quarta-feira, fevereiro 15, 2006

Criando caminhar

Havia dor de Avô
Flor de Fulô
Palavra que tudo reduz
Quando em bumbo cantada
Feita voz que tudo determina
Ao simples relar
Faz-se relar
Neste caminhador
Que é o mundo
Meu lar.

Hoje me largo nas roças
do meu coração
Lembro da vó
Roço meu sentimento
Tenho medo
Tenho só
Cantando samba do tempo
Onde rolava na canção
Dor de sofrer pelos ventos
De fome e ingratidão
Preto no meio da alma e lusitano nas cantigas
Jogo jongo pelas lidas
Destas trilhas.

As trilhas onde meu Vô
Velho Avô
ensinou-me o rumo dos mundos
Que hoje cantadas
Têm a voz, o controle e a rima
Deste meu olhar
Velho olhar
Moleque que foge das correntes de se amarrar.

Hoje me largo no poço onde criei sol
E criei cor
E onde bebi sedento
Àgua de barro
Com o Sabiá nas janelas do meu peito
E coração
Com meu velho sentado
Me explicando confusão
Sabendo ver nas histórias do povo
Nestas razões sem mais razão
Algo como um tempo, um exemplo, uma visão
Sabendo ser liberdade
E brigando pelas trilhas
Que talvez só sejam vida.

Vou nas quintas
e vinhas
Do meu sabor
Este sabor
Sonhado nos sambas em cruz
Que tremulam na alma
E nas manhas
que tão determinam o meu olhar
Meu próprio olhar
Que hoje tenta ser sereno
Criando caminhar.

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