domingo, abril 20, 2003

Fonte: ABN
02/03/03:

Encontro Nacional da Imprensa promovido pela Fenai/Faibra movimentou São Lourenço (MG)

Jornalistas brasileiros e estrangeiros debateram temas ligados às águas, soberania brasileira, desenvolvimento do turismo e imprensa no século 21 e lançam o documento "Carta de São Lourenço".

BRASÍLIA (ABN) - O 6º Ciclo de Conferências da Imprensa Brasileira e o 12º Encontro Nacional de Associações de Imprensa realizado nos dias 29 a 30 março em São Lourenço (MG) movimentou a tradicional estância turística hidromineral do sul de Minas com presenças a interação física e virtual de jornalistas de todas as unidades da federação e delegações estrangeiras dos quatro continentes. De acordo com o jornalista J.H. de Oliveira Júnior, Diretor Superintendente e de Redação da Agência Brasileira de Notícias e presidente da entidade promotora do congresso, a Federação Nacional da Imprensa / Federação das Associações de Imprensa do Brasil (Fenai/Faibra), o encontro foi coroado de sucesso e uma oportunidade para que jornalistas de todos os cantos do planeta pudessem debater temas de suma importância para comunicadores no atual contexto mundial e de apresentarem propostas visando um mundo melhor.

Oliveira Júnior disse que o encontro, que este ano teve como tema central "Águas, Soberania Brasileira, Desenvolvimento Turístico e o Papel da Imprensa no Século XXI", apresentou temas palpitantes seguidos de calorosos debates, já que os conferencistas representavam toda gama de ideologia e pensamento.

Discriminação governamental - Walter Estevan Junior, presidente da Associação Brasileira de Revistas e Jornais (ABRARJ), defendeu maior participação da imprensa interiorana no bolo publicitário nacional, ressaltando que a grande imprensa, por si mesma, não é suficiente para atingir a todos os segmentos sociais, mas isto não é percebido pelo governo e sofre vista grossa das agências publicitárias de grande porte, cujos interesses são alheios aos das comunidades regionais.

Correspondentes estrangeiros - A mexicana Verônica Goyzueta, presidente da Associação dos Correspondentes Estrangeiros de São Paulo, correspondente do jornal Tiempos Del Mundo (EUA) e do jornal espanhol ABC, revelou que há hoje no Brasil 231 correspondentes estrangeiros, quase todos baseados no Rio de Janeiro e em São Paulo, e poucos em Brasília, o que decorre de uma visão estereotipada ainda existente no exterior sobre os assuntos brasileiros que merecem destaque internacional, visão esta que os correspondentes esperam corrigir com a produção de "fatos novos" decorrentes da eleição de Lula.

Imprensa Evangélica - O jornalista Natal Furucho, diretor da Folha Universal e revista Ester da Universal Produções, publicações ligadas a Rede Record de Televisão, e controlada pelo Sistema IURD de Comunicação da Igreja Universal do Reino de Deus, discorreu sobre o crescimento da mídia evangélica no Brasil, a partir de 1970, revelando que, graças a esse fenômeno, hoje há 124 mil templos evangélicos, 50 milhões de fiéis, dos quais cinco milhões pertencentes à Igreja Universal do Reino de Deus, que controla 40 órgãos de comunicação, sendo que a "Folha Universal", semanário, tem tiragem de 1,5 milhão de exemplares, distribuídos a 560 municípios. Já a revista Ester, que concorre no segmento das revistas femininas como Cláudia e Marie Claire, conta com uma tiragem média de 180 mil exemplares.

Manipulação da informação - Heitor Reis, engenheiro e articulista da ABN Agência Brasileira de Notícias criticou a plutocracia, domínio dos donos do capital, que, a seu ver, reina no mundo e manipula a informação, em detrimento da verdadeira democracia, esta compreendida na liberdade de expressão, livre acesso à informação e circulação de idéias e distribuição igualitária de oportunidades a todos os povos da terra.

Valores éticos - Nelson Barreto, da Agência Boa Imprensa, denunciou a distorção dos valores éticos e morais da sociedade, patrocinada pelas emissoras de televisão, produções cinematográficas e reclames publicitários com graves reflexos na formação da criança brasileira e na estabilidade das instituições, entre as quais a família, a seu ver a principal vítima da permissividade das mídias de entretenimento e de consumo.

Barreto não defendeu a censura prévia, mas entende que há necessidade de criação de mecanismos por parte da sociedade para coibir os abusos nas programações das emissoras e de outras mídias.

Marketing na imprensa - O escritor e conferencista César Romão discorreu sobre o papel do marketing na imprensa brasileira, ressaltando a importância do efeito sinérgico da ação da mídia em sintonia com as aspirações da sociedade. Apresentou exemplos de medidas práticas para que se incrementem o turismo nacional.

Memória da Imprensa - Jourdan Amora, diretor-presidente da Tribuna de Niterói e do Jornal de Icaraí, e Diretor do Centro de Pesquisa e Preservação da Memória da Imprensa Brasileira (Museu da Imprensa) defendeu a preservação da memória da imprensa brasileira e a valorização da imprensa regional e alternativa.

Questões legais - O advogado e articulista Sérgio Redó, do Jornal de Bairros Associados, de São Paulo, destacou as principais exigências do novo Código Civil para a constituição de empresas jornalísticas.

Jornalismo científico - O jornalista Orlando Rodrigues Ferreira, presidente da Associação Campineira de Imprensa e articulista especializado em jornalismo científico, lamentou a forma fútil com que os grandes órgãos de imprensa, principalmente as emissoras de televisão, abordam problemas científicos em seu noticiário, procurando omitir a realidade de certos fatos para a obtenção de audiência.

Cobertura política - O jornalista Lima Rodrigues, da Rádio Nacional e Agência Brasil Radiobrás, discorreu sobre a sua experiência na cobertura política em Brasília, salientando o dilema vivido pelos jornalistas, espremidos entre o dever de informar a sociedade e as pressões sofridas em decorrência da proximidade com os poderosos do processo de decisão política.

Colunismo Social - Fernando Soares, colunista do Diário do Povo de Campo Grande e presidente da Associação da Imprensa do Mato Grosso do Sul, e Vera Martins, editora do Correio Paulista, presidente de honra da Federação Brasileira dos Colunistas Sociais e Assessora de Imprensa da Secretaria de Turismo do Estado de São Paulo, denunciaram a proliferação de colunistas sociais sem qualificação profissional, observando que até donas de butiques, cabelereiros, modistas e outros profissionais, de ramos completamente alheios à comunicação social, ocupam espaços estratégicos da mídia. Destacando que as redações é que formam, produzem e aprimoram bons jornalistas, os dois profissionais não cobram a necessidade do diploma superior de jornalista mas recomendaram cursos superiores nas áreas de Letras, História ou Filosofia.

Questões éticas e reforma política - O senador Juvêncio da Fonseca (PMDB-MS), presidente da Comissão de Ética do Senado Federal ao discorrer sobre o tema "A ética na política e no Parlamento Brasileiro", disse que a grande necessidade ética do Brasil é a democratização ao acesso dos brasileiros à riqueza - a distribuição de renda e que o grande desafio do Congresso é legitimar os princípios da ética na política defendidos pelo PT e que levaram à eleição do presidente Lula.

Segundo Juvêncio da Fonseca, o apoio da imprensa é imprescindível para que se consiga a reformulação da conduta do país, mas nem sempre esse apoio é dado aos congressistas, pois jornalistas tentam pautar o Congresso, que, por sua vez, procura impor os princípios éticos constantes da bandeira do novo governo.

O senador admitiu, durante debate com os jornalistas, que há contradições gritantes no atual Governo em relação ao aspecto ético, quando, por exemplo, um banqueiro (Henrique Meirelles) é colocado à frente do Banco Central; quando o País continua a política do governo anterior de criar superávites primários para atender o FMI; quando ainda o Brasil paga 110 bilhões de dólares por ano de serviço da dívida, e quando o presidente do PT, José Genoino, prega a quebra de direitos adquiridos dos servidores públicos na reforma previdenciária.

Água, saúde e turismo - O médico e sanitarista Márcio Bomtempo denunciou a ameaça de perda da identidade turística de São Lourenço em decorrência da exploração abusiva das águas minerais por grupos multinacionais. Aproveitou para destacar os benefícios terapêuticas da utilização adequada de águas minerais no tratamento de doenças e enfermidades.

Água e Soberania - Feichas Martins, jornalista e cientista político, articulista e colunista da Agência Brasileira de Notícias (ABN) defendeu o planejamento político-estratégico para gerenciamento dos recursos hídricos no Brasil, um país que dispõe de 17% do total de água doce do planeta, salientando a importância da água como bem natural escasso e vital, bem como o crescimento da demanda do precioso líquido para agricultura, utilização industrial e consumo humano.

Martins procurou mostrar que a água doce representa apenas 3% do total de água existente no planeta e que a sua escassez torna-se motivo potencial de conflitos entre os países para a conquista dos mananciais desse bem cada vez mais estratégico.

O cientista político afirmou que no Brasil 80% dos mananciais estão localizados na região norte, onde há pequena população, e os 20% restantes nas regiões mais populosas, o que configura o dilema de termos muita água, onde há pouca gente e muita gente, onde há pouca água.

Martins procurou mostrar que a água doce representa apenas 3% do total de água existente no planeta e que a sua escassez torna-se motivo potencial de conflitos entre os países para a conquista dos mananciais desse bem cada vez mais estratégico.

O cientista político afirmou que no Brasil 80% dos mananciais estão localizados na região norte, onde há pequena população, e os 20% restantes nas regiões mais populosas, o que configura o dilema de termos muita água onde há pouca gente e muita gente onde há pouca água.

Águas e cidadania - Roberto Perez, jornalista e professor de Educação Ambiental, diretor da Associação de Imprensa Valeroipretana e vice-presidente da ONG Clube dos Amigos da Terra de Tom Jobim, do Rio de Janeiro, pediu o apoio da imprensa para a luta travada pela ONG Movimento de Cidadania pelas Águas em defesa da estância hidromineral de São Lourenço, segundo ele alvo de ação predatória da empresa multinacional Nestlé.

Segundo Perez, a Nestlé retira um milhão de litros de água mineral por dia do poço "Primavera", irregularmente construído 500 metros distante da (conforme militantes locais da ONG) fonte do mesmo nome, mas só vende 60 mil litros/dia, exportando o resto para estocagem.

As denúncias de Perez se estendem aos processos de tratamento da água pela Nestlé, que retira do líquido os sais minerais e adiciona sais e carbonatos, reconstituindo a água com gaseificação artificial.

Como a água mineral é classificada como "minério", pelo Departamento Nacional de Pesquisas Minerais, a ONG "Movimento de Cidadania pelas Águas" abriu guerra contra a Nestlé, alegando que a exploração ameaça diversas fontes de água mineral e coloca em risco o futuro de São Lourenço como estância hidromineral e centro turístico.

A ONG "Movimento de Cidadania pelas Águas" quer que o governo considere a água de São Lourenço como "especial"; paralise a exploração que considera ilegal do "Poço Primavera", por situar-se este em área de proteção ambiental, e permita a recuperação das fontes, que estão ameaçadas de esgotamento.

CARTA DE SÃO LOURENÇO

Os participantes do 6º Ciclo de Conferências da Imprensa Brasileira, por ocasião do 12º ENAI - Encontro Nacional de Associações de Imprensa, promovido pela Fenai/Faibra - Federação Nacional da Imprensa / Federação das Associações de Imprensa do Brasil, expuseram e debateram, no período de 28 a 31 de março, em São Lourenço (MG), os problemas da atualidade e a contribuição da mídia para a solução dos mesmos, destacando sua preocupação especial com a atuação dos órgãos de comunicação das capitais e do interior diante das situações política, econômica, social e ambiental internas, impactadas pela persistência do conflito no Golfo Pérsico entre a coalizão liderada pelos Estados Unidos e o Iraque, com potenciais ingredientes de uma Terceira Guerra Mundial.

A força das palavras, faladas ou escritas, e das imagens formam e informam multidões em todos os países, nessa civilização global, gerando respostas imediatas ou tardias, mas nunca a indiferença dos povos sobre a realidade interna e externa que os cerca. É assim que cada jornalista, repórter, colunista, fotógrafo, cinegrafista, redator, aluno ou professor, seja qual for a qualificação, a especialidade ou a função comunicadora, no mais longínquo país do planeta, constrói e destrói impérios, gera mitos, forma, aprimora ou deforma cidadãos.

Na eterna guerra entre a ética e o lucro, a qual se desenvolve em todo o planeta, há uma batalha especial sendo travada em São Lourenço, cuja pujança turística atual surgiu e se consolidou em torno de mananciais de água mineral com propriedades especiais e do parque que as abriga.

A Cia. de Águas de São Lourenço, controlada pelo Grupo Nestlé, está sendo processada pelo Ministério Público de MG, por explorar de maneira ilegal, imoral, irracional e irresponsável, o patrimônio hidromineral e medicinal das águas que foi a causa do desenvolvimento daquela estância, reconhecida internacionalmente pela qualidade e variedade de suas fontes. (Processo 637.01.0101.255-6, 2ª Vara Judicial da Comarca de São Lourenço, MG)

Tal procedimento implica extinção destes recursos em curto prazo e a decorrente decadência da atividade turística predominante para a sobrevivência daquela sociedade.

Assim, estamos engajados na mobilização da sociedade civil e dos políticos honestos que estão ao lado do povo e contra a privatização do estado pelas grandes empresas, no sentido de defender aquela estância hidromineral da voracidade insaciável da Nestlé pelo lucro, à despeito do prejuízo que provoca ao meio ambiente, ao turismo e às gerações futuras.

Considerando-se que água é um bem escasso e vital para a Humanidade e que constitui fator de poder econômico para todas as nações, o gerenciamento dos recursos hídricos do Brasil, que detém 17% do total de água doce do Planeta - apenas 3% de todas as águas - requer um panejamento político-estratégico, com a mobilização do Estado, Iniciativa Privada e Terceiro Setor, tomando-se por farol o desenvolvimento auto-sustentável.

A Soberania do Brasil não pode ser relativa, tem que ser considerada como Objetivo Nacional Permanente, em razão de que todos os bens materiais e imateriais, que constituem o Patrimônio Nacional, são inalienáveis, cabendo a todos os brasileiros a responsabilidade de responder, com todas as armas disponíveis, a qualquer tentativa de agressão interna ou externa contra a sua integridade.

A imprensa tem a responsabilidade de conscientizar todos os brasileiros sobre a necessidade básica de preservação das riquezas nacionais contra potenciais ameaças internacionais, e ao mesmo tempo exercer vigilância e denunciar todas as afrontas e investidas contra o Meio-Ambiente.

O dever dos meios de comunicação, impressos e eletrônicos, é propugnar pelo desenvolvimento integral da sociedade, pela defesa das liberdades individuais e coletivas, pela democracia , paz social, integridade do patrimônio nacional, soberania brasileira e justiça social, esta compreendida como a distribuição equitativa de oportunidades a todos os brasileiros, sem nenhum tipo de restrição ou discriminação, conforme os ditames constitucionais.

Cumpre à Imprensa, de modo específico, preservar os valores éticos e morais que permeiam a cultura e a civilização nacionais, consolidados por meio das nossas instituições e consentâneos com o Humanismo, o Teísmo, o Cristianismo e o Liberalismo.

A crença nesses valores e a sua difusão permitem impulsionar o progresso ordenado do Brasil, a nossa inserção competitiva no mercado internacional e a consolidação da posição destacada do Brasil no concerto das nações defensoras da cooperação e do esforço coletivo para a construção de um mundo melhor, sem conflitos e barbáries como as que se verificam no Oriente Médio, por iniciativa tresloucada de elites megalomaníacas da potência hegemônica e de suas aliadas.

Recompor o tecido da Organização das Nações Unidas, em nova ordem onde impera o unilateralismo, não será tarefa fácil para as nações que buscam o desenvolvimento e a liberdade, quando o multilateralismo, expressão diplomática do mundo globalizado, é pisoteado pelos mais fortes.

A Imprensa no mundo inteiro deve manter-se vigilante e denunciar todas as formas de violência e tentativas de intimidação perpetradas pelos inimigos das sociedades livres, sob pena de pagar, como vem pagando em muitos países, conforme relatórios da Sociedade Interamericana de Imprensa, o elevado preço da omissão, que permite o recrudescimento da censura e dos atentados à vida dos jornalistas e proprietários de jornais.

Nesta bela São Lourenço, inspirados pela visão de um dos mais belo parque municipal do Brasil, os participantes do 6º Ciclo de Conferências da Imprensa Brasileira, por ocasião do 12º Encontro Nacional de Associações de Imprensa (ENAI), delegados de Associações de Imprensa e representantes de entidades representativas da sociedade, após intensos debates sobre temas da atualidade das mídias brasileira e estrangeira, conclamam todos os formadores de opinião do Brasil a combaterem os males que assolam a sociedade moderna, entre os quais todas as formas de corrupção e violência contra o Homem, os Animais e a Natureza.

Serviço:

Mais informações e fotos em www.fenai-faibra.org.br

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