sábado, março 14, 2009

Finjo miséria ao mar

Sete semanas de cor, roda de vento no mar
Algo irrita o velho desejo de voar
Calo a boca
Dá-me Deus!
Grito com falso horror à quem me dê seu olhar.

E no ríspido vai e vem
Arrependo a mesa ao sussurrar espelho de um velho racismo
E na zoada coletiva
A arremessada palavra viva vem contar
Que a rusga é a forma dele passear
No olhar, na ânsia, no medo da carapinha.

E não há só cor na miséria
A velha cor externa da miséria enrica
Como um remendo no tempo
Como um velho lhe dando a mão
Levantando um velho tempo lhe dando a mão
Como um soco surgindo do medo intenso do preto
Em ato fazer da festa um detalhe a mais do sangue correndo ao sol.

Sete semanas de dor
Remendo o vento no ar
Resmungue dia pra Deus meu poder voar
Dê-me a linha de ser Deus!
Grito com falso amor a quem me cega desejar.

E em torno da preta linha
A camisa, a malícia, o respeito
A melodia, o tambor arisco
Sussurram-se como euforia
Alforria do Branco sem sol.

Sete semanas em cor
Sete semanas em flor
Arrisco a flor me formar
Caibo no fio da pétala do rosear
Cala a boca, fio de deus!
Deus é teu falso horror
Horror de não notar.

E preteje o teu riso
Esqueça
Preteje teu perdido respingo de promessa
Esqueça que ele existe
Se veja, se arme, se faça arte
Pois do preto correto, ou do preto imperfeito
(Qual é o preto certo?)
Já virá algo incerto
Já virá o perfeito, seja em espelho ou no atento
Ressoar do que é feito
E talhar corpo sedento
Mas tem preto que é de cor e outros que é de fingimento.

Sete semanas de arroz
Feijão não tinha pra dar
Resmungue frio um ódio de ressoar
Sei lá o que é ter Deus
Costumo ver beija-flor
Finjo miséria ao mar.

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