Uma dia escrevi, com mãos novas, que minha causa era o Homem.
Daquele olho, o som das palmas das mãos e o brilho de um futuro, uma utopia radiante, mesmo que mais cínica, bêbada, morta-viva numa fome de futuro, é o que me dá nome.
Me imaginava guerreiro como quem sobe montanhas que desenhavam anarquismos em papéis e bandeiras. Me imaginava outro, menos vivo, mais formatado, caiado em sepulcros promovidos a uma disciplinada guerra que nunca houve. Me imaginava mais feliz do que hoje, me imaginava o que jamais me faria feliz ao ver-me hoje.
As mãos que escreveram que minha causa era o Homem envelheceram, mudaram, voaram, caíram, subiram nas montanhas da alegria e mergulharam nos pântanos da desilusão muitas vezes. Os olhos não, eles ainda lacrimejam ao lembrarem-se do passado e ao imaginar o futuro, eles sonham, eles escrevem.
A lua, a super lua, hoje trouxe à amiga Niara a lembrança de uma lua e de canção e desta canção cheguei a uma que me lembra daquele moleque e de outro mais antigo, que não pensava em nada, voava, era cowboy, lançava raios e queria ser o Wolverine.
Mira Ira, do Tarancón, me deu uma canção grito, um urro de sonho que permanece, um gesto, uma forma coração, um vento.
Mira Ira é daqueles exemplos, daqueles mundos que nos lembram do moleque que nunca deixei de ser, que nunca quis deixar de ser, me dá o laço que fez ser aquele menino de oito anos, o jovem de vinte e seis e esse maluco de trinta e oito, unidos no querer voar, no mudar o mundo e no ver nas coisas aquele brilho e cor que nunca se sabe, mas se sente e pressente.
Minha sorte é das boas, menos por acumular moedas e mais por acumular gentes, corações, guerras, vidas, rumos, fundos, sonhos, cervejas, vinhos, beijos, amores, camas.
Minha sorte é feita de amores e canções e algo me diz que dessa vontade de não ser só eu, de fazer mundo melhor, de dar risos, de brincar pela vida, criando meus bichos, versos, circos e sonhos. E não, não deixei de ser o egoísta mimado ou virei um anjo de candura, mas sou repleto de contradições que me derretem ao gerar um amor que nem dou conta de sentir.
Um dia escrevi que minha causa é o Homem e no anarquismo do Movimento da Incoerência mineira criei sementes e uma raiz tão forte nessa lembrança que hoje ainda ecoa a dor pelos derrotados, pelos oprimidos, amassados nessa vida, e a poesia de sua libertação. Ainda ecoa no peito essa paixão pelo devir, pelo mundo livre de opressões, ainda ecoa o desejo de perfeição, de nunca ser o braço que oprime, e garanto que o caminho mais fácil pra mim seria exatamente o inverso.
Um dia escrevi que minha causa era o Homem, e meu pito nunca esqueceu, e o menino,o moleque que trago em meu coração também não. Do meu pai trouxe antes demais anda a imensa teimosia e o coração luso-brasileiro, o ouvido que canta e uma boa dosagem de lirismo, um pouco cínico, é claro.
Um dia a causa, o Homem, tornou-se uma escolha feita por um moleque aos oito anos de idade, ele só cresceu.
Anana ira mira ira nana tupi anana ira anana ira mira ira.
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