Costumava andar em montanhas minhas. Adoro-as.
Sou montanha e mata, atlântica of course.
Sou assim como quem não decide, nem se voluntaria como amazônico, mas desliza atlântico como que se a tropicalidade rosnasse.
Nasci e cresci como quem trabalha entre montanhas, como quem é espremidos por pedras e florestas na direção de um mar que lembra deserto. O deserto,a areia, o sal das águas que devoram almas e vontades,o mar que me expande em alma e som, tudo isso me alimenta de lindezas, mas é na montanha que encontro o surdo eco das fomes e vontades.
As montanhas me fazem cidade, me desenham nas ruas e estradas, me colorem com a mistura de terra com fundações de civilização, portos e castelos.
As montanhas me desenham a pele, o hábito, a jugular da corte a ser mordida em uma voadora ação suburbana, o ônibus, a igreja, a linha do olhar, a direção, o norte, a zona norte.
Nasci montanha, floresta, atlântico, tropical, nasci ruelas, desenho irregular de casas e gentes, gente preta, branca, amarela, pobre, de bicicleta em pernas, pão e carne, cerveja gelada e erres a mais.
Nasci numa terra onde a casa é dura, onde a Madureira madura nos transversaliza em Portelas e Impérios, onde o rosto contempla o longe, e ao longe se faz sorriso e dor, e corte e faca e vela.
Nasci montanha, morro, verde, ar, cachorro, pé no chão, bola e pipa. Nasci sem voar, sem saber soltar-me pipa, mas correndo, sempre correndo, pé no chão, cachorro na mão, vadia vida, vazia alma, leve, pesada, arrogante, brigona, minha.
Se o mar avisava o grande, amontanha me avisava o longe, a linha, o norte.
Apaixonei-me por montanhas desde sempre, pelo Dois Irmãos, pela Pedra da Gávea, Serra de Madureira, Serra dos Órgãos, Itatiaia. O Mar olhando ao longe, e elas, enormes, magnânimas, olhando de dentro.
Daqui do Oeste ,montanhas fazem sentido, mar expande o olho, florestas nos fazem sorriso.
Nasci montanha, coleciono montanhas e florestas.
Atlântico, tropical.
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