segunda-feira, abril 30, 2012

Arte-Perdição

Não quero uma poesia que me acalme, não quero
Não quero uma poesia
Quero invariavelmente ser incendiado dos ódios e amores que compõe minhas veias
Quero a agonia de pular do ônibus em movimento, de ter medo de altura no alto do pico do papagaio
Quero o inferno da dúvida, quero a coragem da certeza.

Não quero saber da arte oposta ao mijo na rua
Não quero a arte de gola rolê e nem o assobio envergonhado da arte que não desnuda
Não quero o cinema moço janota das esquinas do Leblon
Eu quero um filme subúrbio, uma poesia puteiro de Madureira
Um samba canção feito nas coixas da mulata.

Não quero as palmas engravatadas, caladas
Quero a baioneta calada da ironia, o sangue nos olhos do poeta
O ator enlouquecido que se acha Napoleão
Não quero nada disso
Eu quero é que se foda
Eu quero a arte mordida na orelha
Uma arte trepada nas escadas, comida, encoxada
Amada pelo instinto nu e criminoso da liberdade.

Eu quero uma arte infinita, como a perdição.

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