segunda-feira, julho 31, 2006

Gran Sorriso

Vão
Todo poeta é um pouco vão
Menino perdendo a razão
E escrever é respirar
Tentar anuviar
A própria paixão que enlouquece a fúria
De todo perceber
O mundo, o sol, você
Qual uma surpresa rubra
Água destilada do sangue da própria lua.

Vâo, assim como que faz canção
Como repintar a imensidão
De renascer por entre o mar
E todo novo olhar
Que faz o chão ser mais que quadrados de rua.

Como poder dizer
Que paixão faz nascer
Fogueira sempre, nua
No peito infante
Do poeta de horas?


Não, não abdico da invasão
Do vento a meu coração
Preciso ser sol pra notar
Vida em cada olhar
Em cada caminhar
Pelos anos da rua
Que me fazem saber
O sal, o sul, você
Ali entre as luas
Novas, decididas
Mães de toda aurora.

Nâo, hoje liberto-me da prisão
De meu calado e vão eu
Repare a cor do coração
E olhe meu olhar
Apenas a arriscar sua cor, seu perdão
Pra poder renascer
A cada bom viver
Com teu sorriso nas mãos
Este gran sorriso
Que hoje é canção.

Deste sorrir

Será novo mar
Ou resíduo que hoje chega
De um riso que faz canção
Toda nascer?

Será falha e sal
Ou um livro que tece cheias
De rios
Que na imensidão
Fazem-me crer
Existirem rumos e sonhos de prosa
Qual o som
Das perfeitas cenas
De um mundo ator?

Fui ator, me perdi
Pelos rumos das mentiras
Que hoje busco pra saber o sabor
Deste sorrir.

sexta-feira, julho 28, 2006

Vítima de nosso próprio movimento

Sob o sol de ultimatos sem palavras
Sem do Céu
A incontinente certeza
De sair de entre as nuvens com a alma
Pronta e festejada de momentos.

Parte Deus
E talvez eu de madrugada
A corrigir medos e essências
Que servis constroem palavras amargas
E versos que danam-se sem inteligência.

Pois ao apocalipse a caminhada
É hoje asfaltos e problemas
É sentir-se em meio à própria enxurrada
Fácil
Vítima de nosso próprio movimento.

Porque Chega!!

Rasga o osso do infeliz detento
De trêmulas fronteiras
A desintegrar
A cada tiro do alto sem nome
Do vento que toma meu olhar
Rasga pele e aço
Rasga meu sonhar
Como se um ato fosse condenar
Gente tanta, meninice.
Estranha a convicção que faz matar.

Por aí, por aí
Dizem sim que tem gente que mata e ri
Mata e ri
Sem ter juiz
Mas já chega!

Explode corpo, cansaço, tormento
Sorriso, beleza, infância e todo o amor
Nome de Deus faz estrago
Inté se Deus falasse outra cor
E no sol germina outra história
Ódio vem do sangue quase milenar
Sangue rubro, nato, já derramado
Regando ódio à beira do Mar.

Por aí
Sem aí
Dizem sim que nação já mata sem fim
Dizem sim
Sem ter juiz
Mas já chega!

Corre pessoa, corre sem braço
Esqueça os velhos, salve-se, não peça paz!!
Já há bem mais que um triste alvoroço
Há até o mau gosto de olhar
Cada voz que cede ao horror da hora
Esta hora da morte
Diária, total
Dói sentir que o dia que já fora moço
Hoje envelhece de tanto sangrar.

Por que isso?
Cadê o riso?
Jaz aqui
Morto ao bom sentir, jaz aqui
Jaz aqui pra ser juiz
Porque Chega!!

Imperativo

Olhe aquela estrela
Vestindo apenas noite
Criando outros seres entre dunas
Que o olhar
Forma de cada cidade.

Olha os Rios todos
Feitos imensos tanques
Qual um grito extenso
Que da pele tira o mar
Derrubando mediocridades.

Hoje te quero a olhar e rir
Extremos sorrisos de mil noites
Colorindo alvos vis
Tecendo novos horizontes
Feitos de um distante renascer
Sem fim.


Sinta a surpresa que venta
Tome a mim na noite
Crie deste teu jeito intenso de perceber
Qualquer nuvem pra eu viver.

Mostre-me outra manhã
Abra a porta e entre
Tome o teu lugar entre meus dedos
Que hoje versam sem saber
Por onde andam as verdades.

Venha nas naus que são de ti
A invenção da verdade que consome
Atos que ilustram o que escrevi
E ensinam-me um outro nome
Que assino nos momentos que minha alma
Pertencer a ti.

quarta-feira, julho 26, 2006

Sonhar você

Talvez já possa eu fingir
Enquanto a dor
Passeia pelo mel da insensatez.

Será que há dor assim?
Ou a coragem que me acende
Inspire poesias demais?

Só sei apenas crer
Nas imensas certezas
Que descobrir me faz ver
Enquanto no caminho
Encontro talvez você
Pessoas com este brilho de ser.

E enquanto verso o mel
Espero tua beleza
Talvez para apenas ser
Aprendiz de desígnios
Ou cuidadoso nascer
Do homem que perdido, não se vê.

Mas olhe o céu além do céu
Te digo assim que acalma-me o olhar
Talvez nem seja digno contar
Que estrelas me ensinaram a sonhar você
E sonhar você
É o que faz-me crer.

Ao juiz do coração

Saiba você sim
Sentir é bom
Como ser
O bom de ser é talvez sentir.

E não ser mais só
Saber você
Saber flor
Ir, avançar pelo som do sol.

Tentei fugir
A um desaguadouro claro
Deste sentir exato
Que faz cansaço
Parecer fim
Porém é cor, é vão
Tentar fugir se é sabor
Algo amor que nasce aqui então
Entrego-me ao juiz do coração.

Como se lua

Se é amor
Este amor que me faça asas
Para percorrer
As manhãs de alguma poesia
Por aí.

A perceber-me imensidão
Construindo alma a ser sim
Quase menino de descolar sabor
Entre os dedos do sol nas águas
Da pedra do ser
Naquele bairro de poesia
que senti.

Como se fora o riso a razão
Da vontade de me ser assim.

E sendo ritmo
Danço ao sol sob tuas asas
Vago a querer-te ver
Como se lua conhecida ao jardim.

Enquanto espero o destino

Sem noites e nem sussurros
Vejo das ruas
Todo o sentido
Que em mim ateia novos caminhos
Enquanto beijo o sol com cada palavra
Sobre te olhar.

Nas vielas de minha alma
Crio incertezas, finjo destinos
Enquanto o espaço busca a lua cheia
Que é hoje em paz tua alma
A me tornar
Novo e velho menino
Caldo mel de esperança
Talvez você seja apenas um intertício.

No entanto luas me bailam
Enquanto versejo sorrindo
O gesto claro
De querer amer-te indo
Com direção, sem desatino.

Sinto do sangue a cor
Das luas cheias
Vejo-me menino
Ressinto o som de tua voz riscada
No meu sonhar.

Vago assim tão preciso
Enquanto o sonho me alcança
Talvez, não sei, tu sejas apenas delírio
Porém o brilho de tua alma
Trapaceia meu sorriso
E assim conserto tudo o que for-te perigo
Enquanto espero o destino.

Ser dois

Tanto o mundo sonha
Estrelas do mar
Tanto o mundo caça
Sobre o nato ser
Astronaves dançam sem nem perceber
Crianças beijando uma coral
Num ríspido mote ou bote animal
Calados desejos de bacanal
Indo tão mal.

Navegam madrugadas pelas asas
De outros mundos
Sob o sol.

Haverá tão perene jeito parco de ter força
De ser mal
Além dos malfadados e inexatos versos de me mentir
Além dos afobados, algo errados, desejos de sentir
Algo em mim
Que depois
Vira a cena certa
Imensa verve
De ser dois?

Mulher

De dia
As cores sem canção iluminam, vadias
Horas de ilusão
De sonho e magia
Desejo de saber.

Às tardes
Mentalizo a mulher
Do coração tão desgarrada
Plantada na paixão
Que envolve minhas horas
E sinto o bom de ser.

São eras
As noites que vagam ao som
Das tantas luzes férreas?
Serão de Deus o advento da matéria
Que incorpora um ser?
Ou o alarde
De minha visão de um sentido novo
Agora
Que sinto-me nascer
Revendo antiglórias?
Pergunto-te
Mulher!

terça-feira, julho 25, 2006

Nas horas

Manhã
O sol me cala as palavras
Deslizo em findos e dóceis amarras
O mar envolta
Ilude-me enfim
Ancoro a alma aberta
Sinto a brisa ser a mim.

Bebendo tuas palavras
Não vendo o veio
Que faz de tua alma o amparo
Pra meu sonho inteiro
Hoje haverá mais sol que havia outrora?

Deitando-me à relva das calmas
Pensando inteiro
No desejo que parte-me o espaço
Distribui aos ventos
O meu ar
Que você refaz, nas horas.

Os versos que te iluminam

Hoje senti você
Como um corte que invade
O terreno parco das coisas
Que constroem felicidades.

Eu deliro entre humanos
Por vezes desminto-me
Incerto
Na vergonha dos momentos
Pelo medo do incerto.

E deslizo entre afãs
Como se o amor dos dias
Fosse a calma que me aflige
A deixar-me ser poesia
Deitar no colo
Beijar fados
Deitar-me na sutileza
De um afago, um riso inteiro
Amar em total grandeza.

E te digo, solto
Toda a beleza
Que hoje me encanta, me renova a vida
Brilha por ser da sorte
A face conehcida
E por trazer dos ares
A mudança
A lida.

Assim me deito hoje, largo
Na saudade mais menina
Queimando em mim, no peito,
Os versos que te iluminam.

Saudades

É estranha esta beleza
Este riso, este dom
Que causa-me incertezas
E toda a falta qu eme faz
Rever o brilho
A luz deste caminhar.

Como um louco a sós
Me implode a paixão dos mares
A paixão mais lenta
Que implora à poesia
Um verso que explique
Este bom gostar.

Não escondo, sinto medo
Vejo-me criança
Cometo heresias
Pela alma de pouca roupa
Recriando magias para acreditar.

Ver-te ali
Assim tão perto
Fez a noite rubra
De uma vergonha lírica
E assim deixei-me findo
Mas hoje sinto a falta
De ver-te bailar.

quarta-feira, julho 19, 2006

Argonauta do vento

Desenho de giz um terno e manso olhar
Afago minúcias entre o caminhar
E a incerteza
Espada não cantante de além mar.

Eu um argonauta de causas infindas
Das palavras
Recrio um passo
Em ofegar distante
Do chegar.

Todo alma
E penas
Espadas e cenas
Feitas palavras e tempo
Vago a sentir
Meu peito retumbar
Espalho olhos, sonhos, pelo ar
Inverto alentos e navegares
Pelas instâncias do explorar
Da palavra amor suas belíssimas
Mil estradas
E lanço-me aos mares
Na esperança de bailar.

Qual alma
Qual cena
Esperança extrema
Argonauta do vento.

segunda-feira, julho 17, 2006

Pelo espaço dos planos

Olho raso
Nada mais a esconder
Alvo errado
Insano
Saber de teus enganos, nada encontrar
Sendo assim numa manhã, uma esperança de fé
Um ato
E depois de um drible, um olé
Ver o chute sair tão errado.

É verdade que perde-se por querer
Ser do espaço
Sem planos.

Toda esperança pode perecer
Em um simples pálido e vão ato
De querer e ser
Sem vaidade
Apenas o saber
Cada passo
Insano.

Não adiantam preces
Nenhum ato a mais
Palavras deliram, somem em vendaval
Pela verdade
De haver mais que querer
Pelo espaço dos planos.

No coments, momento de reflexão

Não é Fácil
Marisa Monte

Não é fácil, não pensar em você
Não é fácil, é estranho
Não te contar meus planos, não te encontrar
Todo o dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo,
é, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado.

Na verdade, eu preciso aprender
Não é fácil, não é fácil.

Onde você anda, onde está você?
Toda a vez que eu saio me preparo para talvez te ver
Na verdade eu preciso esquecer
Não é fácil, não é fácil.

Todo o dia de manhã enquanto eu tomo o meu café amargo
é, ainda boto fé de um dia te ter ao meu lado
O que eu faço? O que eu posso fazer?
Não é fácil, não é fácil.

Se você quisesse ia ser tão legal
Acho que eu seria mais feliz que qualquer mortal
Na verdade não consigo esquecer
Não é fácil, é estranho.

Meu demais

Nesta invenção premente de sentir você
Como instrumento raro
Em sinfonia clara
De outros veios
E sons que nascem do balbuciar
A sagração da vida.

Eu me fiz menino em vão momento
Recriei-me em signo, alvo ornamento
De algo incerto
E o sorriso claro que traz-me um mundo sem fim
Vem de você
Vem belo.

Porém nem mesmo as horas
Hoje retiram o medo de não te ver mais
Aliás
Tudo hoje dança sem glórias
Por eu não ver como de teu mundo ser a paz.

Me perdoe se me arrisco a morrer sem ti
Com minhas ações sem ritmo
Meus versos infelizes
Nenhum verso
Só mesmo flores que não sorriem você
Flores de inverno
Inferno.

Porém eu sorri as horas
Pensando em ti virando mundos
Como se Ás
De novos ventos
Que doem na hora
Em que o real me traz um murro
Meu demais.

Insano jeito vil

Vim ao te ver
Como anjo
Vim para calar meu ser
Em tuas alvas mãos sem amarras
Em teu jeito de ser.

Porém não enxergo Às vezes
Nada além da invenção
E do que o peito
Cria nas horas
De derretido em paixão
Qual infante
Qual um cão
Solto de suas amarras
Perdido em vã euforia
Por amor
Faço a mim
De estranho pavio
De curto pavio
Insano jeito vil.

Louvores do viver

Calado em vão calor
Erro caloroso de ser
Vergonha inativa
Encanto ausente de viver
Sofrer de vão em tudo
Pálida amarra do querer
Perdido em revoltos
Mares de não saber.

E calado
Tão pálido
Surpreso assim ao sim te ver
Não estupefato peito e sim negação do ver
E do querer do mundo
Estranha forma de querer
Ou negação de amores
Louvores do viver.

sexta-feira, julho 14, 2006

Jesus

Há mar

É estranho ver a cor
Destas árvores sem planos
E o incrível vão sabor
De um gesto
De um encanto
Que cria o mar
E cria do mar o amor
Desliza a brilhar
Por entre o saber da cor.

Viver neste encanto de se perceber
O natural do sonho
Revolutar a ser
De um sorriso franco
Guardador fiel
Esperançoso canto
Significado no mel.

Talvez seja você dor
Talvez seja você pranto
Ou o encanto da Flor
O amor feito encanto
É estranho notar
Da água do mar a cor
Do mundo a mudar
Em tons deste sal do amor.

Versejar como louco
Este riso em cor
Sabedor desta vida
Sabiás e mesmo a flor
Que nasce entre um brilho de ser próprio olhar
E a luz de um sol que hoje nasce a te criar.

É estranho ver o ardor
De um tempo sem enganos
E o natural sabor
De um risco, de um sonho
A ser hoje o mar
E mar ser mais que a própria flor
Ser o próprio amar
Há mar em todo o amor.

Tudo por amor

Olhos em flores repartem sóis e horas
Dançam assim meus vários nomes pra razão
E enquanto choro
Abro a alma voz
Guardo o perene
Alegro-me após simplesmente amar
O natural da cena linda, triunfal, de sentir-se vivo
Em pele
E a simplesmente rir dos olhos da menina
Que desbaratina em esperança
A festa.

Este desacato ao orgulho
Esta explosão de súbita e imensa paixão
É o desfolhar de sonhos
Pelo sol que diz
Que sonhos existem tantos
Descobrir é o dom.


E assim disponho a canção semente
Desta imensa coisa força
Que é a própria fé
A libertar-se de invólucros, armaduras sem voz
E deixar-se semente a ser todos juntos, nós.

E assim menino, coisa toda, povo
Faço-me apenas vida
Por assim, pessoa
Deslumbrar-me com a manhã que não via há tempos
E por saber sentir, morrer
Fazer tudo por amor.

O sol do ser

Serás tu que faz-me sol que vem
Substituindo assim o sol?

Ou serei eu que a brilhar também
Assumo a vida assim do sol?

Será mesmo este calor
Alma clara de viver
Ao redor de ti
Revertendo enfim
O que todo mundo crê?

Serás tu sol então, meu bem?
Ou Terra de plantar-se sóis?
Serei eu assim também
Um amaneira de ser sol?

Será mesmo o sabor
De extremo viver
E de querer sim
Beijar sóis em mim
Tendo em ti o sol do ser?

Aurora

Calou-me aurora
A simplesmente sol raiar
Nevegou horas
Em notas, silêncios de olhar.

Estranho eu rir assim
De poesia
Inventado, sem fim
Feito magia
Entregue ao estado
Do que brilha quando acha-se
Em extremo
A vida
Sendo a vida
Talvez brilho dourado
Desta hora
Desta poesia
Que sai de ti num estalo
Que mal cobria
Este sentimento raro
Que surpreendia
A mão que acolhe alinha
E em versos tantos
Faz-se dia.


Raiou aurora
Em mim
Em meu lugar
A sós
Agora
Meu verso nasce a me encantar.

Nú, súbito, nú.

Raiou de sol talvez mais um segredo
Em tempo de cantigas verdes que afinam
O invento do riso a saber-se cansaço
De deitar-se em alvos espaços
Nascendo-se eternidade.

Nos muros das almas repito encantos
E espero saber-te no espaço de mim
ao vento
Agora, assim, sempensar
Eu quero mesmo me apaixonar
E perder-me em ti
Sendo assim
Nú, súbito, nú.

Verso que Afaga

Entre as vozes que desmereço em almas
Rasgo cores e sustento alta lavra
De inversos, versos, ventos
Sonhos, Fadas
Como se domínios vivessem na branca árvore.

E afinal vago a requerer
Um novo vinho, um destino, um arremedo
De qualquer paixão sem medo
Pois eu sou um donatário de marolas
Um resultado de paixões e maravilhas
Um decidido viciado em magias.

Rasgue agora este verso que te afaga.

Próverbios do Inferno - William Blake

No tempo da semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta.

Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos.

A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria.

A Prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela Impotência.

Quem deseja, mas não age, gera a pestilência.

O verme partido perdoa ao arado.

Mergulha no rio quem gosta de água.

O tolo não vê a mesma árvore que o sábio.

Aquele, cujo rosto não se ilumina, jamais há de ser uma estrela.

A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo.

A abelha atarefada não tem tempo para tristezas.

As horas de loucura são medidas pelo relógio; mas nenhum relógio mede as de sabedoria.

Os alimentos sadios não são apanhados com armadilhas ou redes.

Torna do número, do peso e da medida em ano de escassez.

Nenhum pássaro se eleva muito, se se eleva com as próprias asas.

Um cadáver não vinga as injúrias.

O ato mais sublime é colocar outro diante de ti.

Se o louco persistisse em sua loucura, acabaria se tornando Sábio.

A loucura é o manto da velhacaria.

O manto do orgulho é a vergonha.

As Prisões se constróem com as pedras da Lei, os Bordéis, com os tijolos da Religião.

O orgulho do pavão é a glória de Deus.

A luxúria do bode é a glória de Deus.

A fúria do leão é a sabedoria de Deus.

A nudez da mulher é a obra de Deus.

O excesso de tristeza ri; o excesso de alegria chora.

A raposa condena a armadilha, não a si própria.

Os júbilos fecundam.

As tristezas geram.

Que o homem use a pele do leão; a mulher a lã da ovelha.

O pássaro, um ninho; a aranha, uma teia; o homem, a amizade.

O sorridente tolo egoísta e o melancólico tolo carrancudo serão ambos julgados sábios para que sejam flagelos.

O que hoje se prova, outrora era apenas imaginado.

A ratazana, o camundongo, a raposa, o coelho olham as raízes; o leão, o tigre, o cavalo, o elefante olham os frutos.

A cisterna contém; a fonte derrama.

Um só pensamento preenche a imensidão.

Dizei sempre o que pensas, e o homem torpe te evitará.

Tudo o que se pode acreditar já é uma imagem da verdade.

A águia nunca perdeu tanto o seu tempo como quando resolveu aprender com a gralha.

A raposa provê para si, mas Deus provê para o leão.

De manhã, pensa; ao meio-dia, age; no entardecer, come; de noite, dorme.

Quem permitiu que dele te aproveitasses, esse te conhece.

Assim como o arado vai atrás de palavras, assim Deus recompensa orações.

Os tigres da ira são mais sábios que os cavalos da instrução.

Da água estagnada espera veneno.

Nunca se sabe o que é suficiente até que se saiba o que é mais que suficiente.

Ouve a reprovação do tolo! É um elogio soberano!

Os olhos, de fogo; as narinas, de ar; a boca, de água; a barba, de terra.

O fraco na coragem é forte na esperteza.

A macieira jamais pergunta à faia como crescer; nem o leão, ao cavalo, como apanhar sua presa.

Ao receber, o solo grato produz abundante colheita.

Se os outros não fossem tolos, nós teríamos que ser.

A essência do doce prazer jamais pode ser maculada.

Ao veres uma Águia, vês uma parcela da Genialidade.
Levanta a cabeça!

Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para deitar seus ovos, assim o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas.

Criar uma florzinha é o labor de séculos.

A maldição aperta. A benção afrouxa.

O melhor vinho é o mais velho; a melhor água, a mais nova.

Orações não aram! Louvores não colhem! Júbilos não riem! Tristezas não choram!

A cabeça, o Sublime; o coração, o Sentimento; os genitais, a Beleza; as mãos e os pés, a Proporção.

Como o ar para o pássaro ou o mar para o peixe, assim é o desprezo para o desprezível.

A gralha gostaria que tudo fosse preto; a coruja, que tudo fosse branco.

A Exuberância é a Beleza.

Se o leão fosse aconselhado pela raposa, seria ardiloso.

O Progresso constrói estradas retas; mas as estradas tortuosas, sem o Progresso, são estradas da Genialidade.

Melhor matar uma criança no berço do que acalentar desejos insatisfeitos.

Onde o homem não está a natureza é estéril.

A verdade nunca pode ser dita de modo a ser compreendida sem ser acreditada.

É suficiente! ou Basta.

William Blake - O conciliador do céu e do inferno

Konstantin Gavros

A poesia talvez seja a manifestação estética que mais evidencia o quanto a arte é um dos melhores frutos da nossa libido, ou seja, de nossas pulsões sexuais.A poesia é a prova da disposição humana ? uma disposição, na maioria das vezes, inconsciente ? no sentido de superar os freios emocionais que nos são impostos desde a infância. Ela é uma eficiente resposta às amarras morais que revestem o homem com os andrajos da vergonha, do medo e da insegurança, impedindo-o de desenvolver-se sexualmente e condenando-o, dessa forma, a uma existência permeada de conflitos não resolvidos.Mas o inconsciente humano sempre encontrará uma forma de livrar-se das correntes impostas pela educação e pelos diversos outros condicionamentos que nos são impostos. Escondida em algum ponto do inconsciente, a energia sexual represada pelas convenções sociais acaba sempre por explodir ? na forma de arte ou, pior, na forma de um câncer ?, transformando a vitória da repressão em um frágil sucesso temporário. A lição de Freud não deve ser esquecida: o que foi reprimido não foi eliminado.Com razão, portanto, Michael Löwy e Robert Sayre[2], ao analisarem o romantismo, o definem como "a revolta da subjetividade e da afetividade reprimidas, canalizadas e deformadas".
Dentre os românticos, o mais polêmico deles, William Blake (1757 ? 1827)[iii], nos legou uma obra que não guarda apenas a característica de exaltar os valores da subjetividade, mas distila uma poderosa crítica ao capitalismo e à religião.Os estudiosos da obra de Blake certamente já detectaram as razões que o fizeram reorientar-se na direção da radicalidade, abandonando as temáticas quase pueris de Canções da inocência (1789) e abraçando o pensamento libertário de O casamento do céu e do inferno (1793) e de suas Canções da experiência (1794).Nestas últimas, encontramos a densa crítica à religião e aos moralismos apregoados por seus sacerdotes:

O Jardim do Amor

Eu fui ao Jardim do Amor,
E vi algo jamais avistado:No centro havia uma Capela,
Onde eu brincava no relvado.

Tinha os portões fechados, e "Proibido"
Era a legenda sobre a porta escrita.
Voltei-me então para o Jardim do Amor,
Que outrora dera tanta flor bonita,
E vi que estava cheio de sepulcros,
E muitas lápides em vez de flores;
E em negras vestes hediondas os Padres faziam rondas,
E atavam com nó espinhoso meus desejos e meu gozo.

A morte e a dor nascem da proibição, da censura e do impedimento de vivermos nossos desejos. Quando o corpo é tolhido em nome do espírito, restam apenas as pedras frias que recobrem um jardim outrora marcado pela beleza. O homem, alienado em sua própria carne, recorda um outro tempo, cujas marcas de liberdade e pleno prazer deixaram-lhe lembranças indeléveis. Na visão do poeta, a verdadeira religião, capaz de religar o homem ao seu estado original, está proibida àqueles que são puros de coração (como o próprio poeta-criança, que brinca, em seu sonho, no gramado).
Em outro poema, a cidade emerge em uma cena de destruição e infelicidade:
Londres

Em cada rua escriturada em que ando,
Onde o Tâmisa escriturado passa,
Eu nos rostos que encontro vou notando
Os sinais da doença e da desgraça.

Ouço nos gritos que os adultos dão,
E nos gritos de medo do inocente,
Em cada voz, em cada interdição,
As algemas forjadas pela mente.

Se o Limpa-chaminés acaso grita,
Assusta a Igreja escura pelos anos;
Se o soldado suspira de desdita,
O sangue mancha dos muros palacianos.

Mas o que mais à meia-noite é ouvido
É a rameira a lançar praga fatal,
Que estanca o pranto do recém-nascido
E empesteia a mortalha conjugal.

Não há beleza em meio às ruas destruídas pela lógica do capital. Vivendo em plena Revolução Industrial, William Blake denuncia a corrosão da cidade, na natureza e dos homens, todos estigmatizados pela pobreza e pela doença, sugados até a desesperança pelo trabalho e por leis injustas.Em Jerusalém (um de seus últimos livros), ele chama para si a tarefa profética de iluminar as mentes obscurecidas e viciadas pelas mentiras que a religião, o mercado e o Estado apregoam:
"Trêmulo permaneço dia e noite;
meus amigos ficam espantados.
Mas perdoam o meu divagar,
pois não posso afastar-me da grande tarefa!
A tarefa de abrir os Mundos Eternos,
de abrir a Visão Imortal
Do Homem para os Mundos Interiores de seu Pensamento:
para a Eternidade
Em contínua expansão no Seio de Deus: para a Imaginação Humana."

Somente a imaginação humana, somente o homem capaz de olhar livremente para o seu próprio interior poderá ser verdadeiramente livre. É o caminho na direção dessa liberdade que Blake traça em O casamento do céu e do inferno, ao inverter as polaridades dos dogmas apregoados pela religião e ao instaurar, por meio de uma poesia libertária, uma nova ordem, na qual a vida, a sociedade e a história são reinauguradas.Anárquico, o poeta estabelece uma dialética com a qual objetiva quebrar a lógica maniqueísta da religião cristã:
"Não há progresso sem Contrários.
Atração e Repulsão,
Razão e Energia,
Amor e Ódio
são necessários à existência Humana.
Desses contrários emana o que o religioso denomina Bem & Mal.
Bem é o passivo que obedece à Razão.
Mal, o ativo emanando Energia.
Bem é Céu.
Mal, Inferno."

O inferno torna-se, portanto, o verdadeiro céu. Para Blake, a "Energia é única vida, e provém do Corpo; e a Razão, o limite ou circunferência externa da Energia". O mal se transforma, assim, em bem, pois a "Energia é o Deleite Eterno".Não há mais tormentos. Carne e espírito estão refundidos em uma nova metafísica. O poeta condena os tímidos, os inseguros e os covardes que se recusam a enxergar a verdade:
"Quem refreia o desejo assim o faz porque o seu é fraco o suficiente para ser refreado;
e o refreador, ou razão, usurpa-lhe o lugar & governa o inapetente.
E, refreando-se, aos poucos se apassiva, até não ser mais que a sombra do desejo."
Na verdade, para Blake, Lúcifer não foi expulso do Paraíso, mas, na luta travada entre Razão e Energia, entre Bem e Mal, foi Deus o derrotado, "formando um céu com o que roubara do Abismo".Longe de ser um ateu, o poeta preconiza uma completa inversão de valores na relação do homem com a divindade. Ela não será mais castradora, mas incentivará o homem a descobrir suas potencialidades, sua energia adormecida ou refreada, sua verdade pessoal. A divindade, agora, anseia ardentemente que o homem mergulhe em seus sonhos e em suas vontades, a fim de redescobrir a centelha divina de que se esqueceu. Não só carne e espírito devem se reconciliar, mas o homem deve reencontrar, em sua carne, a luz do espírito; no sexo, a emanação perfeita da vontade divina; em seu próprio corpo, o fulgor divino que queima suas entranhas.Tudo o que a religião dividiu em forças antagônicas, a poesia, agora, refunde:
"O caminho do excesso leva ao palácio da sabedoria.
Prudência é uma rica, feia e velha donzela cortejada pela Impotência.
Aquele que deseja e não age engendra a peste.
(...)
Prisões se constroem com pedras da Lei;
Bordéis, com tijolos da Religião.
(...)
Assim como a lagarta escolhe as mais belas folhas para pôr seus ovos,
o sacerdote lança sua maldição sobre as alegrias mais belas."

Inquieto e iconoclástico, William Blake quer resgatar a percepção original da realidade ? "Se as portas da percepção estivessem limpas, tudo se mostraria ao homem tal como é, infinito" ? e destituir nossa relação com o real das sucessivas camadas de mentiras que nos foram impingidas e que nos cegam. Esse precursor de Nietzsche diria que "tudo o que vive é sagrado". De fato, em sua supra-religião, a alegria, o prazer e todas as manifestações da sexualidade deixam de ser malditas, reconquistando para nós, animais humanos, a integridade que a absurda idéia de pecado um dia nos arrancou.
Konstantin Gavros é escritor. Assina, diariamente, o blog A verdade é o sexo, o sexo a verdade (http://sexoverdade.blogspot.com/).

[2] Revolta e melancolia (o romantismo na contramão da modernidade), Editora Vozes, RJ, 1995.
[3] Os trechos de William Blake utilizados neste texto foram retirados de: - Poesia e prosa selecionadas, Editora Nova Alexandria, SP, 1993. - O matrimônio do céu e do inferno, Editora Iluminuras, SP, 2001, 4ª edição, 2001.

Em Coração

Sem pestanejar
Sem hesitar
Só derramar, sentir e ver
O ausente livre revoar
De mim, do sim
Do se entregar
Assim do jeito claro de um velho sonho ator
Que encenou
Tenaz apenas percorrer
Pelo delírio
Pelo olhar.


Sem nem perceber
Sem nem dizer
Sem nem notar
A me perder em me encantar
E viver simplesmente a ver
O incidental que há em mim
Correndo a rir-se assim
A perceber o sol
Como antes nem mesmo notava
Apaixonado pela manhã.

Vai o invento do tempo
Estourando os espantos do corpo
E dos meus
Mil anos, momentos
Insanos de tanto dispor
Desta invencionice encantada de infância
Qual quem vê fada dos campos
E Dispõe a não só olhar
Mas sê-la em coração.

Palavra e Luar

Inverta a parede!
Corra desta cor!
Anuncie a sede de ser Deus!
Me fale algo assim
Nas artes, na mesa
Iluda-me na vida normal.

Porque assim a ver
Tua alva alma inteira
Percos rimas a não ver
Sutis, vis, tirocínios
Delicados gestos a ser
Além do enorme brilho
Do teu Ser.

É, ainda há céu
Imenso céu
E um sol que cisma hoje de encantar
Talvez só seja mesmo o ludibriar
Desta coisa vida que se faz ver
No imenso teu sorrir
De meu prazer.

Me conte como foram as semanas
As guerras, como anda a inflação
Me fale do imenso pecado humano
Me desencante
Fale no tom imperfeito
Desminta-me no ar
Mande-me calar.

Porque ver-te faz razão
Perder-se em estranhas mil linhas
Ver-se em asas
Estreladas.

Porque ver-te fez visão
Perceber brilhos, almas soltas
Ver pessoas coloridas.

E tudo isso me agrada
Faz-me ter prazer em ser palavra
E no entanto dá o medo
De surtar ao fim de cada inverno
E não ser primavera.

Como tudo isso faz-me novo
Como então explosão que ignoro
Deixando-me a ser magia plena
Escrevendo verso em linhos
Ternos novos
Ruas, horas.

Diga cá outra razão
Me desiluda, vã pessoa!!!
Pois é risco
Risco muda
E faz-me ir
Faz-me ir
Sem medo, só a voz plena
De apenas disparar
Coração nasceu na lenda
De ser palavra e luar.

quinta-feira, julho 13, 2006

A Justiça só é cega à discriminação

Recentemente em um nota de sua coluna o Jornalista Ancelmo Góis noticiou que a Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis do Rio negou, por unanimidade, recurso de Dimitri Dantas contra a Casa do Alemão, em S. J. de Meriti. Este recurso era relacionado à expulsão pela Casa do Alemão do Casal formado por Dimitri e seu companheiro pelo motivo de estarem beijando-se.

O interessante nesta notícia é não só a negação do recurso, não só a ausência de indignação do jornalista, mas o fato de ainda termos casos como esse perambulando pelas páginas de jornal e vidas humanas.

A existência de preconceito é um fato, existe o loteamento do amor e a patrulha do mesmo que rotula o que pode e o que não pode acontecer em ambientes públicos. Esta rotulação obedece a uma hipócrita decisão social que define o que é ou não "normal" a partir de critérios tão objetivos quando a direção do vento.

O mesmo mundo capitalista que anuncia as Paradas Gays, as festas, que investe em produtos gays, Filmes, etc, Que reconhece este público como consumidores, não se permite reconhecer o "Público Gay" como seres humanos com direitos ao amor, à liberdade de afeto, de manifestação.

Um Homossexual é interessantíssimo como animador de festas ou como consumidor, dado inclusive à média de poder aquisitivo comum a eles, porém isso não o permite ser um humano completo dado que não é "normal" sua orientação sexual, esta não vende para a massa que consome mais, por seu número, e que pode estar na Casa do Alemão e achar ruim seus filhos verem que o amor não é só o que rola nas novelas.


A limitação do amor a um cenário idílico e definido através do Heterossexualismo cai por terra em qualquer definição cientifica, qualquer linha de análise teórica desde os anos 50 pelo menos, porém a transformação da sociedade, que festeja as "Paradas Gays", não se permite ser tão rápida quanto o capital vende em suas revistas. Não se permite aceitar o que a ciência já coloca como factual.

O preconceito assim divide o que é normal e o que não é normal, colocando em guetos a pseudo-anormalidade, dividindo seres humanos em rótulos concebidos quase que totalmente a partir de definições religiosas já colocadas em cheque tanto pela ciência quanto pela filosofia.

Esta divisão causa automaticamente o problema da opressão, a manutenção da divisão entre classes e seres humanos, que se afastam em nome de definições de comportamento que não mais se relacionam com o dia a dia, com a realidade. É como se voltássemos a discutir se as mulheres e os negros teriam alma ou fossem gente. É como se em plena AVENIDA Rio Branco, em 2006, alguém usasse relógio de sol ou acendesse uma fogueira esfregando dois pedaços de pau.

A ausência do acompanhamento das transformações da realidade não é em si o maior problema, o maior problema é a estranha velocidade que permite que os mesmos seres humanos considerados excelentes consumidores ainda permaneçam sendo tratados como seres de segunda classe, inclusive por quem deveria zelar pela isonomia de tratamento legal. Ou seja, o mesmo estado e o mesmo sistema que entende que é normal e interessante um mercado formado por homens e mulheres sem filhos e com parceiros que também trabalham e que amam o mesmo sexo a que pertencem, não acham interessante que estes seres humanos manifestem sua liberdade afetiva e acham normal que estes tenham o direito de ir e vir, de consumir, de se divertir, delimitado a guetos, boates, hotéis e casas que os recebem, classificando todos os gays como idênticos, amantes das mesmas coisas, moradores dos mesmos bairros e como bichinhos engraçadinhos que gastam bem, mas não podem voar livres por aí, para não ofender o resto do mercado.

A Justiça, que é cega no mito, enxergou rapidamente, ou sentiu o cheiro, da busca pelo rompimento do preconceito silencioso que acha normal expulsar pessoas de um lugar pelo crime de um beijo. E como boa guardiã, não do aparato legal do estado, dos direitos individuais e coletivos e da liberdade humana, mas dos interesses conservadores de um mercado e de uma sociedade que é rápida e mortal em jogar os membros que não são soldados de antolhos na solidão do gueto.

A Justiça assim define que para ter direito, para poder viver como um livre ser humano e viver conforme a constituição manda, o cabra deve ser Homem, Branco e Heterossexual, caso não entre neste perfil é melhor procurar uma consultoria jurídica para ver qual é o gueto mais indicado para si, porque a justiça é Cega sim, mas à discriminação, nos demais aspectos é rápida, esperta e vê longe, principalmente para manter o status quo.

Malvados





sábado, julho 01, 2006

Cantos

Atrávés de um canto que morre
Há luar
Há também vozes que dizem não.

E estrelas
E estrelas
E entreatos
E descasos.

E
E
E
Tempo.

Razões
Descabelam-se
Palavras
Despedem livres sentidos de final
E livres
Há livres homens que são mais que uma invenção
De números e chibatas
Que descem em corpo são.

Há canções e presas
Há mesmo um texto original
Que fala da incerteza
De morrer em mãos do mal
E há o mal
Sempre há
A entrevar
Mesmo quando há
Um sol parcial sem violas.

Películas de terríveis
Sensações cerimoniais
Acontecem
Na canção de ir à frente
Nos povos, Pueblos e pobláciones
Que acordam entre atos
E entre sais
Cansando de rir da terra sangrenta de seus pés
Seguindo o chilro do riso de explodir
A Capital.

Canções de honra

Rabisque as noites lá no céu
Foices esquentam
Repare bem nos de chapéu
Eles não lembram.

Há sóis e cores demais
Não ria
Há avisos no portão de tarde
E naturais risos e bebidas
No corrimão da escada sul
E por isso mesmo tudo desafia aqui
Até a noite fria
De uma rua qualquer
Em mim e você
Solta sem cores
E maiores maravilhas.

Balbucie um hino agora
O jogo acabou
Mas tudo gira em si bemol
Sem horrores maiores
E a velha missão impossível
De seguir acreditando.

Melodias assim
Deitam sonhos em nós
E mesmo vendo Dom Sebastião em pés cansados
E ritmos de rapazes
De Livres pulos e andarilhos desejos
A gente segue sem maiores ventos
Seguindo o gesto correto
Que não comove os de chapéu.

E os de véu não riem
Pois somos ingênuos amadores
De armas em punho
Armas canetas
Armas feitas de jornal
Delírios de homens bombas
E notórios onze reis
De chute forte
E ventanias de querer
Ser mais que nós
Ser canções de honra.

Mato-me de viver e sonhar

Ando sem mim e vou morrer
Me faço ir
E sem assim
Nem mesmo ver
Vou me matar aqui e ali
Entre camas e dores de outro não
E sem ação
Eu vou assim
Como sem cor.

E se eu mesmo ir
Canso demais e faço-me ninguém
Porque o mundo inteiro faz cinema
E eu detesto invenção
Canso demais no turbilhão.

E entre aspas tão pequenas
Vacilos de bilhar e noites
Raspo agudas indiferenças
Da pele de meu coração
E sigo em frente
Tantando um beijo explosão.

Me faça rir
Pra ir e mais
Cair aqui
E por sabor
Deixar o Rio me cortar
Dos rumos da decoração
E eu tão só
Mato-me de viver e sonhar.

Prece

Faz durar o tempo in vitro
Faz da lua outra linha
Faz a rua de ventre mio
Corre atrás da alma.

Viva
No meuperceber
No meu próprio desquerer
Entre nuas outras luas
De aspas descoloridas.

E entre cores e luas cheias
Rabisco outros dias
Onde Enfants terríveis
Não me entristecem dias
E me faço desviver
Entre cores e morrer
Sò na lua desta lua
Que é rua de outro dia.

No samba de dia de jogo

Acordei na solidão das horas
Olhando alheios ventos por entre os dedos
Versos jamais andaram por entre os vales
De tarsos e metatarsos
Que antecedem as dores em letras.

Andei por entre tábuas de passar e o café não feito
As horas arrastando-se na máquina de moer carne
Da cidade de outrora festa
E sol se indo
Frio em ventos e curvas
E a falta de alguém no peito
Cambaleando a alma.

E assim seguindo entre cortes
Parafraseio o dia a dia
Sentindo outra manhã substituir a dor
E vendo a esperança no pandeiro de outrem
No samba de dia de jogo
Eu
rindo.