terça-feira, agosto 28, 2012

Só mar

A minha cruz é meio sede
É meio céu, é meio mar
É meio mel, é cor da pele
É quase ódio de amar.

A minha cruz é meio verde
É falha, é fel, é adornar
A forma azul da bela pele
Das muitas novas vidas más.

O riso finda a mão
A mágica
É não ser céu, nem fel
Só mar.

Como um erro sincero

As formas do que sei de mim
Mostram-se milhões de grades
E entre dedos, ânsias, fazem-me novidade
Calada nos âmbitos nus das artes de um vago vento
Presa no temor da indecência do apavoramento.

As luas que trago em mim
São também insignificâncias
Como assinaturas esquecidas
Ruas sem infância
Perdidas onde não sei
Feitas com algum esmero
De uma forma venal
Como um erro sincero.

quinta-feira, agosto 23, 2012

100 anos

Escreveria como se houvesse um fundo de imensidão nas artes da cidade
As ruas e moralidades
Adultérios e incestos costuravam uma teia de humanidade que descia o pano da altivez dos santos
Nus, os homens e mulheres eram puros
Vestidos, eram como o desfile da putrefação da dita civilização.

A paixão animalizadora e reveladora era um urro, um grito de gol
Um prazer inenarrável cuja vileza tornava o ato canalha
Uma espécie de passe, de senha para  o triunfo
A trajetória vencedora do mais reles ser:
O dito Homem.

Das profundas verdades realizadas na contradição do conservar
A fé na trajetória decadente do humano me fez pena
Me fez peça
Me fez gol
Com três cores
E mil faces em cem anos.

Um amor estranho e livre

Muitas cores
A arte de uma cidade que se enfeia a seu pobre e gigante abraça o universo
Embevecendo com curvas pétreas os olhos estrangeiros
Atormentando de amor a quem migra diariamente da cansada periferia a seu centro
Valoroso, histórico e cruel centro.

Muitas cores nesta luta entre o amor pela beleza de suas ruelas
De seus centros, natureza e entorno
De sua gente agressiva e mal educada
De seu povo entregue a si mesmo com a coragem dos que sabem-se
E as guerras cotidianas que os olhos brilhantemente pintam em quadros
De uma extrema e cruel beleza.

Muitas cores nesta cidade mãe madrasta
Amante pérfida e calorosa
Poetisa cruel das durezas de uma realidade concreta e dúbia
Cidade matricida
Cidade mãe
Amante
Cidade.

Das cores muitas, das sutilezas, das guerras e agressividades
Dos centros velhos
Dos subúrbios riso solto e chinelo de dedo
A cerveja gelada dá ao pulo do malandro
O alvo jeito gato de sair das pedras
E alcançar a vida
Rindo
Como se tudo isso
A dureza bela e cruel de suas esquinas
Fossem assim como são
Um amor estranho e livre

terça-feira, agosto 21, 2012

Caravelas no além-mar

Uma rua, a matriz das luas únicas
Uma rosa, uma fé, uma ternura
Feita lago e lua
Feito túnica de uma breve vontade de ser sol
Nesta vida que se é revolução seja em armas, em vícios ou em ímpetos
Faz-te tu um desejo, um ar, um símbolo
Uma forma de amor tão libertário que meus olhos de doce poeta ácido
Tornam-se jardim de afeição.

Uma luz,uma lógica, uma pressa
E o amor fez-se simples e exato
Um destino, um segredo, um passo, um marco
Uma forma sagrada de amor
Feita do sangue de um Deus Condor que sobrevoa a tudo tão andino
Combatendo operações homônimas do opressor
Já sem medo de Deus ou do Diabo
Do Dragão que a maldade premiou
Uma luz que se forma operária
Um amor que se liberta em amor.

E escrevo como quem constrói um ninho
E reza luas que se formam novos sóis
Faço um Deus das palavras e esquinas
E faço linhas do amor que esconde o sol.

E dos nossos passados toda a prece se transforma num riso atrevido
Nosso peito é qual um som sorriso
Feito de caravelas no além-mar.

A chave, o trono, a fé

Nas mil luas e céus, há horizontes
Nos mil rios e marcas, há mais vida
Nestas léguas de asas e esquinas
Há palavras, há versos, hierofantes
E no mel do meu ácido instante só meus olhos esperam teu sorriso.


E na nua certeza que me visto, há a incerta vontade que sustenta
Tanto a flor quanto o fogo que acena
Pra curtida insensatez do assalto
Ao extremo velho reino do desabrigo
Que minha esperança destruiu e fê-lo pó
E nele fez uma rua com margaridas e nesta trilha amou a luz do sol.

Há no ar a certeza e a coragem
Há no pé a vontade, o sal, o fel
Há no mar o impeto dos mil gigantes
Há no ser a calma de matar véus
E nos passos que espalham-se instantes
Há no amar a criação do céu
Se vou ver nos teus olhos cintilantes foices e martelos, utopias e mel
Me deixe olhar como quem te faz migrante
E em meu peito dá-te a chave, o trono, a fé.


domingo, agosto 12, 2012

Meu mundo

Meu mundo é um sonho, é um tom de anil
Meu mundo é um horror, quase tudo igual
Meu mundo é um gesto que não conheci
Meu mundo é um deus, um lado escuro
Uma forma de absurdo, um verso, um dom, um fuso
Um destruidor de sonhos mau.

Meu mundo é um gasto inútil de florir
Meu mundo é um surto de prazer vestal
Meu mundo é o algoz do verbo colorir
Meu mundo é o meu lugar confuso, é o meu lugar no mundo
É minha forma de desmundo
É meu gesto absurdo
É minha gesta, é meu súbito sentido de ser
Total.

E o riso é repintado no sol das mãos
As cores da aurora resumem o inferno e o paraíso
Contidos entre os sins e os nãos
E os nãos parecem ser talvez libertação.

Meu mundo é um sonho e uma dor de rir
Meu mundo é o horror e o amor total
Meu mundo tem lugares que não conheci
Meu mundo é o complexo e o confuso, é o inteiro, é o súbito
É talvez o todo, o junto
O separado, o absurdo, o regular, o feito em fusos
O sabor de tudo
O bem e o mal.


Das coisas já escritas

As palavras me fundam
O som do que ou vi
Faz-se novo ouvir e serve para as velas ao mar serem lis.

As palavras me findam
O som do que vi
Tece-se ouvir e constrói mais velas
Iluminam-me em ti.

O som das flores, os delírios do mar
Casas que ardem como flores, como benignos oceanos
Como um sol a louvar
As aspas infindas que desenham-se ar
As espaçonaves todas feitas de desígnios e novos planos
Que se fazem já
As tantas linhas já escritas
Que se trazem já
Que te fazem ar
Em linhas já escritas.

As palavras me infindam no som que se diz
Tudo o que se diz faz-se vero e à vera transforma-se em ir
As palavras me pintam da cor que escolhi
Cores que escolhi serem vida eterna e em som colori.

Os lábios doces, os desenhos do ar
As nuvens, as linhas que se formam anos
O rosto ao mar
Sendo areia, onda e esplendor solar
Montanhas de homens, luzes, sorrisos que nos tornam mar
E nestas linhas faço-as minhas
No verbo do que há
Neste eterno já das coisas já escritas.



O bom do hoje

As coisas da vida passeiam sem saber
As doses de doce permeiam duros rochedos alvos
As aspas que qualificam sonhos fazem crer
Que as poesias só retiram o bom do ácido.

O som das vontades respira um tom de azul
As formas de mar que se parecem inteiras
Só deduzem de ti o que são e o que vi
Espero as cores do amor
Trazerem-me o doce do rude andar
As formas amplas do saber cantar
E ver nas estrelas funestas, as doses do ontem que formam o hoje.

As coisas que me ocorrem são como velho amigo a ver
Essas coisas que cintilam nos olhos dos enamorados
Tudo em volta do futuro se parece com endereços
Os passos dados tornam-se futuros no sol pintados.

O som das verdades caminha em prol do mundo azul
As formas de amar se restauram das geleiras
Dos verões que em mim pintam nuvens no anil
E vertem passados, sóis, amor
Estrelas doces, músicas de bar
Estradas rubras, jeitos de voar
Gotas de almas que se esperam
Como se fosse ontem o bom do hoje.

terça-feira, agosto 07, 2012

Novos dias

Amor em mim é trilha, espaço, mundo, coisa boa
Flor de jardim, Rio que espelha a nudez das folhas
Qual como quem faz carinho e se esmera em ser já canção
E na fé das tantas trilhas se reinventa mesma imensidão
Qual como quem já tinha todo o segredo das minhas mandingas
E na fé das novas vinhas rompe-se mágica, estrela, velha linha.

Na arte das mil ondas as cruzes se calam
Nascem novos dias
Na arte das milongas as luzes se fartam em meus novos dias.

Pra jugular da aurora

O pranto é o olhar visto do fogo
Destilado das folhas, dos muros e instantes
Feito lis, feito país
Feito medo, feito desterro.

E a espada é mãe do pranto, é filha do encantamento
E a espada sai do pranto pra se tornar fundamento
E o fundamento da palavra é uma fração de tempo
E o fundamento da espada é a razão em movimento.

O sol já nasceu pedra
Da pedra fez-se estrela
Da estrela a luz do norte nos transforma em coisa feita.

As estradas são cores
Os olhos são o rir
O vento são as folhas
As flores e horrores
A esperança é a hora em que as mãos voam da dúvida pra jugular da aurora.

Inversa paz

Raia a paz, raia o pranto
Nas mãos o gume que a terra afia
Nos olhos a estrada, a cancha
A rua, o espaço
Que se deseja de paz
Uma paz que se estenda calma
Uma paz que se desminta imensa alma.

Raia a falta, rola o pranto
Feito de fins, de tarde, ódios e vidas
Sangue que vem de longe e se esvai pelos dedos finos
Dos destinos, dos ais
No corpo franzino
Da dor que jaz nos olhos dos que vão ficando
Nos campos, pra trás
Pra trás, na roça, na cidade
Esquálida
Numa paz, inclemente, oprimida
Numa paz que se desmente inversa paz.


segunda-feira, agosto 06, 2012

Amigo Velho

Amigo velho é que nem sal grosso
Serve pra temperar lagarto e espantar Tinhoso
Entra de carrinho mais cruel nos tigres de papel
Desdobra o drible e faz golaço com o sangue tímido
Amigo velho é que nem bandido
Que nem malandro que dá chapéu no Zico.

Amigo mesmo vai de Campo Grande ao centro do mais profundo da cidade
E expande
Faz surgir a mágoa, a carga, o rancor
Refaz-se desamor
Retumba abraço e sorriso
E na de quem não se reconhece liso
Rouba o que tiver pra comer
Abre o que se tem pra beber
Compra dois quilos pra saber-se intimo.

quarta-feira, agosto 01, 2012

Da arte

É da arte o destino, o signo, a parte do verbo cantar
Onde as mil coisas que são já passado se tornam milagres
Mistérios
Razões
É da arte o vento que nasce do peito
O lacrimejar
Este mar
O respeito que ergue-se pleno na face da gente
Quando amparado pelos pés no chão.

É da arte a palavra que se torna colibri
É da arte o sangue, o simples, o leque das coisas, das línguas
Das montanhas distantes
Das árvores mortas da imensidão
Que se fazem alegria escrita entre o rir
E o ser que das pessoas faz futuro
E amor é o fruto que a arte prega na parte coração.

Da minha arte vejo a voz como que pequena
Amparada nas palavras que a História traz nos prantos.


Com o mais firme pé

Arte é cruz e é arco
É casco amolado no chão
Não sei se é razão ou se é cuidado
Este passado reescrito pelo coração
Que pinta luzes e prantos, como pombas desenhadas à mão
Como se o minuto, o canto e o mundo
Fosse desmundo, amor, pura paixão.

Arte talvez seja isso
Esse delírio imerso na cor
Talvez seja amor
E amor qual vício que nos exige um sabor, um querer
Talvez seja vida e a ânsia
De ver o sumo do vento nascer
Como quem rompe muralhas
Como quem acorda pra sorrir, crescer.

Não tenho nos olhos rastros
Minha arte é coisa que deita-se ao chão
Como quem brinca de mundo
Recuperando do urro a cor
E se percebe matilha
Feito de ruas, de praias, de ver montanhas serem tão cinzas
Que quase verde se tornam viver.

E esta arte que faço
Como quem curte um couro de dor
E sorri, moleque avoado nas manhãs,
Um belo muito obrigado
O gosto fútil da alma pagã
E as frutas tão nuas
Desenhadas no colo da mesma mulher
Pelo sorriso e rugas
Cosntruídos com o mais firme pé.