terça-feira, fevereiro 17, 2004

Natureza e cidadania

Gilson Júnior

Como urbanóides muitos de nós vivemos em um perpétuo complexo de culpa pela saudade do natural, algo muito interessante. E com esse complexo se geram gerações de ecologistas fanáticos que salvam as baleias em lindos fins de semana em Fernando de Noronha e participam de fortes passeatas na praia de Ipanema contra o transporte de Petróleo em navios velhos. Acho isso lindo.

Agora, como urbanóide chato e à procura de um sentido mais amplo na manutenção do meio ambiente hostil à nossa volta me pergunto, e a cidade como é que fica? Sim, a natureza é algo maravilhoso e nos permite uma real sensação de humanidade pela libertação de nosso lado mais animal, mas e a cidade à nossa volta, o meio ambiente não mora aqui?

Pergunto isso porque o espaço ambiental é tudo o que está a nossa volta, é o circulo onde vivemos e seu equilíbrio. Ou seja, se partirmos só pra Fernando de Noronha, logo, logo, Fernando de Noronha vai ser cidade e vamos ter que mudar de novo. Explico. Ao cuidarmos só dos espaços mais lindos de nosso litoral e de causas distantes infelizmente abrimos mão da responsabilidade de mantermos nosso meio vivo, mais precisamente, sem sermos cidadãos e mantermos nossas cidades com um mínimo de equilíbrio com o natural e entre nós, melhor pedirmos ao Greenpeace que nos salve, porque isso acaba logo.

Falo isso porque percebo que desvinculam preservação ambiental da necessária preservação social e da participação política. Assim fica limpo brigar pelo meio ambiente e tolo brigar por uma gestão melhor do estado e pela melhoria de nossas cidades, esquecendo todos que sem uma cidade viva, limpa e em equilíbrio o tal do Meio Ambiente, uma entidade purérrima, vai pras cucuias.

Esquecemos o povo mais pobre, esquecemos de sermos mais doces e educados, esquecemos de não jogar papel no chão, de não urinar nas paredes da cidade, e outras atitudes nada bonitas, mas vamos salvar baleias no norte do País, não é lindo?

Sem sermos cidadãos e percebermos que tudo à nossa volta e todas as nossas atitudes são ou danosas ou salvadoras de todo o ambiente, nada se resolve e em última instância salvamos baleias que matamos todos os dias. Por isso ao nos engajarmos na vida de luta que é a preservação do meio ambiente devemos ter em mente que isso vai desde uma mudança fortíssima em nosso comportamento até a preocupação de quem elegemos para prefeito, de qual é a melhor escolha de política ambiental dos políticos à nossa volta, se ela inclui a erradicação da pobreza e do saneamento precário que temos no Brasil e até a busca de informações mais precisas sobre a legislação ambiental, de gestão de recursos públicos, etc.

Será que nosso Meio Ambiente é recurso público também? Se não é deveria ser? Como entender isso? Estudando e estudar é ampliar a responsabilidade de nossa atuação em todos os níveis da preservação ambiental, e esses níveis se revelam cada vez mais próximos de uma atitude consciente e cidadã, de uma atitude ética, de uma atitude natural.

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