terça-feira, setembro 18, 2012

Um samba qualquer da Portela

A maior parte da cidade nasceu em mim distante
Límpida, pintada na retina
Ali, a Candelária ao som, ao sol das seis
Manhãs a fio
De uniforme imberbe
De cansaço laboral.

A cidade em mim nasceu em Minas
Nasceu ao frio
Nasceu na lama das encostas do uai vespertino
Nasceu no anseio de um riso aberto
De uma rusga
De um porto.

Foi Rio e Rio veio
Fui Rio e Rio vim assim
Assado na distância
Cozido na vontade
Criado num subúrbio infindo a ser assim
Sertão
Ser tão Rio que caudalosamente girava
E inflamava a gíria
O olho azedo a quem morde
À fala mansa dos punhos de renda
À impureza atávica do excesso de educação.

Recados dei, Rios vi, norteei
No norte do meu senso gritei Madureiras
Sacolejei alvos e Brasis, Avenidas largas, surdas, sujas
Duras e limpidamente cruas
Carioquei
E rindo assim do meu jeito
Meio raiva, meio rude, meio abraço, meio irmão, meio ódio
Inteiro Rio
Caminhei assobiando
Um samba qualquer da Portela.

domingo, setembro 16, 2012

Marginalidade

Meu sonho grita na marginalidade
Meu sonho é crente que tem a razão
(Às vezes não)
Meu sonho bebe o cerne da arte
E a cerveja que chega a pedir permissão
Meu sonho muda o rumo da urbe
Nessa coisa vontade que desce gelada
Meu sonho morre no tom da saudade
E na pele que arde se rói de firmeza caiada.

Às vezes a forma da gente é um sonho que vence
Nessas pelejas que a vida na lida faz parecer jeito
E forma de ser toda briga que beira o luto
E no fundo é verdade naquilo que faz da gente brasileiro
E traz na voz embargada o som de ser assim botequim
Malucada
Samba cruelmente construto do riso, da gaita
Que ri da velha e suada rua, do beco
Das rusgas, das rubras velhas brincadeiras
Na porrada
Na besteira
Somos todos esse jardim
Onde o sonho grita as marginalidades.


O andar

Na lida a gente monta o mundo
Faz-se reluzir
Na raiva que o mundo passa somos tantos, somos lugar
As coisas que se fazem rir
São formas de se fazer mar
O tempo é uma ilusão, é jeito de se lembrar.

Há vida onde perdi
Há morte no conquistar
Das coisas que me vivi
Os abraços, as asas, são feitos do olhar
Há marcas feitas de dia
Há marcas que são luar
Os dedos que viram mãos
Os passos marcados do enfrentar.

Há asas no todo do dia
E o calendário é o voar
A farta vontade do tempo é a vez do rir
E a vez do ir
É o mar.

Há riso no que se é sozinho
Há no todo o gargalhar
E a arte é a razão precisa
De ver, de no todo gostar.

Se tu reparar, o eu é um reparar sem eus
O passo é a razão precisa do existir do andar.