sábado, dezembro 29, 2012

Ser, ter, querer...

O que sou era
Pois sou apenas uma presença alheia
Nada original
Sou apenas das canções que misteriosamente pleiteiam teu sorriso.

Sou apenas o que observa a forma desigual que tu falas dos verões
Sou apenas o não presente que enxerga com coração uma casa a passear
Sou teu som de ir e vir pelos bairros, pelo mundo estrelista tão azul que tens sob os pés
Estou para ver, ser, ter, querer...

sábado, dezembro 08, 2012

Dos barcos de homens ateus

Se os olhos destes passos fossem mundos
Estrelas do mar
E os marcos dos olhares, das favelas
Fossem outro voar
As artes dos pedaços das estrelas
Seriam o lar dos muitos tantos mil sonhos
Dos tantos ventos sem céus
E cada parte das velas seriam mares sem deus.

Se os muitos mil milagres dos desmundos
Calassem o cruel afago da covarde vida eterna
Do medo do mar
Ruas seriam insanos risos e doces de um mel
Feito do suor que a terra dá a quem semeia seus deus
Um deus feito das velas dos barcos de homens ateus.

sábado, novembro 24, 2012

Poesia

Poesia é um pouco indecência
É talvez a inconsciência que o mundo tem razão
É como uma sombra, uma prece que inverte o dom do ar
De ser do dia o que tange a incandescência
E que pormenoriza a fome de voar.

Sabe-se que um verso é uma espécie de cais
Que nos traz a dor da compaixão
E o ódio que em fé se faz vítima e vinga o medo da razão.

Qual razão que concebe incertezas e transcende impaciências
Poesia transmuta-se em olhar
E qual um urro despede-se
De um peito que derrete quando deita-se no mar.

terça-feira, novembro 06, 2012

O Sertão

Por ser qual mar, o sertão é como um fado
Como um fenecer de espaços
Como a sina dos mil passos
Em rasgos pintados
Em faces já distorcido
Em almas tão construído
Que faz falsidades com o descrer dos homens alvos.

Por ser qual mar e ser qual a si mesmo
O sertão se faz consorte
O sertão se faz já medo
Em almas calado
Em olhos feito espada
E na tez das almas caiadas
Faz-se ilusão do estar destituído de espelhos.

quinta-feira, novembro 01, 2012

Em um ritmo que se busca ser sorrir

As formas que a vida tece tramas
As linhas, os amigos, as canções
São formas de voar qual pelicano
E olhar as distâncias com o peito
Deduzindo todo o mar que encontrar
Nas montanhas, nas canções, no dedilhar das violas coloridas
Nas palavras
Nas cigarras
Nas parábolas, corações que se tornam pessoas
Qual estradas
Qual baias.

Formas de saudade são palavras
Formas de viver são luas alvas
Tantas cores derretem-se no peito e qual fogo retribuem-se primaveras
Inventando crianças e códigos
Livros velhos, mundos novos
E no olho a pele preta faz-se verso e estribilho de um verso dito História.

Qual a alma, o coração torna-se assim estrela e em vento faz-se estrada
Em um ritmo que se busca ser sorrir.

Brincando de olhar

Era de fatos e vidas
Era de simples não ver
Era de ser coração
Talvez de mundos querer.

Havia invernos e astros
Haviam heróis e cidades
Haviam canções e passados
Crescer era além de vontade.

De vida o sorriso derreteu-se ácido
Virou de sonho um sentir
De quem se desejava guerreiro
A velha ardente dona do mar tornou um que ama relógios
Um doido de querer voar
Por entre linhas e códigos
Por gente boa de rir
E pela forma de fé que em fé torna-se mundo a rugir.

Nos hojes das letras e lamas diárias
O riso, a fome o pasto, o muro
A medalha é viver o lugar
Dos passos que deu no chão traz o andar
E sabendo viver alma aberta deixa-se futuro mar.

E por ai eu vou deslindar
Ser mais breve, ser menos guardar
E vou derrubar minhas cercas, infernos e ao mar
E vou deslizar por entre as pernas do mundo
Menos eu
E rumo ao mar ser moleque brincando de olhar.

domingo, outubro 28, 2012

L'amour

C'est la Femme!
O amor é uma forma de mar
Uma frase quase em sol maior
C'est la vie!
O amor é uma forma de voar
Como quase que acima do sol.

C'est le monde!
O amor é uma forma de ver
Pernambucos na Bahia, em Nós
C'est l'amour!
É quase que redizer das estrelas ruas e anzóis.

A vida eterna sendo lastro da paixão tingida
Pela cor que supera-se em cor
E desenhada nas linhas das mãos, curtida
Em si a ser inteiramente amor
Amor.

C'est le Homme!
O amor é também entender
Espalhar-se no ardor a alguém
C'est le soleil!
O amor é talvez derreter
Diluir-se a ser mais alguém.

C'est la rue!
O amor é traçar-se viver
Caminhar-se como quem se vê
C'est la mer!
O amor é um barco, é nascer
Ser da onda seu vai e vem.

É ver o incerto certo ar de ver-se vida
É viver este ser do amor
Na eternidade fugaz de ser vida
Ser, viver é também ser amor
L'amour.





sábado, outubro 27, 2012

Nunca fui de Madureira

Em minhas confissões póstumas direi: Nunca fui de Madureira. 

Não porque tenha ojeriza ao bairro que fundamenta meia existência planetária em sambas, batuques, maldições, trens lotados, ódios e fomes. Tampouco por despertencimento ao universo avesso aos mares da Mui leal. Apenas pela exatidão que é exigida daquele que vê Jesus de costas, como bem cantou o poeta.

Nunca fui de Madureira, sendo no entanto dela, como querendo-a, como querendo saber das suburbanices cotidianas aquele jeito de quem andou demais de trem e sorry ao ver-se em casa.

Madureira era, pra mim ali em Guadalupe, o cinema, a loja de roupas, o sorvete da lanchonete, o presente de natal,a mitologia de um samba com águias e reis de um braço só.

Com o tempo Madureira ficou mais perto, ficou mais dentro, ao ser parte daquilo que me fez adulto, como que passando pelo rito tardio da passagem que é o diploma. Me fiz Historiador em Madureira, me vejo Madureira sendo historiador país afora, botecos afora, longe, perto, ali, em mim.

Saber este chão é uma arte que não se pinta de malandro, não se pinta do sorriso do arquétipo mitológico que as Tvs da zona sul desenham como se nos entendessem a alma. Saber este chão é a rima que entende a distância, a diferença, o duro caminhar e o sorriso de ver aquele samba tocado, o boteco, a cerveja gelada e o riso largado, largo, aberto, vivo de quem está na casa ao saber-se norte, oeste, inteiro numa distância de trilhos e morros, de suburbanas avenidas e almas.

Saber este chão é saber o antes de haver Avenidas com nome de bispos que não conseguimos esquecer ao dizer: "é na Suburbana!". Saber este chão é estranhar modernidades velhas e asfixiantes, travestidas de alegorias e adereços que perderiam o carnaval pela falta de harmonia e enredo.

Saber este chão é também saber que fora do tom nem o batuque da alma segura o canto.

Nunca fui de Madureira, ou do Valqueire, ou de Guadalupe, sempre fui Madureira, apesar dos pesares, aqui, ao longe, distante do mar, com Cristo de costa, nas costas da alma da águia, que sobrevoa rindo um Rio de Janeiro que arrasta erres.

sábado, outubro 06, 2012

Somos o sumo

Essa calma que é a luz do sol é um deleite da noite
Qual um sarro
É um muro, uma razão, um pranto, uma forma de ato
Um sussurro
É um gesto que se constrói do não soberbo, do velho hiato que há no mundo
Entre o galante e livre dedilhar da vida e a dor do medo de si, funesta.

Essa arma é a grande paixão que nossos corações transformam em flor
Esse sonho é apenas um Rio que se faz toda a Terra
Esse riso é a força enorme da destreza nas canções
Que se apresentam quando o furor se pinta, se transforma em eras.

E esse espaço que se faz cansaço é vida, é a alegria de ser a festa
E tudo então é mais que o cotidiano, é mais que a noite se tornando dia
É como a  vida, ela assim, no simples e calmo sentido de ser calo
Já no mundo se fazendo o santo gosto dos retratos
Somos o sumo.

Pela paz do teu saber

Foi de um gesto
De um som já palavra
Que nasce assim como um ser o nome que ouvi e em mim vem
Como um jeito intenso de paz
Foi de uma forma verbo
De uma coisa que calcula o vento e vem
Como quem me voa na paz
Que se transforma em risos e ais.

Versos são fomes
São saudade
São talvez derreter
Queria estradas, portos, cais
São toda cor, são fogo e flor
São monstros, cobras, são viver
Quase como quem vem
Estrelando o mar
Comendo trens.

Foi de um vento já parábola
Que meu colo se fez
Como quem te gesta feito paz
E vê-te ao longe sendo a brisa que em tempestade se fez
E assim se vira tão bem
Enquanto me faço mar, me faço trens.

Vozes são mundos, são a arte de apenas se ser
Como se de cores, gestos, ais
A forma amor é quase dor, que já vira prazer
Como o poeta livre me fez
Ouvir em seu cantar
Em seu viver.

Foi deste jeito que sou arte só pra poder te dizer
que amo-te no meu livre ver
Criado pela paz do teu saber.

segunda-feira, outubro 01, 2012

O mar que deságua no mar

Meu riso de ver é o sumo do mundo
Minha forma tosca de ver-me é a gota das águas das palavras
Toda palavra é um ler
Palavra é cores
E coisas se fazem ser
No verbo que há em mim
E sou eu como homem o homem que me lês.

Há partes do ser que não se aguentam em mim
Há partes de ler que são poemas.


Meu olho de ser é próprio do mundo
É próprio de rir paz
É o seio, o gosto, o sal, o sumo
Da forma que me jaz
Por entre as cores
E as formas finas do ser
Palavra que há em mim se deleita em fome
Uma fome de ver
As partes do ser que não se aguentam em sins
Tuas formas de ver as letras atentas do mar que deságua no mar.

terça-feira, setembro 18, 2012

Um samba qualquer da Portela

A maior parte da cidade nasceu em mim distante
Límpida, pintada na retina
Ali, a Candelária ao som, ao sol das seis
Manhãs a fio
De uniforme imberbe
De cansaço laboral.

A cidade em mim nasceu em Minas
Nasceu ao frio
Nasceu na lama das encostas do uai vespertino
Nasceu no anseio de um riso aberto
De uma rusga
De um porto.

Foi Rio e Rio veio
Fui Rio e Rio vim assim
Assado na distância
Cozido na vontade
Criado num subúrbio infindo a ser assim
Sertão
Ser tão Rio que caudalosamente girava
E inflamava a gíria
O olho azedo a quem morde
À fala mansa dos punhos de renda
À impureza atávica do excesso de educação.

Recados dei, Rios vi, norteei
No norte do meu senso gritei Madureiras
Sacolejei alvos e Brasis, Avenidas largas, surdas, sujas
Duras e limpidamente cruas
Carioquei
E rindo assim do meu jeito
Meio raiva, meio rude, meio abraço, meio irmão, meio ódio
Inteiro Rio
Caminhei assobiando
Um samba qualquer da Portela.

domingo, setembro 16, 2012

Marginalidade

Meu sonho grita na marginalidade
Meu sonho é crente que tem a razão
(Às vezes não)
Meu sonho bebe o cerne da arte
E a cerveja que chega a pedir permissão
Meu sonho muda o rumo da urbe
Nessa coisa vontade que desce gelada
Meu sonho morre no tom da saudade
E na pele que arde se rói de firmeza caiada.

Às vezes a forma da gente é um sonho que vence
Nessas pelejas que a vida na lida faz parecer jeito
E forma de ser toda briga que beira o luto
E no fundo é verdade naquilo que faz da gente brasileiro
E traz na voz embargada o som de ser assim botequim
Malucada
Samba cruelmente construto do riso, da gaita
Que ri da velha e suada rua, do beco
Das rusgas, das rubras velhas brincadeiras
Na porrada
Na besteira
Somos todos esse jardim
Onde o sonho grita as marginalidades.


O andar

Na lida a gente monta o mundo
Faz-se reluzir
Na raiva que o mundo passa somos tantos, somos lugar
As coisas que se fazem rir
São formas de se fazer mar
O tempo é uma ilusão, é jeito de se lembrar.

Há vida onde perdi
Há morte no conquistar
Das coisas que me vivi
Os abraços, as asas, são feitos do olhar
Há marcas feitas de dia
Há marcas que são luar
Os dedos que viram mãos
Os passos marcados do enfrentar.

Há asas no todo do dia
E o calendário é o voar
A farta vontade do tempo é a vez do rir
E a vez do ir
É o mar.

Há riso no que se é sozinho
Há no todo o gargalhar
E a arte é a razão precisa
De ver, de no todo gostar.

Se tu reparar, o eu é um reparar sem eus
O passo é a razão precisa do existir do andar.

terça-feira, agosto 28, 2012

Só mar

A minha cruz é meio sede
É meio céu, é meio mar
É meio mel, é cor da pele
É quase ódio de amar.

A minha cruz é meio verde
É falha, é fel, é adornar
A forma azul da bela pele
Das muitas novas vidas más.

O riso finda a mão
A mágica
É não ser céu, nem fel
Só mar.

Como um erro sincero

As formas do que sei de mim
Mostram-se milhões de grades
E entre dedos, ânsias, fazem-me novidade
Calada nos âmbitos nus das artes de um vago vento
Presa no temor da indecência do apavoramento.

As luas que trago em mim
São também insignificâncias
Como assinaturas esquecidas
Ruas sem infância
Perdidas onde não sei
Feitas com algum esmero
De uma forma venal
Como um erro sincero.

quinta-feira, agosto 23, 2012

100 anos

Escreveria como se houvesse um fundo de imensidão nas artes da cidade
As ruas e moralidades
Adultérios e incestos costuravam uma teia de humanidade que descia o pano da altivez dos santos
Nus, os homens e mulheres eram puros
Vestidos, eram como o desfile da putrefação da dita civilização.

A paixão animalizadora e reveladora era um urro, um grito de gol
Um prazer inenarrável cuja vileza tornava o ato canalha
Uma espécie de passe, de senha para  o triunfo
A trajetória vencedora do mais reles ser:
O dito Homem.

Das profundas verdades realizadas na contradição do conservar
A fé na trajetória decadente do humano me fez pena
Me fez peça
Me fez gol
Com três cores
E mil faces em cem anos.

Um amor estranho e livre

Muitas cores
A arte de uma cidade que se enfeia a seu pobre e gigante abraça o universo
Embevecendo com curvas pétreas os olhos estrangeiros
Atormentando de amor a quem migra diariamente da cansada periferia a seu centro
Valoroso, histórico e cruel centro.

Muitas cores nesta luta entre o amor pela beleza de suas ruelas
De seus centros, natureza e entorno
De sua gente agressiva e mal educada
De seu povo entregue a si mesmo com a coragem dos que sabem-se
E as guerras cotidianas que os olhos brilhantemente pintam em quadros
De uma extrema e cruel beleza.

Muitas cores nesta cidade mãe madrasta
Amante pérfida e calorosa
Poetisa cruel das durezas de uma realidade concreta e dúbia
Cidade matricida
Cidade mãe
Amante
Cidade.

Das cores muitas, das sutilezas, das guerras e agressividades
Dos centros velhos
Dos subúrbios riso solto e chinelo de dedo
A cerveja gelada dá ao pulo do malandro
O alvo jeito gato de sair das pedras
E alcançar a vida
Rindo
Como se tudo isso
A dureza bela e cruel de suas esquinas
Fossem assim como são
Um amor estranho e livre

terça-feira, agosto 21, 2012

Caravelas no além-mar

Uma rua, a matriz das luas únicas
Uma rosa, uma fé, uma ternura
Feita lago e lua
Feito túnica de uma breve vontade de ser sol
Nesta vida que se é revolução seja em armas, em vícios ou em ímpetos
Faz-te tu um desejo, um ar, um símbolo
Uma forma de amor tão libertário que meus olhos de doce poeta ácido
Tornam-se jardim de afeição.

Uma luz,uma lógica, uma pressa
E o amor fez-se simples e exato
Um destino, um segredo, um passo, um marco
Uma forma sagrada de amor
Feita do sangue de um Deus Condor que sobrevoa a tudo tão andino
Combatendo operações homônimas do opressor
Já sem medo de Deus ou do Diabo
Do Dragão que a maldade premiou
Uma luz que se forma operária
Um amor que se liberta em amor.

E escrevo como quem constrói um ninho
E reza luas que se formam novos sóis
Faço um Deus das palavras e esquinas
E faço linhas do amor que esconde o sol.

E dos nossos passados toda a prece se transforma num riso atrevido
Nosso peito é qual um som sorriso
Feito de caravelas no além-mar.

A chave, o trono, a fé

Nas mil luas e céus, há horizontes
Nos mil rios e marcas, há mais vida
Nestas léguas de asas e esquinas
Há palavras, há versos, hierofantes
E no mel do meu ácido instante só meus olhos esperam teu sorriso.


E na nua certeza que me visto, há a incerta vontade que sustenta
Tanto a flor quanto o fogo que acena
Pra curtida insensatez do assalto
Ao extremo velho reino do desabrigo
Que minha esperança destruiu e fê-lo pó
E nele fez uma rua com margaridas e nesta trilha amou a luz do sol.

Há no ar a certeza e a coragem
Há no pé a vontade, o sal, o fel
Há no mar o impeto dos mil gigantes
Há no ser a calma de matar véus
E nos passos que espalham-se instantes
Há no amar a criação do céu
Se vou ver nos teus olhos cintilantes foices e martelos, utopias e mel
Me deixe olhar como quem te faz migrante
E em meu peito dá-te a chave, o trono, a fé.


domingo, agosto 12, 2012

Meu mundo

Meu mundo é um sonho, é um tom de anil
Meu mundo é um horror, quase tudo igual
Meu mundo é um gesto que não conheci
Meu mundo é um deus, um lado escuro
Uma forma de absurdo, um verso, um dom, um fuso
Um destruidor de sonhos mau.

Meu mundo é um gasto inútil de florir
Meu mundo é um surto de prazer vestal
Meu mundo é o algoz do verbo colorir
Meu mundo é o meu lugar confuso, é o meu lugar no mundo
É minha forma de desmundo
É meu gesto absurdo
É minha gesta, é meu súbito sentido de ser
Total.

E o riso é repintado no sol das mãos
As cores da aurora resumem o inferno e o paraíso
Contidos entre os sins e os nãos
E os nãos parecem ser talvez libertação.

Meu mundo é um sonho e uma dor de rir
Meu mundo é o horror e o amor total
Meu mundo tem lugares que não conheci
Meu mundo é o complexo e o confuso, é o inteiro, é o súbito
É talvez o todo, o junto
O separado, o absurdo, o regular, o feito em fusos
O sabor de tudo
O bem e o mal.


Das coisas já escritas

As palavras me fundam
O som do que ou vi
Faz-se novo ouvir e serve para as velas ao mar serem lis.

As palavras me findam
O som do que vi
Tece-se ouvir e constrói mais velas
Iluminam-me em ti.

O som das flores, os delírios do mar
Casas que ardem como flores, como benignos oceanos
Como um sol a louvar
As aspas infindas que desenham-se ar
As espaçonaves todas feitas de desígnios e novos planos
Que se fazem já
As tantas linhas já escritas
Que se trazem já
Que te fazem ar
Em linhas já escritas.

As palavras me infindam no som que se diz
Tudo o que se diz faz-se vero e à vera transforma-se em ir
As palavras me pintam da cor que escolhi
Cores que escolhi serem vida eterna e em som colori.

Os lábios doces, os desenhos do ar
As nuvens, as linhas que se formam anos
O rosto ao mar
Sendo areia, onda e esplendor solar
Montanhas de homens, luzes, sorrisos que nos tornam mar
E nestas linhas faço-as minhas
No verbo do que há
Neste eterno já das coisas já escritas.



O bom do hoje

As coisas da vida passeiam sem saber
As doses de doce permeiam duros rochedos alvos
As aspas que qualificam sonhos fazem crer
Que as poesias só retiram o bom do ácido.

O som das vontades respira um tom de azul
As formas de mar que se parecem inteiras
Só deduzem de ti o que são e o que vi
Espero as cores do amor
Trazerem-me o doce do rude andar
As formas amplas do saber cantar
E ver nas estrelas funestas, as doses do ontem que formam o hoje.

As coisas que me ocorrem são como velho amigo a ver
Essas coisas que cintilam nos olhos dos enamorados
Tudo em volta do futuro se parece com endereços
Os passos dados tornam-se futuros no sol pintados.

O som das verdades caminha em prol do mundo azul
As formas de amar se restauram das geleiras
Dos verões que em mim pintam nuvens no anil
E vertem passados, sóis, amor
Estrelas doces, músicas de bar
Estradas rubras, jeitos de voar
Gotas de almas que se esperam
Como se fosse ontem o bom do hoje.

terça-feira, agosto 07, 2012

Novos dias

Amor em mim é trilha, espaço, mundo, coisa boa
Flor de jardim, Rio que espelha a nudez das folhas
Qual como quem faz carinho e se esmera em ser já canção
E na fé das tantas trilhas se reinventa mesma imensidão
Qual como quem já tinha todo o segredo das minhas mandingas
E na fé das novas vinhas rompe-se mágica, estrela, velha linha.

Na arte das mil ondas as cruzes se calam
Nascem novos dias
Na arte das milongas as luzes se fartam em meus novos dias.

Pra jugular da aurora

O pranto é o olhar visto do fogo
Destilado das folhas, dos muros e instantes
Feito lis, feito país
Feito medo, feito desterro.

E a espada é mãe do pranto, é filha do encantamento
E a espada sai do pranto pra se tornar fundamento
E o fundamento da palavra é uma fração de tempo
E o fundamento da espada é a razão em movimento.

O sol já nasceu pedra
Da pedra fez-se estrela
Da estrela a luz do norte nos transforma em coisa feita.

As estradas são cores
Os olhos são o rir
O vento são as folhas
As flores e horrores
A esperança é a hora em que as mãos voam da dúvida pra jugular da aurora.

Inversa paz

Raia a paz, raia o pranto
Nas mãos o gume que a terra afia
Nos olhos a estrada, a cancha
A rua, o espaço
Que se deseja de paz
Uma paz que se estenda calma
Uma paz que se desminta imensa alma.

Raia a falta, rola o pranto
Feito de fins, de tarde, ódios e vidas
Sangue que vem de longe e se esvai pelos dedos finos
Dos destinos, dos ais
No corpo franzino
Da dor que jaz nos olhos dos que vão ficando
Nos campos, pra trás
Pra trás, na roça, na cidade
Esquálida
Numa paz, inclemente, oprimida
Numa paz que se desmente inversa paz.


segunda-feira, agosto 06, 2012

Amigo Velho

Amigo velho é que nem sal grosso
Serve pra temperar lagarto e espantar Tinhoso
Entra de carrinho mais cruel nos tigres de papel
Desdobra o drible e faz golaço com o sangue tímido
Amigo velho é que nem bandido
Que nem malandro que dá chapéu no Zico.

Amigo mesmo vai de Campo Grande ao centro do mais profundo da cidade
E expande
Faz surgir a mágoa, a carga, o rancor
Refaz-se desamor
Retumba abraço e sorriso
E na de quem não se reconhece liso
Rouba o que tiver pra comer
Abre o que se tem pra beber
Compra dois quilos pra saber-se intimo.

quarta-feira, agosto 01, 2012

Da arte

É da arte o destino, o signo, a parte do verbo cantar
Onde as mil coisas que são já passado se tornam milagres
Mistérios
Razões
É da arte o vento que nasce do peito
O lacrimejar
Este mar
O respeito que ergue-se pleno na face da gente
Quando amparado pelos pés no chão.

É da arte a palavra que se torna colibri
É da arte o sangue, o simples, o leque das coisas, das línguas
Das montanhas distantes
Das árvores mortas da imensidão
Que se fazem alegria escrita entre o rir
E o ser que das pessoas faz futuro
E amor é o fruto que a arte prega na parte coração.

Da minha arte vejo a voz como que pequena
Amparada nas palavras que a História traz nos prantos.


Com o mais firme pé

Arte é cruz e é arco
É casco amolado no chão
Não sei se é razão ou se é cuidado
Este passado reescrito pelo coração
Que pinta luzes e prantos, como pombas desenhadas à mão
Como se o minuto, o canto e o mundo
Fosse desmundo, amor, pura paixão.

Arte talvez seja isso
Esse delírio imerso na cor
Talvez seja amor
E amor qual vício que nos exige um sabor, um querer
Talvez seja vida e a ânsia
De ver o sumo do vento nascer
Como quem rompe muralhas
Como quem acorda pra sorrir, crescer.

Não tenho nos olhos rastros
Minha arte é coisa que deita-se ao chão
Como quem brinca de mundo
Recuperando do urro a cor
E se percebe matilha
Feito de ruas, de praias, de ver montanhas serem tão cinzas
Que quase verde se tornam viver.

E esta arte que faço
Como quem curte um couro de dor
E sorri, moleque avoado nas manhãs,
Um belo muito obrigado
O gosto fútil da alma pagã
E as frutas tão nuas
Desenhadas no colo da mesma mulher
Pelo sorriso e rugas
Cosntruídos com o mais firme pé.


quarta-feira, julho 25, 2012

Felizes

Mais não digo
Eu aqui vendo frutas na janela
Relâmpagos pagãos costurando poemas e linhas perdidas
Eu aqui
E você, onde?

De onde são os mundos? De onde?
Talvez ali caibam questões que dançavam um som ininterrupto de medo
E talvez nós, que rimos do medo, sejamos, não loucos, mas homens
Que nos animados desenhos de nosso tempo aprendemos a rir
Porque a lágrima perdida de ódio, frustração ou dor
Não cabe entre as chuteiras de nossa vida
Ela, assim, languidamente sabedora do risco imenso
De talvez sermos felizes.

Um coração pulsante chamado revolução

Meu coração é planetário
Antes de ser, sou moleque
Talvez nota de violão olhando o sol lá fora
Talvez a raiva ininterrupta de meu som ter deixado mundos pelos gramados
Talvez.

O doce de meu doce não é tolo e nem admira o sonho
Ao sonho o que é de sonho
Ao moleque o que é de troça, o que é de riso, o que é de choro
Ao moleque o ver a rua, o sol e brindar a sorte com a imortalidade
Ao homem aquele dom de ir, aquele dom de não cair e de ver
Talvez com sorte
Um coração pulsante chamado revolução.

Como quem faz-se vivo

O tempo, o sol, as nuvens
As casas cheias, o dom do riso
Este abraço, estas pelejas
Há tanto mar e os sóis que te atacam são meu olhar.

Estrelas costuram mundos
Estrelas cheias de um sorriso
De um afago
De mil outras estrelas
O mar desfaz-me em água
Me faço mar.

Tanto há entre os riscos
Há tanta dor, tanta entranha
Há tanto bem que tudo me parece riso
Riscos são passos, são casas, riscos são nuvens e trigo
Meu sonho vem e entre teus lábios e abrigo
Sorri como quem faz-se vivo.

No peito, no pé

Já não me aguento trágico
Nem procurando uma luz de manhã
Não tenho saco pra rádio
Nem pra comer sempre a mesma maçã
Não acredito em bons modos
Já não suporto sorrir pra correr
Prefiro jegue a moto
Prefiro o sol leve do amanhecer.

Talvez seja a velhice
Talvez seja uma voz,um afã
Uma palavra curtida
Um verso ator, uma palavra fatal
Só como o que for comida
Só cheiro o perfume que faz menos mal.

Não sei se o rumo dos fatos anda apressado como pintam alguns
Meu passo é sempre mais rápido tão ocupado em fugir da luz
Ando assim por ser alto ou por ser muitos moleques, ser dor
Por brincar nada afobado com desenhos que amo com louvor
E qual criança velhaco
Ando assim como a fulgir canções
O que me dói é passado
Prefiro a cor das mil novas manhãs
Pra sorrir a velha turma
Pra beijar a boca de minha mulher
Pra curtir o sol, a sós, as cores, as ruas
A sós com muitos, no peito, no pé.


Findo

Não resolvi se mato ou morro
Se deslumbro maravilhado ou grito por socorro
Só sei que antes de bancar o cruel
Rasgo o bom papel que surta entregando o fino
E antes que me tirem por vacilo preocupo-me com o velho fel
Dos primos.

Não resolvi se esta vida é grande ou se o mundo já cansado peleia pra ir adiante
Só sei que a velha marra que cantou o velho beija-flor costuma perder tirocínio
E nessa dúvida entre ser maldito e lograr um cadafalso pra morrer
Um trampolim pra aparecer
Um senhor jóia pra comer
Sou findo.

Como se fossem Deus

Nem venho ou vou para dar assistências
Pra relogiar existências
Pra causar um frege convicto
Nem há o que clamar
Pois venho sem horas, sem passos, sem ganho
Nem venho, nem volto cantando
Costumo bancar o bandido.

Prevejo o cínico erro de cálculo
A morte dos medos, das luas
E o justo e convicto enredo do ranger das ruas
Nem temo ser simples alvo, pasmo, pasto
Pois sou dos que fogem dos quartos
E vestem-se como se fossem Deus.

Nada é simples

É tão fino
As velhas novidades do tratado reescrito, antigo
Dançam como se o mundo recomeçasse a girar
Nós do povo brasileiro não sabemos nem notar
Vivendo neste instante talvez nem saibamos pronunciar a luz azul que ele traz.

Talvez seja fútil
Nossa preocupação sobre estradas, ônibus, muros
Talvez hajam detalhes imensos a mais
Talvez nosso olhar não esteja pronto pra paz
Talvez da nossa cruz não saibamos tão mais quanto teu som, teu dom, teu olhar.

É porque a mente dessa gente inteligente
É intricada demais
É porque o som da praça nos obriga a duvidar
Talvez seja a pouca fé que o caminho nos faz levar
E se subitamente o dom da nossa gente resolva se adaptar
Eu insisto que não nos leve a mal e por favor venha nos iluminar.

É tão rico
Que o brilho nos esconde o estranho, absurdo e aflito
Jeito dessas coisas pouco se sustentar
Imerso neste já brejeiro exigente real
Que não nos cobra sucesso, apenas o fatal concreto pus do dia, nada mais
Nada é simples.