sábado, março 31, 2012

Serei-me enfim no outro?

Vejo-te nos planos, passos
Qual quem reconstrói um ir
Decifro-te ou caio
Noto-me inverso
Aprendo-me alvo, espasmo
Esgoto-me senso
Canto, bardo.

Noto a noite, ando rápido
Penso escuro, luz, florir
Gotas de mundo, súbito acalmo
E atento ao teu céu
Procuro signos claros
E acho
E não entendo além da pele
Além do passo.

Procuro poder ir
Gosto do salto
Procuro saber-te em ti
E tolo
Rumo pelos becos, pelos mares, cabos
Derramo gotas de desespero
Reparo o drama ao contrário
E me acalmo
E em fogo acalmo.

Não sei ser eu sem o outro
O outro assusta-me remédio
E calo-me em Sânscrito
Espero
Serei-me enfim no outro?

sexta-feira, março 30, 2012

Quem vai saber voar nos sambas?

É  tudo um fogo, uma forma de voar
Espelhe a mim
Faça-me sim
Espalho o mar na sucursal da fé
Na lua.

É tudo o fogo dos jardins
É tudo um fim
É tudo sim
Espere o mar reajustar o sal das ruas.


Custa muito a me rir
As asas e o avião caem no espaço do meu ir
Costuro sambas todo em mim
No soul canção que emite minha invenção.

Costuro a forma de ver a Glória voar
É tudo afim ao meu jardim
É tão querer que há nos sambas
É tão querer que faz-se samba
E quem vai saber voar nos sambas?

Vulnerável força de ser coração

Minha arte é meu riso, meu modo de face
Meu próprio luar
Minha alma, meu reino, meus dedos rasgados nos tontos espasmos de minha aflição
É a espera, é o temor, é a coragem, é no peito aquele soar do que precisa ser feito
É a fome que me espalha nas ruas e serras, nos mares, nos ventos
É a própria ação.

É a força que move meu mundo
Eu, moleque, encantado e doído com o que se move à minha frente
Esperando um espaço prum grito canção
E nas asas de um verso,de um canto, de um riso, me torno pessoa
E em pleno mundo
Me torno a súbita vulnerável força de ser coração.

É quase a erupção atroz dos mundos e penas
Por palavras e asas que me transformam em apenas humano.

O impossível do sonhar

Brinco de céu e vejo-te na cozinha
Espero e espelho talvez as horas
Memorizo contas, conto o sol e espero a rua
A lua diz segundos que voo entre as portas do céu que abriu
Enquanto ouvia algum outro cantar
Esperando soar o tempo de correr por ai
Talvez sonhando você
Sem nem saber como notar
O jeito mesmo de andar
Reverenciei teu querer
E espalhei o mundo no mar
São coisas tolas de dizer assim sem sentido.

Tudo é impossível ao sonhar.

Estrelas, aspas, cortes, mulheres, risos
Menino sondando as pedras de ruas e cidades que nem consegue ver
O que é o mundo pra você?
Como posso voar se tudo agora é mar?
Espero talvez compreender o nome das luas entre teus dedos
E o mundo é tão legal
Talvez assim abissal
E eu querendo dormir até o outro domingo
E jogar as flores pelo luar
Nas ruas onde for morar
No coração meu lar é tão sentido
E espera o impossível do sonhar.


Porque tudo é você, morena?

Queria ter flores nos olhos, dramas
Espelhos, sutilezas de invenção
Reparo meu olhar e vejo o canto
Trazer-me artimanha
E desejo um segundo de notar mundo, de brincar.

Vi voar imensidão e crio peças com a estrela menina
Tão rara
Tão espada
Vejo mar e o coração aperta a dor de ser pessoa
Ando em asas
Teço vida.

Guardo as passagens, as paradas
Temo então morrer de alma guardada
Tudo é gélido e certeiro nestas cenas de um mundo onde morrem primaveras.

Mudo, encerro o corte do que olho
Deixo-me esquecer o que meus olhos
Costuram em pensamentos, quero apenas o sentido
Sentir ido mundo afora.

Se sei mar, esqueço então
Pois o que quero é aprender-te lua e alma
E se preciso
Ser a luta do crescir.

Há luzes em toda a cena
A  estrela me fez notar
Porque tudo é você, morena?

Quântico

Falo da estrada e rio em frente ao mar
Sei lá o signo perfeito da glória
Não sei calar a palavra, nem sei calar
Qualquer desígnio de alma
Talvez seja a inóspita forma de espécie ou obra de destoar
Sei lá se falo por mais do que eu
Rasgo as páginas do meu próprio andar
Talvez seja um pouco árido esse meu eu.

Sinto as dores dos mundos, dos rumos, do ar
Respiro o seio, o ar das mil vidas
Canto na mente, no peito, no andar
Não sei se sou pessoa ou se tenho vida
Tudo o que espero é um dia um jeito de sol
Rasgado em mundos que tornem-me mar
Sou pranto
Mouro nos dentes, negro no voar
Amo e me devoro
Me intensifico
Sou quântico.

quinta-feira, março 29, 2012

Covardes gavetas

Não ri
Fiz-me Ogum Guerreiro
Fiz-me ver a cruz da morte ao chão
Sorvendo as vidas de mãos brasileiras
Não calo
O silêncio é escravidão.

Minha alma é fogo é sol
E encerra a espada que abre ao sol
Ou a Guerra
Homens fantasmas encerram a verdade em parcas gavetas
Homens nos matam inteiros entre suas covardes  gavetas.

Este post faz parte da Quinta Blogagem Coletiva #desarquivandoBR  que se realizará de 28 de março a 02 de abril cuja convocatória pode ser lida aqui: http://desarquivandobr.wordpress.com/2012/03/18/convocacao-da-5a-blogagem-coletiva-desarquivandobr-3/

Negra e mulher, da vida

Nasci de uma lida, de um sol, de uma forma de vida
De um corte, de uma fúria, de um alerta
Feito de gente com fé, com um ler, um amar
Que transformava rosas em setas.

Nasci de uma ira, de um só, de uma linha de risco
De uma fome que avança, lenta
De um correr, de um rir, de a um mundo nadar
De uma cisma, de uma explosão intensa.

E vendo sóis deliro
Me invento na graça, na gana que me sustenta
Vendo o rir das mil vidas que me andam o olhar
Sou de um chão toda a terra, o que venta.

E vendo a luz das manhãs
As ruas, as farpas
Sonho um redemoinho nas gentes
Mouro no nome e na alma
Torno-me negra e mulher, da vida.





Lu

Eu quero celebrar a ida dos mundos a seu nêmesis
À cavalaria selvagem que invade continentes e ocupa almas e campos
Quero celebrar à dor de crescer a cada dia
A impiedosa dor do crescer
A impiedosa exigência do avanço.

Quero celebrar o fogo que arde, aquele de Camões
Que toma passos, pernas, peitos, mãos e dedos
Qual uma febre criadora que nos exige o sêmen, o sumo de nós
O sangue.

Quero a celebração de um crescente infante antigo homem
A dança selvagem de emoções e razões entrelaçadas na cópula da alma
Me daria em sacrifício à esta dança
A este largar os laços, as paredes e muros e lançar-se na explosão que nos mata.

Quero celebrar a surpresa, a comoção, a dor, a dádiva de ver-te
De saber-te
Hoje celebro a mim
Mas também a ti que abre meu peito aos mundos
Que torna-me novamente chama
Que me confunde, devora, apavora
E como vida me toma.

No cofre de almas brilhantes

Um algoz no mar do mundo
E eu aqui indo afora.

A rir defronte o inimigo
Em um silêncio gritando
Fervido em breves espasmos
De um parco sentido.

A ir como se o longe rira
Parado, em risco, na busca
Prevendo a voz calada
Ante o silêncio que escuta.

Numa forma de ver mundo no aqui
Perco as horas.

A vir de um mundo espada
De um corte feito de murros
Colorindo o passo na água
De um simples sussurro.

A abrir o onde na própria pele
Nas horas de sermos novos
Amar é saber-me imberbe
Na flor que a alma envolve.

Nas palavras perco os mundos de mim
Acho as horas.

Nasci fruto de um Rio
Nasci flecha e arco
Crescer dói por ser bonito
Viver é ser pleno parto.

E ali tudo é perigo
Aqui melhor é todo o antes
Me lanço por ver-me rico
No cofre de almas brilhantes.

quarta-feira, março 28, 2012

E sou mais menino

É tarde as ruas estão cheias
As cores do Rio se tornam certeza
É outrora
É amanhã
É dia de descobrir linhas entre dedos, mesas
E  me espalho no sabor sentido
No desígnio crente do verbo amor
Me agonio com o tempo presente
Me rio descrente
Me lanço calor.

E sou homem de costas nuas
Dedilho milímetros de luas, cabeças
Coroas me tomam as mãos nuas
Américas frias me gelam agruras
Nem reparo o pensar não aflito
Em quem já se sente ser toda amor
E já rindo de como fui besteira
Me visto correndo
E sou mais menino.

Num afã de alegria

À morte a sorte sem os vãos sorrisos
E sabores de ruas sem gritas
Pernas batidas, formadas na sede
Do jorrar ligeiro dos bons dias
Vis manhãs
Canções perdidas
Atlântida imberbe
Madureira revivida
Sonhos pesados que nos dão bom dia.



E nessa linha do pão do convívio
Como o céu nas pedras do moinho
Rasgo as magias na forma que a sede dá em mim segredos, melodias
Como o chão, o pão, pernas, vaginas
Seios feitos meu corpo em vida
Calo-me intenso, ardo em melancolia.

Quase qual mar me afogo nos dias
Em que mendigo o fel, o amor, a ferida
De corpo, veio, de luz e canção
De tua aparição em minha mente, no chão
Que louvo, sagro em minha vã poesia
Que exagero no incêndio da lida
Ao esperar-te num afã de alegria.

Suores e afãs

Olhando o mar e os gritos
Destes mundos que quis derrubar
Já sou um surto de espaços ausentes
De belezas e risos incontidos.

Vou no rumo desta vida qual um tonto
Me corto em ruas, afago o chão, o pó
Me vejo nós, a sós ou nas correntes
Costuro dores curtas junto a sóis.



E nos veios do meu peito os ardores
Amores nus, flores e amanhãs
São irmãos velhos que sabem-me confetes
Soltos nas noites frias das canções.

Olhando o sal e os ritos destas pedras de mundo amolar
Me vou nos sonhos ingratos
Nas frentes
Nas cervejas dos irmãos que me criam.




E entre pedras de mil ruas e desgostos
Entre sorrisos que valem manhãs
A noite escura me faz ter cabeça
Num mundo enfeitiçado por maçãs
Pra escrever amores e mil Rios
Pra enfrentar as garras do amanhã
E quase enviesado nos capetas
Amar a vida em teus braços, suores e afãs.



terça-feira, março 27, 2012

Falta

Eu sinto muita falta
Jogado a mim mesmo sugiro desesperos enquanto prevejo meu fim
Me calo por vezes como quem apreende o futuro em silêncios apavorantes.

Me apavora o silêncio
Quase como Pascal, temo não os espaços infinitos,
Mas seu silêncio.
Temo o silêncio dos espaços e das coisas
Me assusta o que não se diz.

Sou filho da voz,
Comunico,
Costuro palavras e razões, sugiro, encontro, disseco
Explodo,
Sou de paixões devoradoras
Todas ditas.

Eu sinto muita falta
Sou das saudades
Me perco no outro
Sou desses
Desconfio do futuro se não dito, se não tocado
Impaciento-me no aprender, no apreender as lições não ditas
Não contemplo
Movo-me
Gosto de achar que pra dentro de ti.

Sinto muita falta.

Em meu rosto

Meu rosto arde ao sol
Acho que sei dos gostos do meu bem
Sempre quis dar-me ao mar do coração
Como se quisesse sofrer
Mas é o sabor de perceber o destino de amar
Em meu rosto.

Querendo te ver

Meus dedos pedem saudade
Dedilham coisas de ser
Talvez precisados mundos de pele e querer
Talvez um mundo inteiro de ler o mistério de tanto saber.

Meus rumos pedem certezas
E o tão desdizer de silêncios e encantos
Formas de dizer 
Que não domino, calado, assim restaurado por precisar ser.

E o espaço das noites, das lidas
Dos dias que a vida nos obriga a ter
Dão razão à saudade
Dão razão à cidade que preciso ser.

E ao encanto da beleza
Dedico meu ser
Enquanto escrevo minhas vidas, suores e ver
E até a poesia de tanto te querer
Enquanto construo as tardes
Olho com saudade
Querendo te ver.

segunda-feira, março 26, 2012

Sob o ponto de vista do sol do quintal

Uma forma de clarear é o respirar
Voar baixo sob o sol
Saber ver o mundo ao redor dourar
Ver as ruas do seu ser
Refletir sobre seu chão, a sós
Entender de novo a própria voz
Ser o simples de si
Ser todo, como o nós.

Toda noite é mais que noite.

É ver-se em si
Saber o amor
Ver seu doce sabor
Ser a estrada ao caminhar
Respeitar as linhas da palma da mão
Entender de novo o mundo afinal
Sob o ponto de vista do sol do quintal.

Febre

Não sei ver para além do nada
O som que faz olhar os freios
Só sei você.

Me lanço às margens de tantas almas e tantos ritmos
Me calo espasmo
Me torno espaço
Um sonho, um rasgo
Um sol, destino
Um mundo, um fundo, um alumiar de canções, de rumos.

A alma clara tudo reflete
Reflete em mim o som da palavra
Epifanias de ver sorriso em todo mundo
Em toda alma.



Não sei ver pra além da alma
Tateio a paz por entre os veios de ver você
Me faço infante de ver-te a alma do meu sentido
E assim me calo, olhando o salto
Lento e difuso deste teu mundo
Me encanto mudo
E bebo a fonte do sonho, do rumo.

E assim te entrego a mão aflita
Me guie, ensine a tua estrada
Amor que é febre e som de sino
Me faz rir em mim a calma.

Não sei dizer

A vulnerabilidade que a paixão causa me assusta.

Sim, vulnerável, entregue, apavoradamente entregue.

E como negar que apavoradamente amando, gostando por um lado, detestando por outro.

Entregue sim, entregue. Alvo, visível, com medo de ir, de não ir, perdido em meio ao tiroteio de milhões de informações, do desejo, das "famas de mau", da pele, do coração, das carências, dos ciúmes insanos, dos medos do futuro, do  medo da ausência.

A vulnerabilidade me assusta.  E o medo me prende como a um circulo de inferno onde talvez em movimento diverso a coragem ariana tenha de se manifestar, como se um plano maléfico, insano e kitsch de uma alma que precisa de piruetas e tobogãs, incêndios, para sentir-se viva.

A urgência me toma, e a batalha entre medo e desejo, entre medo de um futuro incerto e de um presente distante  combate a firmeza precisa e necessária que a paciência exige, que o racional explica.

Ao fundo o sabor da presença, do corpo, da alma, das letras, do querer, garante a salada de emoções que me tornam isso, esse fulgir, esse fogo intenso que se perde em si mesmo e  se devora.

Como pensar? Como saber que tudo o que pensa-se na loucura deste vulcão de intensidade é, antes de mais nada, seu, apenas seu, impresso em si mesmo, criado e alimentado por si?

Talvez o dedilhar das letras, o acalmar pelos sonhos, o ver o sorriso, o saber-me entregue a ti na bandeja da ausência de orgulho, embevecido pelo senso de urgência de um amor que incendeia, talvez tudo isso torne-me melhor, inteiro e vivo.

Talvez isso cale o medo insano de ser pequeno demais pra um amor que tal monta exige.

Talvez alimente o saber a exigência de ti por ti, de teu mundo, de teu tempo, que é mais silêncios do que expansão. 

Teu silêncio me atinge como quem torna-se iceberg.

Teu amor me atinge como quem preenche e explode.

Não me sei mais, não me adéquo, não me controlo.

Devoro-me em dúvidas, incertezas e um amor que a tudo aquece e torna insano.

Não sofro, pelo contrário, apenas vivo. Não dano.

Não dano-me neste incêndio que a tudo intranquiliza, incendeia, transtorna e transforma.

Não sei sentir de outra forma

No mecanismo de meu amor está  embutido o desejo da urgência, o perigo do fim, do estrondo, do desamarrar de um ser que se oculta, que se pega cotidianamente buscando ser a pequenas gotas. em meu amor está talvez embutida a certeza do fim aliada à plenitude do ser, do ser inteiro.

Entreguei-me e, sim, estou preso por vontade e tenho por quem me mata lealdade, parafraseando Camões.

Queimo-me, devoro-me, choro, grito, canto, espero, mendigo um som, uma linha, um gosto de ti.

Faço isso por mim. Faço isso por saber-me medo, e por saber-me superador dele.

Sinto saudades, sinto medo de nunca mais ver-te.

Sinto um amor inteiro de cuidar-te.

Não sei dizer.


Um amor preciso

E salto em direção ao incomum
À tormenta
Nasço coração, sobressalto
Lanço-me alma intensa
E o que grita é o passo
É o coração
Qual ogro, cão.

À pele faz-se o riso
O dizer
O silêncio
O tino.


E parto
Partido em vão na inclemência
Desta coisa porto e espaço
Mundo insano, sóis, espadas
O grito que abro
O coração
Um sim
Um não.

Ao fogo o sol é o riso
Viver faz-se preciso.

E calo
Faço-me desejo errante
Escrevo irrazões amaldiçoadas
Perco o senso, perco a veia
O gesto, o ato
O sentido, o senso
No corpo o silêncio.

A pele faz-se grito
No peito um amor preciso.

Nas casas

Meu sabor de ser, morde-se em viver
Em casa, no escuro
Saboreia o mar, a dor de sonhar
Nas asas do mundo.

Meu bom bem querer queima-se em querer
Deságua nos mundos
Mendiga um falar
Uma gota de olhar
Explode, confuso
Nas asas
Das palavras, nas ondas do mar
Nas casas.

domingo, março 25, 2012

Na arte que desenha-te em mim

A  flor das horas envolve-me em tempo
As estrelas me tornam um sol de saudade
E o vento cobrindo meus pés, meus passos
Lambusa-me do cansaço de estrada
De mundo, de arte.

O duro de ir é não ver-te
No entanto as nuvens, montanhas, são parte de ti
E a festa que descobre meu olhar
É o livre do sonho
A criar a parte da arte em ti.

A flor das horas me torna sossego
O  tempo constrói soluções pras bobagens
E o vento desenha meus pés nos riachos
Me sonho invenção e espaço
E torno-me inteiro saudade.

O som do riso, de ti, do fogo queimando meu peito com o ver-te a ser
A lis das tantas estrelas
A mais linda
A sorridente lua
A magia que torna-me novo a me ser.

O duro do tempo, do espaço e do canto
Deságua num amor de coragem em mim
E é festa de ver-me em ti, no luar
No sonho, do calor, no voar
Na arte que desenha-te em mim.


Um hiperbólico dizer

Era um mundo, eram nuvens, montanhas e tudo no longínquo desenho de uma ida, uma partida. Não a primeira e talvez sequer a última, mas a ida, a partida, o todo do despedir, tudo me assusta.

A imagem na retina, o desejo de atar-me, o toque, a textura, o cheiro, a cor.  Tudo remetia-se e ti. Tudo tornava-se teu, tu, forma, cor e cheiro.

Como ver um mundo sem ti, como não desenhar as montanhas com teu corpo e curvas? O todo do ir desenha-me angústia por em tudo ver-te e a distancia impedir o toque.

A  angustia de ver-te mundo e nele não ouvir-te, sentir-te concreta. E imensa em mim saber-me entregue, perfeitamente entregue, sem duvida alguma feito parte, inserido, imerso, afogado na paixão e no amor, no querer.

Quase infante, entregue ao desespero de não saber-se mais com a segurança dos sós, perdendo o entender onde por as mãos, a frase segura, o texto firme, despedaçado no contraditório, paradoxalmente feliz na agonia de não saber-me mais meu.

Teu nome é feito alma em mim, é ocupação, é saber, é destino, desenho, sentido, voz, cor, corpo, é o carmim, é o mel, é Bethania explodindo vozes em Iansã.

Não ha duvidas, não há fugas, não há outra saída além das hipérboles do poeta.

Amo-te, Sem mais.

Amo-te e temo-te, amo-te e mais que antes desespero-me sabendo que o intenso me invade e que o futuro, este incerto futuro, não vale mais que dois vinténs, mas deixa a esperança sorrindo com o que o passado desenhou na alma.

Não sei dos futuros, mal sei dos presentes, mas sei que amo-te.

Tudo é Tu

Um toque, um sim, um ser, um riso
Um astro, um passo, um ato, um sonho
Uma vista, o sol, o som
A me fazer morrer, viver, o mundo, o instante
O canto, tanta forma de invenção.

É seu, é ser, é ver
É lira, é riso
É ato, é canto, é força, é tanto sol, é vício
É liso
É forma de estrela, de mãe do luar
É deusa do mar
E eu a me perder intento, instante
Já devorado em mim, em ti
Me encante
Desnudado
Infante.

Um verso, um mundo, um rir
Um ato múltiplo, um desígnio
Um som, um sussurro, ativo tino
E em mim todo o mar me faz ir e vir
Explodir, naufragar.

Tudo é Tu
Forma, luz, ação,arte
Montanhas, sóis ardentes
Vozes, gestos, olhares
Criação, mundo, nêmesis
Esperança saliente
Destruição amável
Febre em mim, todo ardente
Tudo é tu.





Canção

Chão que cobre a gente
É tanto chão
É coisa feita de invenção
É tão doer
É mundo mar
E tal qual um lugar
O sonho é o voar
Estrutura, altura
O medo é morrer, o medo é correr
É dor de não ver lua
Lua sobre estantes
Livros e loucura.

É chão
É ir, é vir
Ir mansidão
Imensa força, Imensidão
É tanta gente, é tanto chão
A luz do nosso ser
É coisa de saber de si mesmo a canção
Tocada de ouvido
Cantada de chão.

É são
O sentido, o rumo, o vão
Estas artes, os medos, os breus
A arte é minha exaltação
A todo este viver de me ver tão morrer
Não tocando-te a mão
Peito dolorido
Corpo em si
Canção.


Luciana

A lida da partida, o sorriso, o sal, o sol da ida
O corpo detalhando a marca do amor
O riso
O salto no espaço
O Voo, o medo, a linha de montanhas.

Textura de sentidos disponíveis sob os dedos
O peso, a forma, o desejo, a cor de amores
O vermelho que ruge
O Rouge da cor vermelha da França.

Sentada sob o astro em São Paulo
Ao sul do veio de ouro de mil mares
De canoas e Fortalezas infindas
Pintada em nuvem
O preto na pela alva
A alma já canta.

Saudade de sorriso, de textura, de cor, de feminino
Na cor destas montanhas, nas curvas do mar
Das cores
Desejo-me mar
Me entrego, me afogo
Me sou todo dela
Luciana.



terça-feira, março 20, 2012

Festa

Ri só por poder saber rir
Só por saber olhar mar
Só por saber ver voar.

Sim, ri!
Ri como quem faz canção
E sorri por um triz
Ladeando riscos vãos
Colorindo coisas soltas, nuas
Respirei com a cabeça um sentido de invenção.




E nos riscos, nas poltronas
Nos medos e itinerários
Rascunhei uma canção de desalinho
Ao ter ver tão preciosa
Estrelada, feita arte
Arte feita em si, só arte
Arte estrela
A desnudar-se em horas
Entre dedos, sóis e arcos
Meu estado, meu caminho
Sendo em ti apenas arte!

E em mim?
Festa.

Sim, isto é uma declaração de amor.

Há coisas que se fazem prontas nas vidas pelaí. 

Há coisas que se constroem de subterrâneas lógicas, de falhas nas brechas racionalizantes do real.

Nem tudo se explica com o verbo, ou com a lógica, nem tudo. Nem tudo obedece a cardápios dourados de formas-pensamento e modus operandi. E acreditem sou razoavelmente detentor de algum tirocínio em matéria de pensamento e práxis.

Há laços e construções de vidas, há tijolos que fazem o alicerce do cotidiano e da felicidade que são em si mesmos desafios a modelos concretos de explicação, e que, embora possam ser explicados pelo viés simplesmente racional, perdem o subjetivo e a totalidade apenas com ele.

O mundo é ele e suas circunstâncias (paráfrase de Gasset na veia). Somos nós, nosso imaginário, nosso concreto, nosso viés, nosso amor, nossa dor, nosso mundo.

Somos nós e o mundo.

Essa relação, como todas, se dá por tantas variáveis que por vezes o complexo se torna factível, palpável, e normal, cotidiano, de simples explicação. E por vezes o simples, o leve, o claro fica oculto e estranho, hermético.

Confesso que enxergo o mapa do complexo com imensa facilidade: o desenho, o projeto, o desarmo, mas o simples, o pequeno, me intriga, me golpeia, me desarma.

O amor é um desses trens que mal entendo ao ver, tal sua simplicidade. Sou pego por ele, golpeado e levado ao chão. E ai imerso, entregue, alvo fácil passo a entender as profundas redes que o levaram a me acolher em seu interior.

O amor por Luciana é simples, foi um golpe, uma sorte, um pousar de aves no mar, simples, belo, leve. A trama que o envolveu pode ser explicada pelo encanto intelectual, pelo bailar das letras, pelos textos, pelas tiradas, pela foto, pelo gargalhar. Mas ele em si? não, ele é simples, ele é o riso, o pé no chão, a cerveja e o bar de cadeira de  plástico, aberto, sincero, claro, intenso, vivo.

Sua presença idem, é simples, é um preencher.

Não, não é uma metade de laranja ou uma alma gêmea, ela não sou o meu eu que falta. Ela é ela, e por isso a amo.


Há coisas que se fazem prontas nas vidas pelaí. Há coisas que se constroem de subterrâneas lógicas, de falhas nas brechas racionalizantes do real.

A simplicidade é uma delas e o amor seu filho dileto.

Luciana é uma força que me toma e me faz tanto eu quanto possível, tão intenso, entregue, pensante, escrevente, letrado, iletrado, ogro e dela quanto existe isso em mim. Luciana é meu poema mais simples e o mais profundo verso existente em mim.

A tudo vejo como se um presente a ela.

É dela meu riso. 

E sim, isto é uma declaração de amor.