segunda-feira, janeiro 12, 2004

CÚPULA A PERIGO:Monterrey: não há acordo entre EUA e latino-americanos

Fonte: Vermelho

CÚPULA A PERIGO
Monterrey: não há acordo
entre EUA e latino-americanos

Divergências irredutíveis, sobre a Alca e outros temas, continuavam impedindo na noite de ontem a redação de um rascunho consensual da Declaração Conjunta da Cúpula Extraordinária das Américas. A Cúpula, começa oficialmente hoje à tarde em Monterrey, no norte do México, com a participação dos chefes de estado e de governo de 34 países americanos.

O subsecretário para América Latina del Ministério de Assuntos Exteriores mexicano, Miguel Hakim, informou que não havia acordo sobre quatro parágrafos do documento. Ele chegou a prever que as discussões irão até o final do encontro. É ele que vem presidindo as difíceis negociações, que esbarram em discordâncias entre as bancadas latino-americanas e a dos Estados Unidos.

Este é um episódio sem precedentes na história da OEA (Organização dos Estados Americanos), que promove a Cúpula de Monterrey. A praxe, nestes casos, é que o rascunho do documento a ser aprovado na cúpula seja acertado com uma antecedência confortável, com a construção dos consensos possíveis por parte dos representantes diplomáticos de cada país. Os governantes apenas assinam o texto já pronto.

Quatro parágrafos polêmicos

Um dos parágrafos de discórdia deve-se à oposição generalizada à proposta, reapresentada pelos EUA, de excluir da OEA os países considerados corruptos. Os latino-americanos argumentam que não haveria como estabelecer qual o grau de corrupção que justificaria a penalidade. E vêem na proposta mais um instrumento de ingerência estadunidense na região.

Outros dois parágrafos estão empacados por divergências entre os EUA e o Brasil, que é um dos pólos das resistências latino-americanas. Num deles, a delegação norte-americana insiste em mencionar a data de 1º de janeiro de 2005 para a implementação da Alca. O outro ela pretende fixar prazos para a redução das remessas de dinheiro dos emigrantes latino-americanos, dos EUA para seus países de origem.

O quarto parágrafo polémico é a proposta da Venezuela, de que se crie um fundo humanitário internacional.

"Há muita oposição"

Os latino-americanos insistiram para que a Cúpula das Américas se voltasse para a discussão da agenda originalmente acertada: pobreza, desenvolvimento econômico e social, democracia. "Há muita oposição", comentou ontem para a Reuters um delegado latino-americano que pediu anonimato. "A Cúpula é para reduzir a pobreza e fortalecer a democracia. Não devíamos permitir que ela perca este foco", agregou.

É sobre esta temática que falará o presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, na manhã de terça-feira. O Brasil encabeçou a oposição à visão que punha as relações comerciais no centro do encontro. E, embora apoiando medidas contra a corrupção, critica a idéia de expulsar os países corruptos.

A Venezuela concorda. "Acreditamos que haveria o risco de que este mecanismo fosse utilizado como uma represália política contra qualquer governo", argumentou ainda para a Reuters o embaixador venezuelano junto à OEA, Jorge Valero.

Enquanto isso, começaram ontem, com uma passeata contra a Alca, os protestos contra a presença do presidente norte-americano geiorge W. Bush em terras mexicanas. Clique aqui e leia mais.

No pano de fundo das divergências, com os governos e mais ainda com os povos, está o resultado das políticas neoliberais preconizadas por Washington e aplicada, com gradações de zelo, por muitos dos governantes latino-americanos da década passada. A nova América Latina que vai emergindo neste início de século mostra-se bem mais rebelde que aquela dos Carlos Menem, FHC e Andrés Perez.

O presidente da Venezuela, Hugo Chávez, antes de embarcar para o México, exprimiu esta idéia em seu estilo peculiar e deabrido. Ele pediu que o governo dos Estados Unidos "entenda de uma vez que os governos entreguistas estão se acabando na América Latina".





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