quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Laranja Mecânica, Ano 30

Fonte: Lance A +

Última grande revolução tática do futebol começou a ganhar forma em fevereiro de 1974


Em janeiro de 1974, certos de que dispunham de excelente material humano, mas assustados com a dificuldade encontrada para garantir vaga no Mundial da Alemanha, os dirigentes da Federação da Holanda intimaram Marinus "Rinus" Hendricus Jacobus Michels a comandar a seleção do país, transformando o até então treinador, o tcheco Fadrhonc Frantisek, em mero assistente-técnico. Em fevereiro, Michels assumiu efetivamente o cargo, dividindo o seu tempo entre o Barcelona, onde trabalhava, e a equipe laranja, iniciando o que foi, para uma maioria esmagadora, a última grande revolução tática do futebol.

Michels estava longe de ser uma novidade. Começou a dirigir o Ajax em 1966, quando o esporte na Holanda ainda resistia ao profissionalismo, conduzindo o time de Amsterdam em muitos títulos, o principal deles o europeu de 1971. Daí, recebeu uma proposta fabulosa e foi treinar o Barcelona, levando a tiracolo o gênio Johann Cruyff, talvez o maior jogador multimídia de todos os tempos.

A Holanda travara um duelo sem tréguas com a vizinha Bélgica por um lugar no Mundial da Alemanha. Ganhou no saldo de gols: 22 a 12. Assim, enquanto Michels e Cruyff empurravam o Barça para a conquista do Campeonato Espanhol, obtida enfim em maio de 1974, também traçavam planos para reformular a herança deixada por Frantisek. No primeiro amistoso, um resultado desprezível, empate de 1 a 1 com a Áustria, em Roterdam. Mas o melhor estava a caminho.

Fadrhonc Frantisek dirigiu a Holanda de 11/10/70 a 18/11/73, com o saldo positivo de 13 vitórias, quatro empates, três derrotas, 57 gols pró e 14 contra. Por isso, hoje já se questiona se o treinador tcheco também não teve participação importante na montagem do carrossel.

Rinus Michels dirigiu a Holanda em quatro ocasiões, no período entre 1974 e 1992, com 53 jogos, 30 vitórias, 14 empates e nove derrotas. Foi vice mundial em 1974 e campeão da Europa em 1988, com 2 a 0 sobre a URSS na decisão.

Cruyff & companhia

Apenas cinco titulares, um mês antes da Copa

Entre 21 de maio, quando Michels assumiu definitivamente a seleção, iniciando os treinos para o Mundial, e 14 de junho, véspera da sua estréia no torneio, a Holanda goleou a Argentina por 4 a 1 e empatou em 0 a 0 com a Romênia, sem arrancar muitos suspiros. Os jogadores discutiam prêmios com os cartolas e havia indefinição em alguns setores do time. Garantidos, de fato, apenas o líbero Rudi Krol, o meia Johan Neeskens, os atacantes Johnny Rep e Rob Rensenbrink e, é claro, Johann Cruyff, o filho da ex-lavadeira do Ajax, sempre capaz de apresentar soluções práticas e eficientes e que começou a pôr a Holanda definitivamente no primeiro mundo do futebol quando a bola rolou no Niedersachenstadion de Hannover, diante do Uruguai, em 15 de junho de 1974.

De quatro técnicos, só um leva a fama

Em 1969, quatro técnicos praticamente desconhecidos, o austríaco Ernst Happel, o holandês Rinus Michels, o romeno Stefan Kovacs e o alemão Udo Latek, começaram a realizar experiências em seus países. Exigiam, basicamente, capricho no preparo físico, para que os atletas pudessem praticar o estilo de jogo que entrou para a história como "futebol total", ou "carrossel", ou "Laranja Mecânica", um, digamos, sistema no qual ninguém tinha posição fixa, e sim o compromisso de ocupar todos os espaços do campo, tornando-se peças de uma dinâmica impressionante, recheada de variações, eventualmente centralizada num fora-de-série, como Cruyff, por exemplo.

E o fato é que a eficiência também alcançada por Happel, Kovacs e Latek ficou praticamente restrita à Europa, naqueles tempos sem TV a cabo e internet. Assim, quem levou efetivamente a fama acabou sendo Michels, no rastro do sucesso da Holanda no Mundial da Alemanha, transmitido para todo o planeta. A Holanda saiu vencedora na estréia, 2 a 0 sobre o Uruguai, empatou com a Suécia em 0 a 0, venceu Bulgária (4 a 1), Argentina (4 a 0), Alemanha Oriental (2 a 0), Brasil (2 a 0), e só caiu na final, derrotada (2 a 1) pelo seu excesso de confiança e pela categoria da Alemanha de Franz Beckenbauer.

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