sexta-feira, dezembro 27, 2002

O Rio de Janeiro está precisando de um Lobisomem:



Lobisomem em Canhotinho



Uma reportagem do Diário de Pernambuco conta tudo sobre o lobisomem que atormenta os moradores da cidade de Canhotinho , no Agreste do estado. A matéria é do repórter Jailson da Paz e foi publicada em 25 de março de 2001





A cidade de Canhotinho, no Agreste pernambucano, não é mais a mesma quando a noite cai. As crianças vão para a cama mais cedo, os adultos evitam sair de casa e à meia-noite as ruas estão praticamente vazias. Não é medo de ladrão, nem o sono que chega antes da hora. São uivos estranhos e a correria dos cães que estão levando boa parte dos 24.919 habitantes do município a acreditar que tem um lobisomem à solta e pronto para atacar.

Se já havia desconfiança com a movimentação estranha nas ruas, a apreensão aumentou há 15 dias quando um carneiro amanheceu morto no bairro da Cohab. As marcas de mordidas no pescoço eram sinais de algo fora do comum. "Há 18 anos moro aqui e nunca vi bicho morto desse jeito", contou a dona de casa Maria do Socorro Viana de Sá, 42 anos. Mas o estranho, comentou Irene Bernadino Leal, 41, foi que durante a noite o carneiro berrava longe e ouviu-se barulhos estranhos seguidos da "latonia dos cachorros".

A história rapidamente correu e não faltaram interpretações, mas todas descambavam para o mesmo ponto: o matadouro da cidade. É nesse lugar acinzentado e de pouca vegetação que muitos acreditam ocorrer a transformação do homem, que bate na mãe e foi amaldiçoado por ela, em um lobo. "Fico arrepiada só de pensar que esse bicho vira espírito do mal por trás da minha casa", lamentou a dona de casa Josefa Pereira da Silgva, 53.

Mas Selma do Nascimento, 36, tem razão maior para se arrepiar. No começo deste mês, o filho dela, Jocimar, 16, chegou em casa apavorado. "Um cachorro preto enorme e com garras grandes correu atrás dele", comentou. Desse dia em diante, o rapaz não sai de casa depois das 22h e passou a ver o lobisomem como um risco verdadeiro e não mais como uma lenda. Até Selma, que via a história com desconfiança, ouviu uivos estranhos vindos do matadouro.

Se o lobisomem existe ou não, não importa para os moradores de Canhotinho. O que mais interessa é a lista com o nome dos suspeitos que viram o bicho. E é na rádio comunitária que Zé Soluço - personagem do radialista Haroldo Veloso - divulga a relação. "Lobisomem é como Papai Noel, todo mundo sabe quem é".

Entre os nomes está o de Cícero, filho de Cícera Liminato da Silva, 65. Meu filho bebe umas cachaças e a gente sabe que quem bebe, às vezes, perde a cabeça e faz besteira. Mas eu nunca amaldiçoei meu filho. Ele é um homem trabalhador", disse, defendendo o filho da acusação de que teria batido nela. Para Cícera, que a vida inteira ouviu histórias de lobisomem, o filho não tem jeito de ser o homem-lobo.

As versões da história chegaram a delegacia, mas só em palavras. "Nada de queixas", assegurou o agente Manoel Fernando Moraes. "Mas se aparecer vamos atrás do peludo. Mostraremos a cara dele para todo mundo ver". Alguns acreditam que o lobisomem é, na verdade, um urso.






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