sábado, abril 12, 2003

Fonte: Alma Carioca

ÁGUA MINERAL II



Parque das Águas - Foto de José Conde da Rocha

A respeito das águas de São Lourenço, recebi este email de Haroldo Barboza:

Alô, grande Paulo! Bem antes de Cora eu já havia denunciado esta situação grotesca.
Só que minha voz não tem o volume dela e o jornal que me deu espaço é perseguido pelo sistema.



ATÉ A ÁGUA ESTÁ SENDO ESCOADA


Tribuna da Imprensa, 08/05/01

O processo de entrega de nosso patrimônio e a exploração desenfreada de nossas riquezas naturais antes que o povo desperte e descubra o quanto foi roubado nos últimos 100 anos, não se restringe às grandes minas de minérios, poços de petróleo, madeiras nobres e jazidas de materiais preciosos. Também nas cidades menores, sob a calada da noite, as fontes de águas minerais estão sendo exauridas a todo vapor para aumentar os lucros de seus exploradores, ainda que existam riscos para a população local e o enorme perigo de se comprometer as fontes que durante dezenas de anos serviram aos habitantes e turistas.

O caso em evidência ocorre em São Lourenço, aprazível cidade serrana de Minas Gerais. No final de 1999, ocorreu uma enchente de grandes proporções no rio que corta a cidade. As águas cobriram diversas marquises de várias lojas e telhados de centenas de casas, causando grandes prejuízos materiais e à saúde dos moradores da região. A cidade chegou a ficar ilhada por dois ou três dias, devido às condições impróprias de tráfego das estradas próximas. É claro que o Parque das Águas foi afetado pela tragédia e algumas fontes de águas salutares foram fechadas por medida de segurança.

Os habitantes do local, com empenho e dedicação, em alguns meses conseguiram restaurar pelo menos 90% da fachada da cidade, a ponto dos turistas não perceberem o que havia acontecido há algumas semanas antes. Mas a administração do parque, feita pela Nestlé, manteve grande parte das válvulas fechadas sob a alegação de que as águas ainda não eram confiáveis para consumo humano.

No decorrer de 2000, os habitantes descobriram que a empresa estava fazendo uso de potentes bombas para sugar água para engarrafamento, além do que a natureza pode fornecer. Nesta sucção, certamente vinham detritos e impurezas trazidas do nascedouro das saudosas límpidas águas. A ganância pelo lucro atingiu níveis tais, que a população local, tradicionalmente pacata e amistosa, promoveu, há menos de seis meses, passeatas pela cidade em protesto contra esta situação mais calamitosa que as enchentes eventuais. O povo local tem consciência do quanto a água do seu formoso parque é fundamental para o sistema turístico local. A empresa pouco se importa com a falência do sistema. Quando as fontes secarem, farão as malas e irão explorar outra área do nosso rico território.

Certamente encontrarão corruptos na administração pública que fecharão os olhos às irregularidades cometidas, em troca de algumas migalhas que proporcionem um enganoso conforto para suas vidas.

Haroldo P. Barboza - Matemático, Analista de computador e Poeta

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