sábado, abril 14, 2012

Pequeno mapa do poeta

Não sei amar de menos, nem metade, nem desamar.

Também não sei sair do quadrado do acordo, do dizer, do formar, do definir e isso é meu, construí-me assim, dói às vezes porque acabo sem saber dançar, mas desdói quando mostro que sei correr, pular, voar, construir muros, pontes e poemas e teses.

Gosto muito de um verso que fiz recentemente, é um dos poucos pelos quais tenho xodó: Meu peito é Ícaro, é poesia. Meu olho é Galileu.

Esse verso diz muito de mim é quase um verso interno de Fado Tropical amaciado. É um "Meu coração tem um sereno jeito e as minhas mãos o golpe duro e presto, De tal maneira que, depois de feito, Desencontrado, eu mesmo me contesto.". 

Construo amores, amizades, carreiras, sonhos  e nem sempre consigo-os concretizar tanto pela ansiedade, mas muito porque Ícaro derrete-se ao sol da realidade, mas Galileu percebe e salva a alma ao pensar no que fazer e decidir que "No entanto ela se move".

Galileu mostra a Ícaro que o voo queima, mas que pode um dia não queimar.

Não sei amar sem estar vivo, pleno, sapiente, com o drama do inconsciente, do ciume. Não sei amar sem me amar e sem entender que quando a dor é maior que o prazer é melhor ir embora.

Prefiro ir embora a transformar um amor em uma punição dupla, em  um monte de tijolos de uma casa que construí sem perguntar pro morador se ele quer.

Sou rápido demais, tenso demais, duro demais, frágil demais, flácido, moleque, tonto, cego sensível, insensível, humano enfim.

Não me aturo às vezes, imagino os demais que não tem o bônus de ver um sol de manhã e sabê-lo verso.

Me dói demais ir embora, sempre.  Talvez por isso seja sozinho na maior parte das vezes, porque não sei ir embora deixando-me ali indo pra outro lado.

Sinto a cor e a dor dos irmãos e amores que tive, tenho e terei.

Por mim? Ou amaria a mesma mulher que primeiro amei ou amaria todas ao mesmo tempo.

Espero um tigre para amar, mas o trato como se fosse um cão de estimação.

E nisso aprendo-me mais e a cada dia me torno mais aquele que espera o grande amor que me reconheça  ao tomar café comigo e ver uma manhã com meus olhos.

Uma vitória? Desfazer equívocos, trazer de volta quem se foi. Uma grande Vitória? Acordar poema.

Nesses dias eu doí, chorei, acordei, ri, reaprendi mais um pouco de mim, vi um mundo abrir, ganhei um livro, dei aula, poemei, pensei futebol, chorei amor, aprendi amigo, transei transa, comi biscoito e ouvi Caetano.

Nesses dias Ri Malês, Falei Escravos, Aprendi Classe Operária, Queijos e Vermes.

Não sei quem sou hoje, não sou quem fui.

Gosto disso, de ir brincando, de ir assim, como quem cresce.

Gosto de ser Malê, Lisboa, Porto, Rio, Madureira, de chorar por saudade, de chorar de ternura, de amar com fome, de querer de novo de ir atrás de tentar que todos riam, que todos fiquem felizes.

Gosto de quem gosto e digo que gosto. Gosto de morder quem não gosto e de tratar com pelúcia a quem gosto.

Eu gosto de estar ali.

Obrigado, muito.


Nenhum comentário: