quarta-feira, fevereiro 18, 2004

Sinais de mudança ou esperança vã?

Analisar a política é uma tarefa árdua, não importa se você está em uma cidade grande ou no interior.

É muito mais fácil tecer comentários sobre fenômenos genéricos, como o tempo, ou analisar problemas ambientais, desde que não se adentre no antro político.

O motivo disto é o fato da política nascer com o primeiro suspiro do Homem enquanto ser gregário.

Cada ato humano, cada relação, desde as amorosas, fraternas até as de confronto, seja em casa, no trabalho ou no futebol, obedece a um movimento de adequação ou mesmo confronto pelo controle. A isso é política.

Poucas vezes se percebe nas relações mais harmoniosas para nós o traço político da mesma, enquanto nas relações de confronto, as mais desagradáveis, isso fica mais claro, dado que em um confronto é óbvia a luta pelo controle de algo ou da própria relação, pelo poder na mesma, pela supremacia. Nas relações agradáveis isso fica mais sutil, mas não menos presente.

É por este motivo que a política recebe o estigma de ser suja e desagradável, pois a política assume o papel das relações de confronto, dado que estas são claramente uma luta para a supremacia.Porém o que difere uma da outra é que as relações mais harmoniosas assumem um papel político de conciliação, de concórdia, de democracia. O poder é dividido de acordo com a competência deste ou aquele do grupo e a necessidade de seu uso.Como já se alcançou um nível de concordância prévio, não há rusgas ou há uma vontade maior de superá-las, assim o ato político da negociação de a partilha de poder fica invisível.

Baseado neste blá blá blá técnico, a discussão política é árdua, porque de qualquer forma ela assume um papel de visão de grupo, mesmo a de confrontos, e já carrega em si o estigma de desagradável.

Uma análise política então passa por diversos problemas, que vão de sua aceitação, da maneira como o que discordam a enfrenta, até o drible em nossos próprios preconceitos de analistas para a purificação da análise.

E isso complica uma análise fria da esperança final na mudança de uma cidade ou de um mundo, dado que mesmo a idéia de mudança passa por uma infinidade de visões tão díspares quanto são díspares os seres humanos.

Aqui em São Lourenço a política parece apontar para um confronto entre grupos que pode assumir um caráter de rachadura, de desagregação, e porque?

Porque o confronto se estabeleceu, porque o consenso foi substituído pela suspeita e por último, porque a razão foi substituída pelo comportamento de torcedor de futebol.

Idéias são assassinadas todos os dias, pessoas são deliberadamente prejudicadas em suas vidas particulares em nome de um projeto político x ou z que alguns assumiram como se fosse a luz de Dom Sebastião.

Assim a política mais agradável, a do consenso, aquela que aprendemos nascidos com nossos pais e legamos aos nossos filhos, que exercitamos com nossa amada, amigos, animais e com o mundo, é substituída por um confronto onde só vítimas existem, nunca vencedores.

E os sinais de mudança citados no título?

Estão por aí, na cara do povo, na solidariedade de um, no sorriso de outro, na ajuda aqui ou ali a um mais sem sorte. Mas muito mais forte que isso, está na indignação de homens com ética que se propõe a enfrentar um mundo para não permitir que o confronto derrube uma cidade.

quem quiser entrar no trem que preste atenção, ele está partindo.

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