sábado, julho 19, 2003

A Marvel e sua fórmula de sucesso

Piolhices e afins
Por Rodrigo "Piolho" Monteiro
20/6/2003






Constantine

Depois de assistir a Demolidor e X-Men 2, ficou mais clara minha idéia a respeito das recentes adaptações da Marvel Comics para o cinema. Desde o primeiro Blade, a editora, que, por décadas, nos "presenteou" com versões cinematográficas dignas do velho Contos de Thunder - antigo programa da MTV no qual Thunderbird apresentava filmes tão trash, que fariam Ed Wood parecer um Spielberg - parece ter entrado nos eixos.

A fórmula do sucesso é pra lá simples: estrelas são tratadas como estrelas, coadjuvantes como coadjuvantes. Em outras palavras, as personagens do primeiro escalão (Homem-Aranha, X-Men, Hulk) são tratadas a pão de ló, têm orçamento de blockbuster, elenco, diretores e produtores de primeira e, principalmente, um roteiro o mais fiel possível aos quadrinhos. O que dá pra ficar é mantido; o que não dá (tem complicações que não funcionam na tela grande) é modificado. Foi o caso de Homem-Aranha, X-Men e, esperamos, do Hulk.

Já o segundo e o terceiro escalão (Demolidor, Justiceiro e Blade) têm um orçamento mais modesto, com elenco menos glamouroso, mas não menos competente. A grande diferença, no entanto, sobra pro roteiro. Aí, a Marvel faz mais concessões. É quase como uma adaptação livre dos gibis.

Tais "adaptações livres", às vezes, saem melhor do que a encomenda. O protagonista ganha mais em todos os aspectos. Blade é um exemplo. Eterno coadjuvante nos quadrinhos e séries animadas da Marvel, o caçador de vampiros tornou-se mais tridimensional ao ser interpretado por Wesley Snipes. Antes, o coitado estava jogado às moscas. Depois, a Marvel até lhe deu mais uma chance com um título no selo MAX. Tudo bem que o gibi foi cancelado antes do primeiro ano, mas vocês entenderam o que estou dizendo... (Cacilda, tem nego que não perdoa umazinha!!)

A DC e sua atual fórmula de fracasso



Se, por um lado, a Marvel aprendeu com seus erros, a editora DC Comics parece decidida a seguir o caminho oposto. Os executivos da Warner/DC devem ter titica na cabeça. Como é que pode os caras marcarem tanta touca diante do sucesso da concorrência?

Atualmente, há quatro projetos da DC engatilhados: Super-Homem, Batman, Mulher-Gato e Constantine. Pra cada notícia relacionada ao filme que anime aos fãs dessas personagens, aparecem pelo menos uma meia-dúzia de arrepiar. No caso do Super, por exemplo, o número de notícias assustadoras, que culminaram com o boato a respeito da escalação de Justin Timberlake para vestir a capa do azulão, é infinitamente superior ao de alvissareiras. Na verdade, desde que "Super-Homem, a novela" começou, a única novidade que animou a todos foi o fato do tenebroso primeiro roteiro da produção ter sido recusado pelos executivos da Warner. Duvida que era tenebroso? Então clique aqui e descubra, por sua própria conta e risco, do que falo.

O que me deixa ainda mais impressionado no caso do Super é que, se por um lado, a Warner/DC tenta recuperar a popularidade do kryptoniano um dia deteve nos quadrinhos e na tv (Smallville), por outro, parece determinada a afundar de vez sua franquia cinematográfica. Vai entender...

No caso de Batman, a bagunça não fica atrás. A cada dia, surge um novo boato ou notícia. Em muitos casos, uma novidade conflita com a anterior. Não seria melhor, então, essa turma ir pra um cantinho e ficar por lá até a vontade de ressuscitar a franquia do morcego passar. Nem a confirmação de David Goyer (Blade, Hellboy) como roteirista e diretor da película me deu esperanças.

A Mulher-Gato é um pouco diferente. Mesmo tendo Halle Berry (X-Men) como protagonista, o francês Pitof, diretor da película, pelo visto, vai radicalizar o conceito de "adaptação livre". Segundo recentes declarações suas, o filme não se passa em Gotham City, Batman não será sequer mencionado e a Mulher-Gato não é uma ladra. Só falta dizer que o alter ego dela não será Selina Kyle e que nem vai se chamar Mulher-Gato.

Constantine, por sua vez, é o que dá mais medo. O filme é, teoricamente, baseado no título John Constantine: Hellblazer, que traz as desventuras do cultuado mago inglês criado por Alan Moore para ser coadjuvante no gibi do Monstro do Pântano. Digo teoricamente, porque, até onde se sabe, o protagonista do filme será interpretado por Keanu Reeves (Matrix), John será transformado em americano e, pra avacalhar de vez o barraco, o filme terá censura livre. Nos Estados Unidos o gibi é publicado pela Vertigo, linha de títulos da DC Comics voltado para o público adulto (no Brasil, depois de uma tumultuada história editorial, o título estabeleceu uma moradia na Brainstore). Deu pra ter uma idéia da lambança?

Estou torcendo pra DC tomar um prejuízo medonho com todos esses "projeeeeecas", maior ainda do que o do escabroso Batman & Robin. Quem sabe aprendem?

As boas séries da FOX



Se existe um canal que faz valer a pena a mensalidade da TV a cabo é o Fox.

Impressionante como esse canal - mais ainda do que seus similares Sony e Warner - emplaca uma série boa atrás da outra a cada nova temporada. Em 2001, foi Boston public; ano passado foi a ótima 24 horas. As duas gozam de plena saúde e estão, respectivamente, na terceira e segunda temporada.

Em 2003, com a ameaça de cancelamento de dois dos carros-chefes do canal, Buffy, a caça vampiros e Angel, a Fox voltou suas baterias para promover uma nova série de Joss Whedon, o criador dos sucessos vampirescos: Firefly. Infelizmente, sabe-se lá por que, o programa foi superestimado, tendo sido cancelada antes completar sua primeira temporada. Os executivos da matriz americana não gostaram dos índices de Firefly. Pelo visto, os fãs de Buffy e Angel não se ligaram muito nos aventureiros espaciais. No Brasil, o horário de exibição (sábado, 20:00 hs) também não ajuda muito.

No entanto, enquanto a Fox promovia Firefly e suas séries já consagradas, outra produção, que não inspirava muita confiança, foi avançando pelas beiradas e mostrou ser uma das mais inteligentes aventuras da última temporada: John Doe.

John Doe mescla elementos da falecida Arquivo X com as mais bem boladas histórias policiais. O protagonista é um homem que, certo dia, aparece em uma ilha no meio do oceano. Nu, sozinho, é resgatado por um barco pesqueiro. Ao chegar ao continente, descobre que não se lembra de nada a seu respeito. A única pista que tem sobre seu passado é uma estranha marca no peito. Todavia, há algo estranho em John Doe (termo que, nos Estados Unidos, serve para designar indigentes, pessoas e cadáveres não identificados). Apesar de não saber nada sobre si, sabe tudo a respeito de todo o resto. E por "tudo", entenda-se literalmente tudo. De alguma forma, o cérebro de John Doe foi dotado de todo o conhecimento registrado pela humanidade desde o início dos tempos até os dias atuais e o processo não pára. Não há tópico que ele não domine, desde número de gomos presentes em uma bola de golfe até as mais modernas teorias da física quântica.

Munido desse infindável arsenal de conhecimento, Doe parte tenta juntar as peças de seu passado. Nesse meio tempo, ajuda a polícia local a desvendar os mais intrincados crimes, encarnando um detetive que, ao meu ver, mescla a genialidade de McGiver, as deduções um Sherlock Holmes e os poderes do Cifra, aquele membro dos Novos Mutantes que podia falar qualquer idioma apenas ouvindo poucas palavras. Sensacional! E espero que, ao contrário de outras séries promissoras canceladas prematuramente, como a ótima Brimstone, Doe tenha uma sobrevida longeva.

Chega, né? Mês que vem eu volto.

A "Piolhices & Afins" desse mês foi escrita ao som de Heart of darkness, dos alemães do Grave Digger e de Vampire (or dark faerytales in Phallustein), do Cradle of Filth

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