sexta-feira, janeiro 16, 2004

mumbai 2004 :Abertura do FSM hoje contará com personalidades de todos continentes




Hoje, às 16h de Mumbai (8h30, horário de Brasília), começa oficialmente a quarta edição do FSM. O evento de abertura terá desde apresentações musicais e de dança de grupos indianos e do brasileiro Instituto como também um ato político com a participação de personalidades reconhecidas internacionalmente na luta por um outro mundo.

Entre eles, destacam-se o brasileiro Francisco Whitaker, um dos idealizadores do encontro, a iraniana Shirin Ebadi (prêmio Nobel da Paz em 2003), os indianos V. P. Simgh (crítico literário) e Lakshmi Sehgal (líder da esquerda no país, primeira candidata mulher à presidência da Índia, em 2002), o palestino Mustafá Barghouti (co-fundador de uma rede de entidades de oposição na Palestina ao lado de Edward Said), o argelino Ahmed Ben Bella (líder do movimento de independência e primeiro presidente do país após a independência), além do britânico Jeremy Corbin (líder do partido trabalhista e que comandou a campanha anti-guerra na Inglaterra).

Nessa primeira conferência estarão presentes personalidades de todos os continentes, como uma demonstração da preocupação planetária do evento e sua intenção de romper ao máximo as fronteiras geográficas. Nesta edição já haviam se credenciado até a última quarta delegados de 132 países. A expectativa é de que em números o Fórum de Mumbai supere o de Porto Alegre. Alguns dos organizadores falam em 150 mil pessoas.

Realidade asiática

“Para os brasileiros que vieram a Mumbai, está sendo um choque cultural muito grande”, afirmou ontem Francisco Whithaker. Na véspera da abertura do maior evento internacional da sociedade civil organizada, a pobreza nas ruas da cidade que sedia a 4o FSM é assunto dominante nas conversas de brasileiros que chegam para o encontro. “Nunca vi tanta gente dormindo nas ruas”, disse Luiz Carlos Seixas, da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, sobre as centenas de pessoas que viu deitadas ao relento no trajeto do aeroporto até o hotel.

Confrontar os ocidentais com a dura realidade asiática foi um dos objetivos do deslocamento do FSM, este ano, da tranqüila capital gaúcha para a caótica ex-Bombaim, com seus quase 20 milhões de habitantes e ruas apinhadas de pessoas, carros e motocicletas. Para os organizadores, a grande diferença entre o 4o FSM e os três encontros anteriores em Porto Alegre é o evento estar sendo realizado em 2004 em uma cidade que é o retrato de toda a miséria produzida pelo capitalismo. Segundo os organismos internacionais, apesar de a Índia ter um dos mais altos Produtos Internos Brutos do mundo (13o maior, em 2000), 600 milhões de seus mais de 1 bilhão de habitantes vivem na miséria.

“Eu acho que isso (o choque dos brasileiros com a pobreza) faz parte do aprendizado de que somos uma só humanidade e de que somos co-responsáveis pela humanidade toda”, disse Whithaker. “Por que isso acontece na Índia? Quem já analisou, sabe que é todo um sistema econômico e político que determina isso”, disse o brasileiro. Na avaliação dele, a miséria, tanto na Índia como no Brasil, só acabará a partir de uma união da sociedade internacional. “Há toda uma descoberta de uma solidariedade planetária, que é um pouco o que está acontecendo no processo desse fórum”, explicou.

Últimos preparativos

As conferências, exposições e debates do 4o FSM serão realizados em pavilhões simples e empoeirados, em uma antiga fábrica que virou centro de exposições, na periferia de Mumbai. Ontem, dezenas de voluntários e operários ainda pregavam painéis, pintavam e varriam os pavilhões para que o local possa abrigar, com algum conforto, as cerca de 100 mil pessoas aguardadas pelo comitê organizador do FSM.

Apesar do atraso na preparação, o clima era de entusiasmo entre os membros do comitê e os brasileiros que chegavam para dar uma olhada no local. Havia temores de que o evento não chegasse a acontecer, porque os cerca de 100 grupos indianos responsáveis pela realização do FSM não receberam ajuda nem recursos financeiros da administração municipal de Mumbai, considerada politicamente de direita. “O fórum está mais bem organizado do que em Porto Alegre”, comemorou Whithaker, lembrando que, no ano passado, o evento começou sem que houvesse nem sequer um programa para ser distribuído aos participantes. “É a consolidação da possibilidade de podermos fazer fóruns como esse no mundo todo”.

No início da tarde, foi realizada no local a primeira atividade do Fórum deste ano: uma coletiva de imprensa dada pelo Comitê Indiano do Fórum Social Mundial. Nas primeiras horas da manhã do dia começaram a se formar as primeiras filas para retirada de crachás e credenciamentos. De todos os lados, os triciclos pintados de preto e amarelo chegaram carregando estrangeiros para o evento.

Surgimento

De 21 a 23, em Davos, na Suíça, ocorre o tradicional Fórum Econômico Mundial. Lá, economistas e representantes de diversos governos estarão debatendo o mundo sob a ótica neoliberal. O encontro nos Alpes suíços ocorre desde a década de 70 e foi a principal referência para a criação do Fórum Social Mundial.

Em 2000, os brasileiros Oded Grajew (hoje na direção do Instituto Ethos) e Chico Whitaker se reuniram com o diretor do jornal Le Monde Diplomatique, Bernard Cassen e tiveram a idéia de organizar um evento que iria "acabar com Davos", nas palavras do jornalista francês. Em 2001 e nos dois anos seguintes, 20, 50 e 100 mil pessoas respectivamente estiveram reunidas em Porto Alegre para mostrar e pensar um outro mundo possível, longe do modelo neoliberal.

Como espaço de troca de idéias e experiências por parte de entidades não governamentais, o FSM está mais do que consolidado, da mesma forma que os fóruns regionais e temáticos. O grande objetivo é encontrar formas de tornar mais concretas as propostas e alternativas pensadas e apresentadas no encontro.

Com agências nacionais


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