quarta-feira, julho 25, 2012

Felizes

Mais não digo
Eu aqui vendo frutas na janela
Relâmpagos pagãos costurando poemas e linhas perdidas
Eu aqui
E você, onde?

De onde são os mundos? De onde?
Talvez ali caibam questões que dançavam um som ininterrupto de medo
E talvez nós, que rimos do medo, sejamos, não loucos, mas homens
Que nos animados desenhos de nosso tempo aprendemos a rir
Porque a lágrima perdida de ódio, frustração ou dor
Não cabe entre as chuteiras de nossa vida
Ela, assim, languidamente sabedora do risco imenso
De talvez sermos felizes.

Um coração pulsante chamado revolução

Meu coração é planetário
Antes de ser, sou moleque
Talvez nota de violão olhando o sol lá fora
Talvez a raiva ininterrupta de meu som ter deixado mundos pelos gramados
Talvez.

O doce de meu doce não é tolo e nem admira o sonho
Ao sonho o que é de sonho
Ao moleque o que é de troça, o que é de riso, o que é de choro
Ao moleque o ver a rua, o sol e brindar a sorte com a imortalidade
Ao homem aquele dom de ir, aquele dom de não cair e de ver
Talvez com sorte
Um coração pulsante chamado revolução.

Como quem faz-se vivo

O tempo, o sol, as nuvens
As casas cheias, o dom do riso
Este abraço, estas pelejas
Há tanto mar e os sóis que te atacam são meu olhar.

Estrelas costuram mundos
Estrelas cheias de um sorriso
De um afago
De mil outras estrelas
O mar desfaz-me em água
Me faço mar.

Tanto há entre os riscos
Há tanta dor, tanta entranha
Há tanto bem que tudo me parece riso
Riscos são passos, são casas, riscos são nuvens e trigo
Meu sonho vem e entre teus lábios e abrigo
Sorri como quem faz-se vivo.

No peito, no pé

Já não me aguento trágico
Nem procurando uma luz de manhã
Não tenho saco pra rádio
Nem pra comer sempre a mesma maçã
Não acredito em bons modos
Já não suporto sorrir pra correr
Prefiro jegue a moto
Prefiro o sol leve do amanhecer.

Talvez seja a velhice
Talvez seja uma voz,um afã
Uma palavra curtida
Um verso ator, uma palavra fatal
Só como o que for comida
Só cheiro o perfume que faz menos mal.

Não sei se o rumo dos fatos anda apressado como pintam alguns
Meu passo é sempre mais rápido tão ocupado em fugir da luz
Ando assim por ser alto ou por ser muitos moleques, ser dor
Por brincar nada afobado com desenhos que amo com louvor
E qual criança velhaco
Ando assim como a fulgir canções
O que me dói é passado
Prefiro a cor das mil novas manhãs
Pra sorrir a velha turma
Pra beijar a boca de minha mulher
Pra curtir o sol, a sós, as cores, as ruas
A sós com muitos, no peito, no pé.


Findo

Não resolvi se mato ou morro
Se deslumbro maravilhado ou grito por socorro
Só sei que antes de bancar o cruel
Rasgo o bom papel que surta entregando o fino
E antes que me tirem por vacilo preocupo-me com o velho fel
Dos primos.

Não resolvi se esta vida é grande ou se o mundo já cansado peleia pra ir adiante
Só sei que a velha marra que cantou o velho beija-flor costuma perder tirocínio
E nessa dúvida entre ser maldito e lograr um cadafalso pra morrer
Um trampolim pra aparecer
Um senhor jóia pra comer
Sou findo.

Como se fossem Deus

Nem venho ou vou para dar assistências
Pra relogiar existências
Pra causar um frege convicto
Nem há o que clamar
Pois venho sem horas, sem passos, sem ganho
Nem venho, nem volto cantando
Costumo bancar o bandido.

Prevejo o cínico erro de cálculo
A morte dos medos, das luas
E o justo e convicto enredo do ranger das ruas
Nem temo ser simples alvo, pasmo, pasto
Pois sou dos que fogem dos quartos
E vestem-se como se fossem Deus.

Nada é simples

É tão fino
As velhas novidades do tratado reescrito, antigo
Dançam como se o mundo recomeçasse a girar
Nós do povo brasileiro não sabemos nem notar
Vivendo neste instante talvez nem saibamos pronunciar a luz azul que ele traz.

Talvez seja fútil
Nossa preocupação sobre estradas, ônibus, muros
Talvez hajam detalhes imensos a mais
Talvez nosso olhar não esteja pronto pra paz
Talvez da nossa cruz não saibamos tão mais quanto teu som, teu dom, teu olhar.

É porque a mente dessa gente inteligente
É intricada demais
É porque o som da praça nos obriga a duvidar
Talvez seja a pouca fé que o caminho nos faz levar
E se subitamente o dom da nossa gente resolva se adaptar
Eu insisto que não nos leve a mal e por favor venha nos iluminar.

É tão rico
Que o brilho nos esconde o estranho, absurdo e aflito
Jeito dessas coisas pouco se sustentar
Imerso neste já brejeiro exigente real
Que não nos cobra sucesso, apenas o fatal concreto pus do dia, nada mais
Nada é simples.

terça-feira, julho 24, 2012

A cerveja do amor

As luzes móveis partilham o sim e a cínica grade
As cores móveis sussurram um paradisíaco fim
As lajes movem-se firmes perante a sinistra saudade
Eis a cidade, o futuro, o precipício carmim.

As luzes móveis são isso e a nota singela da tarde
É que todo o hoje é um espelho deste pretérito porvir
Que sem cruzes presidimos como feras
Já sem Deus, sem desmorrer, sem calor
Como quem traduz delírios nas janelas
Como quem dá-se ao mundo sem sabor.

As luzes móveis deliram na rua, na porta da frente
À vida o grito sugere que deite-se ao fim destes discursos, destinos
E vozes que morrem-se carentes
Ante aos muros corcundas antevejo-me sim
E do lado escondido das estrelas
Entre os medos de desmorrer e o amor
Procurando um tolo alívio entre as pernas
Bebendo a cerveja do amor.






Deste inverso cordão

Deuses desviam-me os passos
Encontro afagos por entre as sarjetas
Casas com mil ombros largos
Janelas sem portas
Mesas sem saletas
E tudo o quanto eu disse
Perde-se entre o barro do chão
Quebrado em mil estilhaços
Exposto em febre aos ladrões
Que hoje carrego comigo
Como quem cobre a cabeça e os descobre amigos
Parceiros contra as cercas
E entre os versos o vão é meu gesto.




Há rir, há olhos, espelhos
Dispostos passados expostos na mesa
Há ir, há matos, há morros
Há tanto espaços calados entre cercas
E tudo o quanto eu disse
Desenha-se nova canção
Corre entre meus dedos parcos
Espelhos, vértices, pães
Com o que alimento mendigos
Com o que desenho cabeças
E expondo-me ao perigo
Desejo que me ergas entre versos e o chão
Entre invernos.


Há mil desejos e plantas
Espantos e feras, escadas e estrelas
Há rusgas, lastros, compassos
Vidraças quebradas
Mulatas, muletas
E tudo quanto eu disse
Não é apenas canção
Há meus espasmos, meus passos
Minha vontade entre ladrões
Que hoje trago comigo
Como quem burla das cercas
As expansões e os perigos 
E em vão dão-se qual presas
Deste imenso cordão
Deste inverso cordão.





quinta-feira, julho 12, 2012

Como quem não quer nada

Escrevo meus passos com dedos e almas
Almas armadas de pedras de caminhos muitos, cruzes expostas
Pernas negras espalhadas
Canções e reparos
Abraços e violas
Cervejas e ruas noturnas.

Escrevo por não saber voar
Escrevo pela natureza de existir como quem devora
Escrevo por fim por insistir
Assim como quem não quer nada.

segunda-feira, julho 09, 2012

Dêem-nos o mundo

É tanto a palavra castrada
É tanto a fala alterada
O murro qual dito rasgado
No vento que é dentro de mim.

É tanto o muro sem viço
A pele queimada, o cisco
A vida na estante do vício
Um rei e outro rei sobre mim.

É tanto a feiúra das coisas
É tanto a doença dos frutos
É tanto o mal nas pessoas
E tudo assim ser um fim.

Mas há, há de haver, outro sino
Um rumo, um segundo preciso
Um grito alucinado e íntimo
Um ir como que já sem fim
Pois tanto se foi desse riso
Tanto se foi tão preciso
Tantos já foram precisos
A regar futuros sins.

E hoje já não se esperam furtos
Já não se esperam palavras
Já não se espera mais nada
Deem-nos o mundo enfim.

Militante

Arme dos olhos o mundo
Arme de mar os dedos
Arme o olhar de medo
E as pernas de coragem
Arme o segredo de surdos sentidos
De ruas
Arme os ares de nossas artes.

E quando as trevas nos tocarem o dia
Quando a esperança cega
Nos der coragem
Percamos a bondade
Toda a sanidade pode nos parar.


E é tudo eternidade
É tudo uma vontade
A ação que arde
O vento a destoar o som que nos mata a mente
Que nos cala o fruto
Que nos perde o sêmen de toda eternidade
E o alarde de nossos sonhos
É somente o segredo que chama-se novidade.

Dando pau no pau dos reis

É uma fome, um navegar das noites
Uma arte de sair da cama
Uma nódoa de mundo na lama
Um lirismo de povo.

É um riso criado nas noites
Um cinismo já bom de uma cama
Uma aspa desnuda na chama
Uma forma de horrores.

E na ânsia de destoar do riscado
A esperança dá golpe de luz nos espelhos
E na ânsia de destronar o espaço
A esperança vem mais uma vez.

É uma forma de mar, uma fome
Um diário riscado de lama
Uma faca que corta o drama
De velhos bons atores.

É uma ladeira de ar, um açoite
Pés a pé sobre calçadas cruas
Ruas nuas, vadias, noturnas
Somos nós cá de novo.

E é da lama que vem o mar dos descalços
Nós a sós solamente sujos de medo
Nesta gana de destoar dos mil brados
Dando pau no pau dos reis.



Não me sentir vivo

Não digo que sei das coisas os velhos laços
Das ruas os velhos tiques
Dos mundos velhos cansaços
Das luas novos trambiques.

Não digo que sei das moças novos apetites
Dos velhos sorrisos fúteis
Dos cães outras correntezas.

Digo nos meus olhos
Digo em sorrisos
Nasci pra ser e ver o velho som de todos os cisos
E pra perder a razão
Sou meu risco e o impossível
É não me sentir vivo.

Somos todos noite

Ergue o dia um sol e clama uma nova chama
Ergue o sol o dia
E nas artes as pernas, as cores
São todas novas
Porque finas as artes.

Na esperança que ruma mansa
Vemos distâncias
Somos todos noite.

quinta-feira, julho 05, 2012

Sangue de reis

É uma forma de mar ser tão noite
Ser tão lua em forma de drama
Em espaços e ruas e camas
Somos tudo de povo.

É uma forma de gênero humano
Um cantar de solares mil dramas
Um pintar enxurradas de lama
Um caminhar sendo novo.

É uma forma de voar ser a noite
Destilada na alma do fogo
Sendo a dança suicida das cores
Somos nós os ardores.

E se em frente ao máximo humano de nascer dominado por magos
De apanhar como uma face do gado
Explodirmos em tambores?

A esperança não é esperar o passado
Não é costurar medos entre os dedos
A esperança não é bailar com cagaços
É  lambuzar-se com sangue de reis.



Apenas um menino

Eu Rio e só sei das nuvens certezas loucas
Das cores detalhes, filmes
Das gentes muitas pessoas.

Eu Rio e nem sei se há tantos bons mil mundos
Se vencem todos os príncipes as batalhas das coisas boas.

Não optei o óbvio
Não aprendi ser fino
Não sei da lei ou rei o melhor dos motivos
Nasci assim no chão de meus próprios desatinos
E assim sou menino
Apenas um menino.

As Feministas

Era somente uma poesia
Sendo também somente Ela
Mudava coisas, ia à frente
E eu aqui olhando a vela da nau do mundo em mil lugares
Para além do meu país
Ela a amada, o amargo, a trave
Ia longe demais
Tão longe de mim.

Já era tão outras
Já muita gente
E eu não mais o mesmo cara
Mudava as coisas naturalmente
Voava ali e lá
Às asas que nem fui eu quem me dei
Alado amante dos movimentos febris
Do queimar já delas, sempre galantes
Corpos que faziam a alma tão feliz.

Passeando firme, cartaz à frente
O fatal agora em mim
É que naturalmente
Feministas sejam um mundo em mim.

PS: Poema inteiramente inspirado na canção "As Atrizes" de Chico Buarque .


segunda-feira, julho 02, 2012

Nascer

Canções e poesias dobram esquinas
E argumentam
E lamentam
E iberizam
Mouriscam
Ciscam nas gavetas do peito.

Bom é o som da forma de viver
O riso é um grito, um ritmo
Que nasce em pleno ver
Frase a frase os automóveis desenhando contornos irrespiráveis
Escrevem o horror
A cor da hora
O nascer.