sexta-feira, dezembro 16, 2005

Mayakovsky nas manhãs

Hoje eu escreveria sobre política. Escreveria sobre a intensa incapacidade nossa, humana, de buscarmos o equilíbrio, de sairmos do egoísmo comum e da estagnação das cavernas que nos impomos.

Hoje eu escreveria sobre mundos, Bush, doenças sem cura e sem tratamento, ausência de política públicas que dêem dignidade aos povos, sobre a necessidade de revolução.

Hoje eu buscaria até desenvolver uma tese de organização social que seja realmente socialista que inclua toda a população no processo produtivo, no processo decisório, escreveria sobre coletivização, sobre a necessidade urgente de nos responsabilizarmos diretamente por nós e pelo mundo.

Porém li Mayakovsky, adaptado por Caetano.

Li Mayakovsky e entendi que este quem escreve friamente, com análises razoavelmente sãs, com intensões filosóficas, não sou eu, é um fantasma, um ego social, interessante, porém longínquo, mascarado.

Li O amor, li e senti o pulso de uma vida que tenho em mim, menina, inteira, boa.

Senti a força de meu sentimento, de um coração que explode em si mesmo de intensidade e sobrevivência, um coração que quer o mundo como um lar, uma sala onde os homens comunguem a liberdade. Um coração alheio ao sentido de vírgulas, organizações, teses, leis, um coração que é por si só, vida.

Li O amor e percebi a finitude, a implausibilidade de qualquer medo, de qualquer plano.Senti o amor como um soco, um todo inteiro sentido de distribuição de alma, amor por tudo, por todos, por uma mulher, um gato, um som, o sol.

Sonhei enfim com meu ser livre de minhas próprias amarras e máscaras, de medos inúteis e de formas enlouquecidas de planos e existências que nos tornem escravos, mortos-vivos a desfilar por aí.

Amei enfim e me senti pleno.

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