quinta-feira, junho 19, 2003

A idéia de século





Vendo uma entrevista com o Arrigo Barnabé sobre sua música,o nascimento do movimento Vanguarda Paulista, sua explêndida cultura musical (Que infelizmente não consigo acompanhar),um assunto me chamou especialmente a atenção. Quando ele foi indagado pelo Rodolfo Botino (A Entrevista era para o Gema Brasil da Tv Cultura), sobre quando foi criado o sistema dodecafônico, ele disse que havia sido no começo do século, tendo sido gentilmente corrigido pelo entrevistador, que afirmou que ainda nos enrolamos coma idéia de século, nós nascidos no séxulo XX.

O que me chamou a atenção foi a forma como ficou patente que o tempo é um elemento absorvido individualmente de forma diferenciada.

O que é um século, a história do mundo durante cem anos, para um indivíduo,que em geral vive menos tempo e tem a existência marcada pelo cotidiano?

O tempo então assume um caráter ilusório se marcado pelos fatos históricos e pela divisão clássica ocidental. Os anos, os dias, a vida, conforme os formatos impostos é uma ilusãocompleta, pois para a existência individual, o que realmente marca é ocotidiano fluxo de acontecimentos aparentemente banais que compõe sua vida.

Claro que não podemos desprezar a história, a forma como a humanidade registra os acontecimentos marcantes para a coletividade,mas nunca podemos também permitir que o coletivo supere o individual,pois a existência individual é que permite que os diversos "tempos" se tornem uma dimensão partilhada por todos.E é aí mesmo que eu queria chegar.A impressão que eu tenho ''e que o tempo, por ser uma medida individual,é, hoje, tolhido pela medida coletiva que se tornou um impedimento, uma totalitária forma de destruição da riqueza do indivíduo em nome de um organismo coletivo chamado sociedade. Ao contrário da cultura, que é enriquecida com a existência das experiências individuais, a sociedade se perde quando o indivíduo percebe que, por mais que a união de interesses comuns seja interessante, apenas com seu completo desenvolvimento individual, apenas com a manifestação máxima de sua individualidade há espaço para uma existência coletiva equânime e realmente feliz para todos.A sociedade age em nome de uma cultura coletiva que ela mesma nega quando inibe a manifestação individual com a ditadura dos grupos.

O tempo neste caso assumea mais simples forma de percepção de como o grupo tolhe o indivíduo em nome da manutenção de um status quo que é falsamente identificada como a manutenção do sistema cultural comum que permite nossa convivência como sociedade. O tempo coletivo hoje é uma arma de destruição daqueles que ageme vivem de forma individual contrária ä idéia d eum status quo limitado às convenções do sistema cristão e ocidental de comportamento e medida de tempo. Enquanto isso, de forma mais próxima ao real, os indivíduos vivem em faixas de tempo diversas que podem mesmos e tocar e formar algo semelhante a um tempo comum, porém são faixas dimensionais separadas. Ao contrário do que se pensa, cada indivíduo trabalha e vive em faixas dimensionais, freqüencias, diferentes dos demais, a ilusão que se forma com a imposição cultural de igualdade, é apenas isso, uma farsa que aceitamos.

A idéia de século para o Rodolfo Botino e para o Arrigo Barnabé são completamente diferentes, e podemos dizer que ambos vivem emséculos diversos tb, que se tocam quando suas freqüências partilham por alguns momentos de uma mesma faixa, de um espaço onde se cruzam as mais diversas linhas possíveis.Como se fosse um limbo onde a existência individual pode partilhar de outras existências e experiências, o tempo coletivo é apenas um espaço uma ante sala onde se cruzam faixas,linhas, diferentes com formas diferentes de perceber o próprio tempo.

Concluindo.Quando a percepção do tempo se une sem que se imprima uma pressão que nos força à existência comum, onde nossa individualidade é roubada e tornada um estorvo para o dito coletivo, o tempo assume perfeitamente o caráter natural de tempo coletivo, pois ele nada mais é que uma encruzilhada, porém, quando o tempo é engolido como um sapo por força dos ponteiros torturadores de um tempo abstrato, o status quo age, e da forma mais perigosa, aquela onde o pensamento entranhado já deixou de pertencera alguém ou a algum grupo, mas é como um vírus que prende todos nós na cadeia mortal da existência.

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