quarta-feira, junho 02, 2004

Concebendo Deus

Falar ou escrever sobre deus obedece a diversos problemas, inclusive a questão da limitadíssima semântica.Mas o maior problema de todos é considerar a diversidade de sensações ou explicações plausíveis que zanzam por aí sobre este "ser".

Não quero aqui nem tentar dar uma visão definitiva da Divindade, apenas achei necessário opinar de alguma forma sobre os sentimentos que envolvem a noção de Deus.

Como Umbandista tive a oportunidade de travar contato com os mais diversos conceitos e sensações que giram em torno do conceito de divindade, de noções de Budismo a animismo, passando por um fundo cristão,mas o que mais me chamou a atenção foi o fato de todas, a meu ver, apontarem para um mesmo e definitivo caminho, uma mesma e definitiva, para mim, explicação sobre a existência de Deus.

A existência de Deus, tanto intelectualmente como emocionalmente, passando pelo lado sensorial, ficou mais do que patente, sem dúvidas, com a fé se materializando de forma independente de preconceitos ou medos que, porventura, pudessem estabelecer-se entre a Divindade e este que vos escreve.E isso jamais ocorreu por lavagem cerebral ou milagres que possam e com certeza aconteceram, mas por um processo mais prozaico, o da indubitável existência da vida e de seu processo de perpétua transformação.Essa perpétua vida, que ocorre em todos os níveis, seu princípio ativo de transformação, me colocaram na posição dos que têm mais do que fé na existência de Deus, me colocaram do campo dos que tem certeza absoluta nisso.

Alguns podem até dizer que o texto acima cabe normalmente em um contexto de proselitismo ou defesa sem bases da existência de algo invisível ou só visível no plano individual, e eu concordo no que se refera à segunda colocação, dado que jamais poderia impor a existência de algo tão íntimo quanto meu Deus a qualquer ser pensante no universo e mesmo por acreditar firmemente que o processo de conheicmento, descoberta ou aceitação da divindade nada mais seja do que um processo individual. Pelo motivo exposto discordo da contextualizaçào do assunto no campo do proselitismo, até porque procuro a reflexão e a discussão, jamais a aceitaçào cega do que proponho como lei.

Assim o pensar sobre Deus para mim adquiriu um dado novo, o dado da descoberta de facetas ainda não absorvidas dessa divindade tão próxima do que sinto.A descoberta do Meu Deus, já factual, além de não me prender à cadeira, mergulhado num mar de certezas absolutas, apesar de acabar com a dúvida relacionada à sua existência, lançou-me no caminho da descoberta diária dos processos de transformação da vida, em busca de mais dados que me permitissem compreender melhor os processos divinos, suas inúmeras faces, seus "desígnios", seu "caráter".

Como era natural, a ciência desempenhou um papel de grande valor nesta busca, até porque o cerimonialismo e o hermetismo da magia sempre me irritaram. Inicialmente o conhecimento comum foi o néctar que bebi de forma abundante para a obtenção de mais e mais dados, néctar mágico que posteriormente eu deixaria de lado, em busca de um pragmatismo "científico" que me livrasse das "prisões" ritualísticas. Depois a própria ciência se detinha ante a dúvida perpétua e estéril à qual se abraçava em nome de um ceticismo já sem motivo algum para existir. e qual o resultado final disso tudo? a percepção do conhecimento de Deus como um complemento necessário do conhecimento científico, material, com o mágico e imaterial conhecimento que se esconde entre os dedos rituais.

Daí que cheguei à iluminação e virei Buda? Nada,apenas percebi em mim o lançamento de um ser que vivencia a teoria, e compreende o ritual um pouco mais, apesar de ainda o achar irritante. O que antes era um asco que era aceito por hipocrisia, hoje é um pequeno sacrifício em nome de uma ação que me permita desligar das limitações do verbo e da visão. Assim meu coração, perpétuo guia, me permite ser um pouco mais ritualístico, e mais e mais empírico, indo inclusive na direção, a meu ver correta, da busca incessante por conhecimentos, que me libertem da visão estreita do dia a dia.Complicado? extremamente, é como explicar um orgasmo.

Mas porque essa textalhão inútuil? Pela percepção clara da necessidade de Falar de Deus quando se compreende desde sua face masculina e feminina até a incrível constatação do universo existir, independente de como ou porque. Assim a percepçào que um Deus Sol e uma Deus Lua, apesar de nítidos, existentes, são pequenos diante da incomensurável legião de Sóis e Luas que habitam o Deus universo. E os Orixás e Deuses? Da mesma forma são importantíssimos, mas quantas formas de "forças da natureza" existem num universo do Tamanho que é? Inúmeras, nem sequer cogitáveis pela mente humana.Sacaram?

Continuo a acreditar em Sóis, Luas e Orixás, mas só a possibilidade de pensá-los em contraposição à existência de milhares de outras possibilidades para eles ou iguais a eles, me lançam novamente no caminho da descoberta de Uma Divindade extremamente mais linda e poderosa do que eu intuía dias atrás.

E que resulta de prático nisso tudo? Uma sensação, única e fortíssima que tudo é apenas um pálido jogo de conscientização do ser rumo à essa divindade, porém infelizmente essa é uma sensação que, honestamente, só posso partilhar comigo mesmo. Lanço a refleXão, que ela possa ser de alguma utilidade aos demais.

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