Há trinta anos, acontecia a revolução iraniana. Foi um golpe para o imperialismo dos Estados Unidos e mostrou o poder dos trabalhadores do Oriente Médio – Simon Basketter.
O governo dos Estados Unidos odeia o Irã. É que o povo iraniano derrubou um ditador violento em 1979. E ao fazer isso também impôs uma derrota ao imperialismo americano no Oriente Médio.
Até a revolução de 79, o Irã – ao lado da Arábia Saudita e Israel – foi central para a manutenção de política dos Estados Unidos na região de assegurar a estabilidade e a segurança do fornecimento de petróleo para os países ocidentais.
O soberano do Irã, o xá, foi um ditador colocado no poder em 1953, depois de um golpe organizado pela pelos serviços de espionagem americano e inglês.
O golpe de 1953 derrubou o primeiro ministro iraniano Mohammad Mossadeg.
Os líderes britânicos e dos Estados Unidos ficaram furiosos com Mossadeq porque ele estatizou o setor de petróleo que era administrado por capitalistas ingleses.
A partir do início dos anos 1970, o Irã tornou-se sede das atividades da CIA no Oriente Médio, com 24 mil “conselheiros militares”. Também se tornou o maior importador de armas do mundo naquela década.
Os ingleses apoiaram o xá incondicionalmente até sua queda.
Os documentos recentemente lançados mostram que o embaixador britânico do Irã informou em 1978: “o país e do governo continuam sob total controle do xá. As forças de segurança permanecem eficazes e, acredito, leais ao xá”.
“Não prevejo nenhuma preocupação séria no futuro próximo. Haverá altos e baixos, mas em curto prazo penso que o xá não deverá fazer qualquer alteração radical em sua política e será capaz de continuar governando sem qualquer oposição verdadeiramente perigosa.”
O embaixador não podia estar mais errado.
O xá tinha promovido um duro programa de desenvolvimento capitalista (inclusive de tecnologia nuclear) que deixou de fora parte importante dos setores religiosos tradicionais e milhões de pessoas pobres que haviam deixado a zona rural para buscar sustento nos bairros pobres das cidades.
A pior pobreza convivia com grande prosperidade. Divergências políticas foram cruelmente esmagadas e as minorias nacionais sofreram a terrível opressão.
Esmagados
O xá também esmagou toda a oposição da classe trabalhadora e a esquerda – encarcerando e torturando mais de 20 mil presos políticos.
O governo do xá parecia invencível. O serviço secreto, conhecido como Savak, estava em todo lugar. Sindicatos somente podiam funcionar com autorização dele.
Mas em 1975 uma queda nos preços do petróleo – principal fonte de renda do Irã – levou a uma séria crise econômica. A situação provocou grandes protestos que logo levariam à derrubada do xá.
Enquanto o clero muçulmano havia conquistado apoio entre os pobres, a esquerda concentrou-se em uma luta de guerrilhas contra o regime.
Em junho de 1977, aconteceram os primeiros protestos contra o xá, em 14 anos. Eles envolveram milhares de moradores de bairro pobres de Teerã, capital do país.
Cortes salariais também provocaram greves que chegaram ao ponto máximo em julho, quando os funcionários da General Motors incendiaram sua fábrica em protesto.
Os protestos de trabalhadores e da população pobre forçaram o xá a permitir algumas atividades de oposição. Ele esperava que isto servisse como um válvula de escape que retirasse força do movimento e esvaziasse sua força aos poucos.
Em vez disso, outros setores da sociedade também se sentiram estimulados a protestar abertamente contra o regime. Os intelectuais, quem tinham silenciado antes, juntaram-se aos protestos, como fez o clero e os seus aliados – os comerciantes tradicionais, lojistas e pequenos empresários.
Como acontece em toda grande revolução espontânea, muitos setores diferentes da população se envolveram.
Leituras públicas de poesia atraíram dezenas de milhares para as ruas. Entre outubro de 1977 e setembro de 1978, as manifestações contra o xá passaram de semanais a diárias. Os protestos levaram a uma grande manifestação, com aproximadamente dois milhões de pessoas, no dia 7 de setembro de 1978.
O xá impôs a lei marcial e as suas tropas massacraram mais de 2 mil manifestantes. Em resposta 30 mil petroleiros decretaram greve. Em apoio, os mineiros de carvão também paralisaram as atividades.
Os ferroviários recusaram-se a transportar a polícia ou o exército. Os estivadores só descarregavam comida e material médico ou papel para fazer campanha contra o regime. As unidades do exército começaram a rebelar-se.
O movimento cresceu e tornou-se uma insurreição. Muitos administradores de fábricas simplesmente fugiram. Onde isso aconteceu, os comitês de greve, eleitos pelos trabalhadores, assumiram a administração das fábricas. A classe trabalhadora, embora fosse minoria na sociedade, conseguiu se fortalecer tanto que se tornou uma força decisiva na luta contra o regime.
Em junho de 1978 o xá ainda dizia: “Ninguém pode me derrubar. Tenho o apoio de 700 mil soldados, da maior parte do povo e de todos os trabalhadores.”
Alguns meses depois – no dia 16 de Janeiro de 1979 – o xá foi obrigado a abandonar o país.
As milícias armadas derrotaram as últimas das tropas do xá. As prisões foram abertas e as rádios anunciaram a vitória da revolução. Comitês de greve – conhecido como “shoras” – foram formados novamente nas fábricas.
As aldeias de camponês estabeleceram o seu próprio “shoras” e começaram a confiscar as terras dos grandes proprietários.
As “shoras” representaram o começo de um tipo de organização que poderia vir a ser um poder sob controle dos trabalhadores.
Manifestações
Os camponeses exigiram a reforma agrária, as mulheres lutaram por sua libertação, e as minorias nacionais exigiram o direito à autodeterminação.
A revolução foi um golpe enorme para o imperialismo no Oriente Médio. Transformou-se numa festa de alegria com muita gente festejando pelas ruas.
Um político conhecido foi nomeado primeiro-ministro, mas as manifestações de massa exigiram a sua renúncia.
Em 1º de fevereiro, o Aiatolá Khomeini voltou do exílio e se declarou chefe de Estado.
Desde o início dos anos 1960, Khomeini tornara-se o líder religioso mais importante na campanha contra o xá.
Mas o movimento não estava sob controle do clero. Houve uma intensa batalha para decidir o curso da revolução e o tipo da sociedade que substituiria a ditadura do xá.
Os defensores do capitalismo nacional procuraram restaurar a ordem. A classe média alta, “liberal”, uniu-se aos líderes religiosos ligados aos pequenos capitalistas e comerciantes para lutar contra a esquerda.
Khomeini se colocou contra o poder crescente das “shoras”. Ele sabia que representavam uma ameaça ao poder do clero e recusou-se a reconhecê-las.
O novo governo provisório declarou que a intervenção de trabalhadores em assuntos de governo era uma atitude “contrária à fé islâmica”.
O aiatolá fez tudo para restabelecer o controle capitalista. Mas, não foi uma batalha fácil.
Como um funcionário de Shell disse na época: “O que os funcionários conseguiram fazendo parte dessa religião? Continuam a ser explorados do mesmo jeito”.
“Aquele gerente sangrento que sugava nosso sangue tornou-se, de repente, um bom muçulmano e tenta nos dividir usando nossa religião. A unidade em torno da ‘shora’ é o único modo de vencermos.”
A força do movimento operário foi mostrada na manifestação de Primeiro de Maio em Teerã, em 1979. Desempregados e mulheres com suas crianças fizeram uma marcha de 1.5 milhão.
As frases nas faixas da manifestação diziam: “Educação para as crianças e não ao trabalho infantil. Estatização de todas as indústrias, salário igual para homens e mulheres. Viva os verdadeiras sindicatos e ‘shoras’. Morte ao imperialismo”.
O clero tentou impedir. Grupos foram organizados para atacar a esquerda e pressionar as mulheres que se recusaram a usar o véu.
Ofensiva
Ao mesmo tempo, uma ofensiva militar foi lançada contra curdos e outras minorias nacionais que tinham ganhado um pouco de autonomia durante a revolução.
Mas o clero só pode ganhar o controle do movimento mudando de tática. Os setores de pequenos empresários e comerciantes, junto com o clero que apoiava o Aiatolá Khomeini, queriam manter sua independência dos Estados Unidos, mas também queriam liquidar a esquerda.
Eles temiam também a reação das massas – que ainda esperavam fazer avançar a revolução.
Khomeini ordenou uma ocupação da embaixada dos Estados Unidos, e rompeu com aliados considerados “moderados”.
Khomeini e seus aliados diziam que a unidade nacional era necessária para derrotar os Estados Unidos. Qualquer voz discordante estaria fazendo o jogo dos inimigos da revolução. A esquerda não soube como responder.
A maior parte da esquerda acreditou que o Irã não estava pronto para o socialismo e precisava de uma revolução capitalista antes da revolução socialista. Passou a defender que os trabalhadores e a população pobre fizessem alianças com capitalistas “progressistas”. Desse modo, se renderam aos argumentos da unidade nacional.
Os setores que se concentraram na luta de guerrilhas ficaram isolados do povo. Não conseguiram adotar nenhuma estratégia para superar esta situação.
O preço pago pelos trabalhadores foi enorme. O novo regime reprimiu cada uma de suas organizações.
Com a invasão do Iraque ao Irã e o início da Guerra dos Oito Anos entre os dois países, o governo islâmico esmagou toda a oposição, consolidando totalmente o seu poder.
Esta situação não era inevitável. Durante muitos meses o futuro da revolução esteve por um fio.
O fracasso da esquerda em se organizar de forma independente entre os trabalhadores e a população pobre para lutar pelo socialismo permitiu que Khomeini consolidasse seu poder.
Mas a revolução iraniana 1979 causou impacto ao redor de todo mundo.
Socialist Worker - 24 January 2009 | issue 2135
FONTE: Socialist Worker
SITE: http://www.socialistworker.co.uk/
PUBLICAÇÃO: 23/01/2009
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