sábado, dezembro 28, 2002

Fonte:Omelete



O pacto dos lobos


Por Érico Borgo
15/6/2002






É difícil não gostar do novo cinema que está sendo produzido na França.

Os cineastas contemporâneos do país conseguem unir dois pólos absolutamente distintos: a arte e o besteirol hollywoodiano. Filmes como O fabuloso destino de Amélie Poulain, O quinto elemento e Rios vermelhos são alguns exemplos de como a ação e a diversão podem vir embaladas em irretocável estilo.

E estilo é o que não falta em O pacto dos lobos (Le pacte des loups, 2001), um dos maiores sucessos de bilheteria na França em 2001. O filme relata os ataques da besta de Gévaudan, criatura que atacou e dilacerou dezenas de mulheres e crianças nas regiões rurais de Auvergne e Dorgogne entre 1764 e 1767.

Baseado em fatos reais, o caso foi amplamente registrado pela nobreza local e atraiu a atenção do rei Luis XV, que destacou homens e ofereceu recompensas para quem capturasse ou matasse o suposto monstro. Pouco tempo depois, foi morto um enorme lobo e os ataques cessaram para sempre. Isso, na realidade... porque no filme, a história está bem longe do seu fim.

O pacto dos lobos começa em 1794, em plena revolução francesa. Seu narrador, Thomas d'Apcher (Jérémie Rénier), está prestes a ser decapitado pelas massas revoltosas e decide revelar o segredo dos eventos ocorridos em Gévaudan tantos anos antes. Uma história que envolve lobisomens, aristrocratas, sociedades secretas, um índio Iroquai, artes marciais, rituais profanos, espadachins, totens animais, peiote, prostitutas e o Papa. Precisa de mais argumentos? Desde The Matrix eu não assistia a um filme com lutas tão estilosas, bem coreografadas e originais.




A história diverge da realidade quando Gregoire de Fronsac (Samuel Le Bihan), um intelectual e aventureiro naturalista, e seu companheiro Mani (Mark Dacascos), um nativo da tribo norte-americana dos Iroquais são escolhidos pelo rei para investigar os ataques da besta e desvendar seu mistério. Como se a criatura não representasse problemas suficientes, ambos terão que enfrentar também as superstições e intrigas da nobreza e do clero local. Como todo bom suspense, todos são suspeitos. Mas suspeitos de quê, se a besta é um animal?

Quanto aos aspectos técnicos, O pacto dos lobos é perfeito. A fotografia de Dan Laustsen transmite uma atmosfera fantástica, arrepiante. A escolha das locações também é perfeita. Num momento estamos num denso nevoeiro nas colinas, noutro, dentro de uma nevasca na floresta, um dia ensolarado nos campos, pântanos lamacentos, grutas escorregadias ou no interior de um bordel rococó.

A sonoplastia é um caso à parte. Os sons são tão fortes e bem colocados que quase é possível sentir as patadas de Mani em seus oponentes, numa das lutas do filme (no melhor estilo um contra quinze). Já os efeitos especiais, apesar de serem um dos únicos pontos fracos do filme, não chegam a incomodar. Mais um mérito da direção cheia de atitude de Chistophe Gans, que antes desse dirigiu O combate - Lágrimas do guerreiro (Crying freeman, 1995), baseado no mangá de Kazuo Koike e Ryoichi Ikegami, que também tem Dacascos no elenco.




Se tenho a obrigação de apontar o principal defeito do filme, eu diria que é sua duração. Com duas horas e vinte minutos, a edição dos franceses perde velocidade em muitos momentos que poderiam ter sido abreviados. Isso certamente causaria uma melhor aceitação por parte dos públicos fora da europa, principalmente nos Estados Unidos, onde o filme não foi bem recebido. Pode aposta que logo, logo, algum "gênio" terá a idéia de refilmar a produção de forma mais digestiva para o público ianque.

Só não se deixe levar pela idéia da história ser baseada num fato real. Isso é mero pretexto para a ação e aventura. Lembre-se que é apenas um coquetel de gêneros despretensioso e um entretenimento de qualidade. Não deixe de conferir!


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