terça-feira, julho 24, 2012

Deste inverso cordão

Deuses desviam-me os passos
Encontro afagos por entre as sarjetas
Casas com mil ombros largos
Janelas sem portas
Mesas sem saletas
E tudo o quanto eu disse
Perde-se entre o barro do chão
Quebrado em mil estilhaços
Exposto em febre aos ladrões
Que hoje carrego comigo
Como quem cobre a cabeça e os descobre amigos
Parceiros contra as cercas
E entre os versos o vão é meu gesto.




Há rir, há olhos, espelhos
Dispostos passados expostos na mesa
Há ir, há matos, há morros
Há tanto espaços calados entre cercas
E tudo o quanto eu disse
Desenha-se nova canção
Corre entre meus dedos parcos
Espelhos, vértices, pães
Com o que alimento mendigos
Com o que desenho cabeças
E expondo-me ao perigo
Desejo que me ergas entre versos e o chão
Entre invernos.


Há mil desejos e plantas
Espantos e feras, escadas e estrelas
Há rusgas, lastros, compassos
Vidraças quebradas
Mulatas, muletas
E tudo quanto eu disse
Não é apenas canção
Há meus espasmos, meus passos
Minha vontade entre ladrões
Que hoje trago comigo
Como quem burla das cercas
As expansões e os perigos 
E em vão dão-se qual presas
Deste imenso cordão
Deste inverso cordão.





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