quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Para que serve o poder de Dirceu?

Elio Gaspari

O episódio do doutor Waldomiro Diniz expôs a debilidade de um projeto de poder do comissariado petista. Trata-se de um projeto de poder primitivo, truculento, pobre. Só encontra paralelo em algumas condutas da nobiliarquia alagoana na fase dourada do collorato. Ele foi o primeiro, infelizmente não será o último.

Começando pelo doutor Waldomiro. O moço se aproximou de José Dirceu precisamente no final dos anos 90 durante os quais o comissário moeu o PT do Rio de Janeiro, impondo-lhe os modos de Benedita da Silva e os meios de Anthony Garotinho. Essa visão de mundo aproximou Waldomiro Diniz de José Dirceu. Um dia alguém vai estudar essas semanas e descobrirá que os verdadeiros fundadores do novo PT chamam-se Leonel Brizola, Benedita da Silva e Anthony Garotinho. Foram eles que conseguiram de Lula, Genoino e José Dirceu a carga da cavalaria cossaca contra a esquerda carioca. Mais tarde, em memorável cena de rompimento, Rosinha Matheus desentendeu-se com Dirceu e Garotinho chamou o PT de “partido da boquinha”.

Para se compreender a mecânica de poder que gera Waldomiros e toda a família de poderosos cometas de Brasília, vale lembrar uma história atribuída ao príncipe de Talleyrand, o magistral chanceler da França, quando a serviço de Napoleão Bonaparte.

Um negociador estrangeiro queria corrompê-lo e disse-lhe:

“Dou-lhe 20 mil francos e não conto a ninguém.”

Talleyrand respondeu:

“Dê-me quarenta mil, e conte a quem quiser.”

A diferença entre Talleyrand e os Waldomiros desta vida está no fato de que o bom príncipe não esperava sigilo de quem o comprava. Os Waldomiros acreditam que o andar de cima, com sua experiência secular, vai contratá-los com cláusulas de confidencialidade.

Quando o PT diz que a extorsão praticada por Waldomiro tem algo a ver com a arrecadação ilegal de fundos de campanha, mente e faz-se de bobo. Há casos de empresas que, na defesa de suas idéias (ou de seus interesses genéricos), dão dinheiro a candidatos sem registros contábeis. É o velho Caixa Dois. O que Waldomiro propunha a Carlinhos Cachoeira era que o bicheiro desse nova redação a um edital para a licitação de um serviço público. Assim como não há seqüestro-de-campanha, não pode haver achaque-de-campanha.

Quando o PT federal diz que agiu prontamente, demitindo o funcionário, faz rir. Faltava só que o mantivesse na função, indo ao Congresso negociar o fim da multa do FGTS. O velho e bom PT carioca mostrou aos comissários o que se fazia no Rio. Havia mais provas de waldomiranças no Planalto do que de água em Marte. É nesse sentido que o projeto de poder do PT federal é débil, pueril no seu deslumbramento.

Quem viu os quinze segundos de fama do doutor Waldomiro no “Jornal Nacional” conheceu seus métodos de negociação. Essas pessoas merecem saber que, além do comissário José Dirceu e de seus secretários-executivos, só quatro funcionários da Casa Civil tinham acesso às senhas capazes de entrar no banco de dados onde os companheiros listam o que se faz, o que se pede e o que se promete à custa da Viúva.

Waldomiro Diniz tinha uma utilidade. Era instrumento do poder de José Dirceu. Feita essa constatação, cabe a seguinte pergunta: para que serve o poder de José Dirceu, além de alimentar as conversas a respeito do tamanho do poder do comissário José Dirceu?

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