segunda-feira, dezembro 26, 2005

Às Musas

Eu queria escrever como nunca, saber o estilo seguro dos invernos e entender as variações de tempo nenhum. Eu queria entender a morte como mais que um fatídico momento de transformação. Eu queria saber cada segundo da vida como mais que o bater de um coração desvairado, como mais que um denavear solto no céu.

Queria sentir o cheiro das ruas mais perto de meu corpo, ouvir a voz de cada pessoa e conhecer mais que sua máscara, queria por-me nú, em escrita, como se meu segundo de vida dependesse disto.

Escrevo no entanto o grito que calo no peito, o grito de amor ou de raiva, a dor de não sentir ou o segundo alheio a mim. Grito constantemente a vontade de viver o novo e a busca do mesmo. Grito as surpresas que os dias me dão, busco-as, busco-as como se a sede dos ventos me penetrasse.

Escrevo por sentir o dedo ser a matéria da criação divina, parte de um Deus brincalhão que me deu a alegria de poder rir, mesmo quando triste, eu um quase palhaço, um clown desvairado de Shakespeare.

E nestes caminhos que me enlaço, como a seguir a linda mulher que hoje é Ana, persigo o constante abraço das musas, e persigo-as com a sanha dos assassinos, pois é delas o meu perfeito sentido de explosão.

E a escrever me deixo inteiro como a parir um ser escondido de todos, como a me entregar constante à definitiva noite onde meus olhos avançarão sobre o que nos é escondido pelo medo.

A escrever adoto meu real nome e sei que Deus e Deusa se abraçam, imitando o que em meu sonho desejo, o amor que tudo queima e a tudo transforma.

Buscando Eros e Ágape, sigo em frente, entre as letras que cedo aprendi e que me apreendem a lançar meu ser nos espaços de bocas alheias.

Nenhum comentário: