sexta-feira, dezembro 27, 2002


Lobão vai abrir uma nova gravadora este ano



Lobão critica Caetano e Gil, que estariam coniventes com um modelo falido, e pede o fim do jabá



Antonio Carlos Miguel, Bernardo Araujo e João Pimentel - O Globo


Lobão vai abrir uma nova gravadora este ano
Segundo os dados fornecidos pela Associação Brasileira de Produtores de Disco (ABPD), depois de derrapar em 2001, o mercado discográfico brasileiro mostra sinais de reação — entre janeiro e setembro, mais 8% de vendas, comparado ao mesmo período do ano passado. Mas faltam os números do último, e mais importante, trimestre para comemorar alguma coisa. Já Lobão termina 2002 com a certeza de ter ganho muitos pontos na luta que começou a travar contra a indústria ainda em 1999. Período em que ousou romper com as grandes gravadoras — depois de dois fracassos comercias, “Nostalgia da modernidade” (Virgin) e “Noite” (Universal) — para voltar por cima vendendo mais de cem mil cópias do CD “A vida é doce”, produção distribuída em bancas de jornal. Desde então angaria apoios para uma revolução que, acredita, se consolidará em 2003. O primeiro passo valeu como presente de Natal: na noite de 17 de dezembro, o presidente Fernando Henrique sancionou a lei que obriga a numeração dos CDs, após seis meses de debates e estudos. A lei é fruto do consenso entre os artistas — depois de uma cisão no movimento encabeçada por Caetano Veloso — e as gravadoras.

— Essa briga começou mesmo em 1999. O crime foi bem feito por nós. Lançamos um monte de CDs numerados, bem encadernados e a preço baixo. E esse foi o lema que eu impus. Quer combater a pirataria? Diminui o preço e numera os discos — argumenta Lobão. — Mas aquilo poderia se evaporar. A sorte é que deu certo e outros artistas de renome seguiram essa linha.

Lobão ressalta também a importância da adesão de nomes como Beth Carvalho, Roberto Frejat e Ivan Lins, alguns de seus parceiros de luta:

— A cena independente é forte. Mas precisa da ajuda de artistas de renome, que sabem não precisar de um departamento de marketing de gravadora. É dever do artista consolidado auxiliar o panorama novo. Assim está dignificando o seu trabalho e a sua classe.

A ira do lobo não se aplaca e o tiroteio continua:

— Um artista que é cúmplice de uma gravadora neste momento entrará para a História como X-9 (alcagüete) da indústria. Isso é social, é político. Nos festivais de música pelo Brasil, vejo a garotada com raiva de tudo isso.

Como dar nome aos bois não é problema para Lobão, ele acusa Gilberto Gil e Caetano Veloso, a quem chama de “cadáveres insepultos”, de serem coniventes com os padrões caducos da indústria.

— Caetano diz que fulano é um gênio e todo mundo bate palma. Vivemos uma ditadura branca em que as pessoas ficam coibidas de criticar pela ameaça de não existir na mídia — ataca. — Caetano canta “Cucurrucucu paloma” tremelicando a bochecha e isso, que é de péssimo gosto, vira o chique, o tribalista. A minha fúria e a minha razão em cima desses caras são porque sei que tenho o que falar. Minha missão é constranger esse mercadão.

O próximo passo, segundo Lobão, já está traçado:

— Enquanto não houver radiodifusão democratizada, não existirá diversidade musical. E isso só será possível com a criminalização do jabá (a prática de pagar propina às rádios) por corrupção ativa e passiva.





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