segunda-feira, outubro 26, 2009

Artes da morte


Ri-se
E a lida retoma seus instantes
Em paz me sou o tom inevitável
Reduzo-me a um não ir
Grito sílabas, atos
E torno-me silenciar
Algo em tom lancinante.

Ri-se da lida
Na pálidez do antes
A loucura que soa em sons gigantes
Espelhados em vidros e pedaços
Assim qual uma dor, uma cor, um fado
Entre meus olhos e os seus
Existem montes.

Me vistes?
Há cinzas na minha surdez
Em instantes a rua me toma em África
Em corpos deitados, fábricas
Lucidez me afasta dos Brasis
Pelo modo mais calado
Do viver e de suas festas
Há pedaços de macumba
No meu nome de mulher
Eu menino, menininho
Brinco em pedra, pó e pé.

Me vistes?
Reduz a cor do antes
Dê-me um cobertor
E vê o coberto se afastar
Vê a cor, o odor?
Crê, toda a cor vem do mar
Enquanto as praças sucumbem aos fortes
E na fé reli
Reli o amor
Fui na fé eli
Um sim, uma cor.

É noite! A praça se imuniza em morte.

E a voz da velha Freira que nadava empaz no mar
Se reconstrói entre os dedos de um rapaz sem lar
E grita um tonto e reduzido instante
Assim como se abrem horas
Assim como se cortam as cordas
Espero a calma reduzir-me as horas.

O grito à noite é vítima
Das luzes, cores e pistas
Que corta as cordas da artes da morte.

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