritários, permanecendo indiferentes a suas querelas;
organizar-nos com aqueles que estão convencidos ou se convencem de nossas
idéias, adquirir os meios materiais necessários ao combate e, quando formos
uma força suficiente para vencer, lançarmo-nos sós, por nossa conta, para
efetuar por completo nosso programa, mais exatamente, conquistar para cada
um a liberdade total de experimentar, praticar e modificar pouco a pouco o
modo de vida social que se acreditava ser o melhor.

Todavia, infelizmente, esta tática não pode ser aplicada de modo rigoroso e
é incapaz de alcançar seu objetivo. A propaganda possui uma eficácia
limitada, e em um setor absolutamente condicionado de forma moral e material
para aceitar e compreender certo tipo de idéias. As palavras e os escritos
são pouco poderosos enquanto uma transformação do meio não conduzir o povo à
possibilidade de apreciar estas novas idéias. A eficácia das organizações
operárias é igualmente limitada pelas mesmas razões que se opõem à extensão
indefinida de nossa propaganda, e não somente por causa da situação
econômica e moral que enfraquece ou neutraliza por completo os efeitos da
tomada de consciência de certos trabalhadores.

Uma organização vasta e forte, na propaganda e na luta, encontra mil
dificuldades: nós mesmos, a falta de meios, e principalmente a repressão
governamental. Mesmo supondo que seja possível chegar, pela propaganda e
pela organização, a fazer nossa revolução socialista-anarquista, há todos os
dias situações políticas onde devemos intervir sob pena de perder vantagens
para nossa propaganda e toda a influência sobre o povo, arriscar destruir o
trabalho realizado e tornar mais difícil o futuro.

O problema é, portanto, encontrar o meio de determinar, na medida do
possível, as mudanças de situação necessárias ao progresso de nossa
propaganda e aproveitarmos as rivalidades entre os diferentes partidos
políticos, cada vez que a oportunidade se apresentar, sem renunciar a nenhum
postulado de nosso programa, para facilitar e aproximar o triunfo.

Na Itália, por exemplo, a situação é tal que é impossível, a maior ou menor
prazo (1899), que haja uma insurreição contra a monarquia. É certo que, por
outro lado, o resultado disso não será o socialismo-anarquismo. Devemos
tomar parte da preparação e da realização desta insurreição? Alguns
camaradas pensam que não temos nenhum interesse em fazer parte de movimento
que não tocará na propriedade privada e só servirá para mudar de governo,
quer dizer, uma república, que não será menos burguesa que a monarquia.

Deixemos, dizem eles, os burgueses e os aspirantes ao poder “furarem-se
mutuamente a pele” e continuemos nossa propaganda contra a propriedade e a
autoridade.

Entretanto, a conseqüência de nossa recusa seria, em primeiro lugar, que,
sem nós, a insurreição teria menos chances de triunfar. Assim, a monarquia
ganharia, o que no momento em que a luta pela vida torna-se feroz,
obstruiria o caminho à propaganda e a todo progresso. Além do mais, o
caminho à propaganda e a todo progresso. Além do mais, estando ausentes do
movimento, não teríamos nenhuma influência sobre os acontecimentos
ulteriores, não poderíamos aproveitar as oportunidades que sempre se
apresentariam num período de transição entre um regime e outro, cairíamos no
descrédito como partido de ação e não poderíamos, durante muitos anos, fazer
algo de importante.

Não se trata de deixar os burgueses lutarem entre si, porque numa
insurreição a força é sempre dada pelo povo, e se não dividirmos com os
combatentes os perigos e os sucessos tentando transformar o movimento
político em revolução social, o povo servirá apenas de instrumento nas mãos
ambiciosas dos aspirantes do poder.

Em compensação participando da insurreição (que não somos bastante fortes
para nos lançarmos sozinhos) e agindo o máximo possível, ganharemos a
simpatia do povo insurreto e poderemos fazer avançar as coisas o máximo
possível.

Sabemos muito bem, e não cessamos de dizê-lo e de demonstrá-lo, que
república e monarquia são idênticas e que todos os governos têm tendência a
aumentar seu poder e a oprimir cada vez mais os governados. Mas também
sabemos que quanto mais fraco é um governo, mais forte é a resistência do
povo, maiores são a liberdade e a possibilidade de progresso. Contribuindo
de modo eficaz para a queda da monarquia, poderíamos nos opor com maior ou
menor eficácia à consolidação de uma república, poderíamos permanecer
armados, recusar obedecer ao governo, e tentar expropriações e organizações
anarquistas da sociedade. Poderíamos impedir que a revolução estancasse
desde o início, e que as energias do povo, despertadas pela insurreição,
adormecessem novamente. Tudo isso são coisas que não poderíamos fazer, por
razões evidentes de psicologia, para poderíamos fazer, por razões evidentes
de psicologia, para com o povo, intervindo depois da revolução e da vitória
contra a monarquia, sem a nossa participação.

Levados por esses motivos, outros camaradas gostariam que parássemos
provisoriamente a propaganda anarquista, para nos ocuparmos com o combate
contra a monarquia e, após o triunfo da insurreição, recomeçarmos nosso
trabalho específico de anarquistas. Eles não vêem que se nos confundíssemos
com os republicanos faríamos o trabalho da futura república, desorganizando
nossos grupos, semeando a confusão, sem poder impedir em seguida o reforço
da república.

Entre estes dois erros, o caminho a seguir parece-nos o mais claro. Devemos
nos posicionar com os republicanos, os social-democratas e todo partido
antimonarquista para derrubar a monarquia. Mas devemos ser, enquanto
anarquistas, pela anarquia, sem romper nossas forças nem confundi-las com a
dos outros, sem fazer compromissos para além da cooperação na ação militar.

Somente assim, segundo nossa opinião, podemos obter, quando dos próximos
acontecimentos, todas as vantagens de uma aliança com os outros partidos
antimonarquistas, sem renunciarmos em nada ao nosso programa.

Indiv?duo e Sociedade



Fonte: Anarcko

A unidade de base da humanidade é o homem, o ser humano individual. Quase todos os
indivíduos vivem em sociedade, mas a sociedade não é nada mais que uma soma de
indivíduos e o seu único fim é permitir-lhes uma vida plena. Os anarquistas não
acreditam que os homens tenham direitos naturais mas isto aplica-se a todos: nenhum
indivíduo pode reivindicar um direito para agir nem para proibir outro de agir. Não há
vontade geral, não há norma social à qual alguém deva submeter-se. Somos iguais, não
idênticos. A competição e o apoio mútuo, a agressividade e a ternura, a intolerância
e a
tolerância, a violência e a doçura, a autoridade e a revolta são todas fenómenos
naturais de comportamento social, mas algumas favorecem e outras entravam a
plenitude da
vida individual. Os anarquistas crêem que o melhor meio de garantir esta plenitude é a
liberdade igual de cada membro da sociedade.
Por conseguinte, não temos tempo para moralizar no sentido tradicional e não nos
interessamos pela vida pessoal dos outros. Que cada um faça o que quiser, dentro do
limite das próprias capacidades, a partir do momento em que deixa os outros fazerem o
mesmo. Coisas tais como o trajar, a aparência, a linguagem, a maneira de viver, as
relações, etc., constituem matéria de preferências pessoais. O mesmo se passa com a
sexualidade. Somos pelo amor livre, mas isso não quer dizer que sejamos pela
promiscuidade universal; quer dizer que todo o amor é livre, excepto a prostituição e a
violação, e que as pessoas deveriam ser capazes de escolher (ou de rejeitar) as formas
de atitude sexual e os parceiros sexuais que Ihes convém. Uma liberdade sexual extrema
poderá convir a um e uma extrema castidade a outro se bem que a maioria dos anarquistas
pense que o mundo seria mais habitável, se se tivesse feito menos algazarra e mais
amor.
O mesmo princípio aplica-se às drogas: as pessoas podem intoxicar-se com álcool, com
cafeína, com haxixe ou com anfetaminas, com tabaco ou com ópio, e não temos nenhum
direito de as impedir de o fazerem, de as castigarmos, conquanto se possa tentar
ajudá-las. Do mesmo modo, que cada um adore à sua maneira, enquanto deixar os outros
praticarem o culto que lhes convém ou não praticarem culto algum. Tanto pior para os
escandalizados, o que importa, é não ferir. Não há necessidade de ninguém se inquietar
com as diferenças de atitude pessoal: o que deve inquietar, é a grosseira injustiça da
sociedade autoritária.
O inimigo principal do indivíduo livre é o poder esmagador do Estado, mas os
anarquistas
também se opõem a qualquer outra forma de autoridade que limite a liberdade na família,
na escola, no trabalho, na vizinhança e a qualquer tentativa de estandardizar o
indivíduo. No entanto, antes de examinarmos como a sociedade pode ser organizada para
dar o máximo de liberdade aos seus membros, temos que descrever as diferentes formas
que
o anarquismo assumiu, consoante as concepções das relações entre o indivíduo e a
sociedade.

Será essa a resposta?

Essa imagem pra mim jádiz tudo.

Joel Santana no Flu e Futebol Carioca

Uma linda piada, pena que mau gosto é o Futebol Carioca Hoje.Dominado por carrancas inúteis e velhos urubuas em torno da carniça desse que já foi um dos pilares do Futebol Brasileiro, a tendência do Futebol Carioca é sumir.

A Torcida Já sumiu.

Como exemplo, o Flu.

Inicialmente uma esperança, o Flu se torna novamente uma filial das antigas práticas, onde tudo se faz de acordo com os interesses das aves de rapina, com a contratação de Joel Santana, se percebe que a solução antiga voltou a ser o lance, e o destino disso tudo eu sei, retranca, futebol estúpido,falta de qualidade e, luta contra o rebaixamento.

Pena!!

Longo Sumiço

Depois de muito tempo sumido eu volto e já gostei do novo Blogger.

Tõ mais ativo que nunca politicamente e buscando mais e mais textos interessntes procês.Em breve eu publico mais.