domingo, dezembro 11, 2005

Sentimentos

Alguns sentimentos nascem de surpresas.

A cada período surpresas novas se dão como se o universo avançasse além da estagnação cotidiana, das rotinas mesmas a que nos submetemos. Amores nascem, ódios se fazem presentes, canções aparecem como definitivas e vidas se encontram, no turbilhaõ que é o significado da própria vida.

Muitos assustam-se com a notória mutação da existência, muitos tornam-se acuados pela experiência de serem surpreendidos pelo imponderável. E este medo é natural, dado que somos ainda animais assustadiços, vivos na idéia de um Deus que nos proteja de um mundo por vezes cruel.

Porém poucos percebem que a surpresa é divina diante da necessidade de sermos felizes diante do universo. Mesmo com as ansiedades, medos da dor, a tal "maturidade" que nos rouba pouco a pouco a sensação de vermos o novo todos os dias, a maldita rotina que nos instala o mecanicismo dos atos, os novos sentimentos que nos invadem são mais que necessários, são a alma da palavra vida, que repetimos por vezes sem o respeito e o sagrado tom necessário para pronunciá-la.

Vida, Vida! Devíamos repetir prostados esta palavra tão afeita ao sentimento divino de amar, de odiar mesmo, de nos sentirmos vivos diante de um mundo feito para que criemos nossa própria felicidade. Mas convecionamos a tratá-la como um fardo a ser levado, como uma dor constante. Talvez seja um resquício do cristianismo mais tacanho preso em nossas almas.

Prefiro buscá-la, mesmo que imperfeitamente, como uma necessidade e a cada surpresa, boa ou ruim, procuro apreendê-la, como se fosse o vinho em uma tarde chuvosa.

Vida é o alimento dado para que nossas almas sejam mais que marionetes de um destino alheio a nós. Nós que vivemos devemos presenciá-la, saboreá-la, devemos ser vida. E vida é ação.

Nas políticas, nas richas, nos poemas, nos amores que vêm e vão, ela está presente. Como está presente agora enquanto pressinto o novo amor que chega, nada sorreteiro, como uma bomba, em meus dias.

E nestas supresas e sentimentos seguimos os dias, como dádivas.

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