terça-feira, dezembro 24, 2002

Foda, muito foda:




Isto é arte e não sexo


O escritor escocês Irvine Welsh descreve um set de um filme pornô

Eu desço do vôo, entro num táxi e vou pro pub. Rab está lá com dois amigos estudantes e pencas de equipamento. Betacams, DVs, câmeras 8mm, um monitor, e tralhas de sonorização e iluminação. Ele apresenta os estudantes como Vince e Grant, e eu os faço subirem as escadas.

Nosso set é minimalista: um amontoado de colchões no chão. Conforme eles vão ajustando o equipamento e os atores começam a chegar, o ar está crepitando de excitação. Meu coração pula uma batida quando Nikki dança quarto adentro, aproximando-se sorrateiramente e ronronando:

- Como foi em Amsterdam?

Excelente, e vai ficar melhor ainda, eu sorrio, me virando para abanar Melanie enquanto ela chega. Minha segunda protagonista é uma garota muito sexy - no sentido de um jantar de peixe de águas profundas sendo exatamente o que você quer na ocasião - mas dificilmente haute cuisine. Ela deveria ser bonita, mas circunstâncias sociais e econômicas a fizeram cuidar de si mesma de um jeito muito diferente de Nikki. Quando eu começo a pensar nisso, agradeço a Deus por ter uma mãe italiana.

Meu elenco, minha trupe; e que equipe eles são. Além de Mel, Gina e Nikki, há Jayne, uma putinha de sauna amiga dela, e a vadia sueca (ou norueguesa) Ursula, que não é tão bonita quanto parece, mas é uma baita duma fodedeira. Tem também a Wanda, putinha do Mikey, que parece um pouco desvairada com seus olhos esbugalhados, de pernas cruzadas num canto. Eu, Terry e seus amigos fodedores Ronnie e Craig estão presentes. Rab e seus camaradas estudantes parecem um pouco desconfortáveis.

Fica evidente durante o ensaio que terei problemas com Terry e sua turma. Eles não são muito ruins nas partes de sexo, eles têm bastante prática, mas não entendem a diferença entre trepar para a câmera e fazer um filme pornô. Além disso, a atuação é lamentável. Até mesmo as falas mais rudimentares - e elas são rudimentares pra caralho - são invariavelmente embaralhadas. Meu plano é aumentar sua confiança começando pelo que eles sabem fazer. Então vamos filmar primeiro as cenas de sexo, começando pela orgia, que é a cena final, mas que será encorajadora para eles, e deverá ajudar a estabelecer uma certa presença de espírito.

Há muitos problemas básicos. Eu coloquei Melanie no papel de uma adolescente, o que é razoavelmente apropriado para a idade dela. Mas olho para seus os braços, com os nomes "Brian" e "Kevin" tatuados, e penso - Melanie, você devia ser uma virgem inocente. Essas tatuagens têm que ser maquiadas.

Ela levanta os olhos atrás de um nevoeiro de Embassy Regal, e dá uma risadinha com Nikki. A tal Gina está olhando em volta como quem quer foder, destroçar, e finalmente comer cada pessoa no recinto. Tá pra jogo. Pena que seja uma baranga.

Eu bato palmas para chamar atenção. - Feito, gurizada. Vamos lá, meus queridos, vamos lá. Escutem! Hoje é o início do resto das suas vidas. O que vocês fizeram antes disso é boiolagem. Agora estamos fazendo um filme de putaria de verdade. Portanto, a habilidade em entrar no clima, em parar e começar, é crucial. Todo mundo decorou suas falas?

- Sim, resmunga Nikki.
- Acho, diz Melanie, contendo o riso.

Terry dá de ombros, de um jeito que me diz que o filhadaputaputa não entendeu nada. Eu sinto meus olhos viram e minha cabeça vistoria o teto em busca de inspiração. É bom mesmo que estejamos começando pela foda.

Melanie e Terry mal podem esperar para começar. As roupas são tiradas sem mais delongas, e os amigos do Rab tomam conta do equipamento. Eu assumo uma das câmaras digitais e trato de colocar os dois em quadro. Grant enche um pouco o saco com a iluminação e Vince diz que estamos com o som rodando. -Ação!

Vamos lá, Tex, cai de boca nessa buceta, eu digo, não que ele precise de algum encorajamento, pois já está nela, trabalhando ela com os dedos e a língua. Eu vou me aproximando devagar, meu olho intrusivo naquela língua sôfrega e naquela racha úmida. Mas ela está meio travada, e eu paro a ação e observo:

- Você parece um pouco tensa, Melanie, meu amor.

- Não consigo entrar no clima com todo mundo me olhando, ela reclama.

- Não é como lá no pub, quando todo mundo fodia junto.

- Bom, mas vai ter que entrar. Esse é o mundo pornô, querida, digo pra ela. Eu vejo Nikki olhando pra eles, devassa e animalesca, sua língua afiada e pequena lambendo suor daqueles lábios levemente cruéis, e isso me inspira um pouco. Posso ler uma vadia como um livro, e ela está louca por um pouco de ação.

- Atenção, uma nova regra no set. Ou tira a roupa, ou vai foder longe daqui, eu digo, afrouxando o meu cinto.



Rab parece mortificado, lá atrás do tripé. Ele olha para Nikki, e para Gina, que já está tirando a blusa. Nikki começa também a tirar a dela e eu paro um instante para admirar o movimento da roupa sendo puxada sobre sua cabeça. Caralho, essa vadia é gostosa. Com um jeito convencido, esportivo, de garota de educação física, Nikki diz para a equipe: - Vamos lá, garotos, enquanto remove o sutiã e expõe aqueles peitos bronzeados, firmes como rochas, emitindo um forte sinal de radar para a minha virilha. Ela desabotoa a saia e puxa suas calcinhas para baixo, saindo delas para expor aquela bucetinha recém raspada.

- Ni-kay, eu digo, involuntariamente soando como Ben Dover em um dos seus vídeos, a imprescindível entonação elogiosa.

- Estou pronta, ela faz um beicinho e ronrona.

Concentração, Simon. Me refugio atrás das lentes, tentando entrar em modo técnico.

Agora os grandes peitos da Gina estão balançando pra todos os lados e os olhos do Terry estão saltando fora da cabeça. Às vezes ele me irrita, com essa predileção sórdida por quantidade ao invés de qualidade.

O pobre Rab ainda está se cagando, mas dá pra perceber que ele quer ir adiante.

- Eu estou só na parte criativa... Minha noiva está tendo um filho... Eu não quero fazer isso... Quero ser um cineasta, não um ator pornô!

- Bom, o elenco pode fazer o que quiser, mas eu estou entrando no espírito da coisa, anuncio, tirando minha camiseta e dando uma olhadela no espelho da parede.

Wanda olha em volta e anuncia num estalaço de beiço que os rapazes mais sexy são os vestidos, o que deixa a mim e o resto dos artistas desconcertados.

Contudo, minha tática funcionou, porque logo Terry e Melanie estão trepando, e eu fico excitado. Então Nikki chega perto e me diz:

- Acho que eu gostaria de sentar no seu joelho.

Eu estou quase pronto pra responder com "cai fora, eu estou dirigindo" mas isso sai como: - Tudo bem, em um grave suspiro, conforme aquelas deliciosas nádegas são depositadas graciosamente sobre a minha coxa. Sinto meu pau ficar duro e acomodar-se na cavidade da sua espinha enquanto assistimos Terry e Mel em ação. Tenho que permanecer concentrado, lembrar que estou na cadeira do diretor.

- Deite, Terry; senta nele, Mel...

Disciplina.

Mel está chupando o pau de Terry, lambendo a ponta, engolfando a haste, e um pouco depois Terry a conduz para trás da grande cadeira estofada... Nikki se mexe um pouco, se acomodando mais um pouco contra mim...

A disciplina irá aplacar minha fome...

Os cotovelos de Mel estão na cadeira e Terry meteu por trás. O cabelo de Nikki escorre pelas suas costas, seu cheiro de pêssego dançando nas minhas narinas... Ameaçando inundar os meus sentidos...

A disciplina irá aplacar minha sede...

Agora Terry está se rendendo e eu tusso algumas palavras de encorajamento enquanto minha mão repousa inerte na coxa de Nikki, aquele suave pecado, perfeito como seda...

A disciplina irá me tornar mais forte...

Terry está no embalo e ele e Mel estão fodendo como pistões agora, Mel ajustando o ritmo, encaixando a bunda naquele pau dele como se tentasse devorá-lo. Terry exibe aquele olhar complacente, sonhador, que homens têm quando estão gostando da foda, como se não fosse nada demais. Aquela espécie de distração voluntária quando você está com uma mina gostosa, pra evitar de gozar cedo demais, ou quanto você está com uma baranga, mas aí é para conseguir ir adiante. Basicamente, é a mesma merda.

... Se não me matar antes...

Eu decido interromper a ação ali.

- Corta! Pára, Terry! PÁRA!

- Mas que porra ... Terry resmunga.

- Ok, Mel, Terry, eu quero que vocês tentem fazer a Vaqueira Invertida, a cena clássica que precisamos para um filme pornô.

Terry olha para mim e reclama:

- Não dá pra trepar direito desse jeito.

- O objetivo não é você dar uma boa trepada, Terry, é você parecer estar dando uma boa trepada. Pensem na arte!

Olho em volta rapidamente para averiguar que os demais estão encarando uns aos outros, exceto Rab e a equipe. Gina está olhando pra mim com um sorriso predatório no rosto. Ela pergunta:

- Quando nós entramos?

- Eu dou o sinal, digo, deixando implícito, mesmo a essa altura, que a maioria das cenas dela não sobreviverão à edição.

Melanie tem uma boa concepção para o Papa João Paulo (como nós do ramo chamamos a Vaqueira Reversa, ou VR), leve e ágil, mas com um pouco de força. Terry está apenas deitado lá, aquele belo toco de madeira que ele tem engolido pela Melanie, que está indo pra cima e pra baixo nele. As mãos dela seguram a própria cintura enquanto ele altera o seu ritmo e vai um pouco mais fundo e ela começa a franzir o cenho.

- Assim, Terry, mereça o seu ganho. Fode ela! Mel, tente manter os seus olhos na câmera. Foda o Terry, mas ame a lente. Terry é apenas um objeto de cena, um apêndice ao seu prazer. Você é a estrela baby, você é a estrela...

Nikki puxou o braço para trás e botou uma mão em volta do meu pau

- ... Você é linda, este é o seu show...

Afasto Nikki gentilmente, e, ficando em pé e a pegando pela mão, grito: - Corta! Então explico pra Nikki:

- Eu quero você ali, no pau do Terry. Terry, você está indo bem. Agora você lambe a Mel enquanto a Nikki chupa você.

- Mas eu quero gozar, porra! Ele resmunga enquanto Ursula se aproxima dele com toalhas e ele faz uma careta antes de ir para o banheiro para se limpar um pouco.

- Vamos lá, Tel, eu grito com ele - não seja tão ingrato, caralho. Eu disse que você vai lamber a Mel enquanto a Nikki vai te chupar. Que vida dura, hein?

A tomada foi planejada. Nikki caindo de boca no caralho de Terry me causa uma sensação esquisita, especialmente porque ela parece estar adorando. Fico aliviado quando tudo acaba e nós saímos para o almoço, ou pelo menos os outros saem. Rab e eu vamos rever o que gravamos no monitor. Tenho que telefonar para os outros porque eles não desgrudam a bunda da porra do pub. Nikki parece ter andado bebendo, provavelmente precisa disso para desenvolver aquela coragem de bêbado. É estranho, mas eu estou começando a sentir aquela sensação desconfortável, possessiva sobre ela. Eu não estou feliz com a idéia de ela estar sendo carcada pelo Lawson diante da câmera. E tem coisa muito pior por vir.

Gina continua me pentelhando.

- Eu e Ursula e Ronnie e Craig não fizemos nada ainda.

- Nós introduzimos uma pessoa de cada vez, construindo um clímax, eu explico de novo. - Paciência! Coloco Mel e Terry bombeando de novo. - Tenta no rabo dela, agora, Terry, eu digo - vamos lá, Lawson, vamos ver alguma ação anal...

Meus poderes motivacionais não são realmente necessários aqui; é como encorajar o Drácula a ir na jugular. Terry empurra Mel para longe, a deita e dobra suas pernas para trás, sobre os ombros. Ele cospe furiosamente, espalhando a baba no cu dela, e então entra vagarosamente. Eu aceno para Nikki, e cada um de nós pega uma das nádegas de Mel e as afastamos conforme Terry vai forçando para dentro. Instruí Rab a cuidar da posição das câmeras de tal maneira que façamos um close na ação no rabo e um na cara de Mel, para que possamos cortar e editar entre eles.

Melanie está apertando os dentes e fazendo caretas (uma tomada necessária para o poderoso mercado misógeno que quer "ver a vadia sofrer") mas conforme vai entrando no clima, e vai arranjando espaço para acomodá-lo, entra naquele estado meio de sonho (tomada necessária para o preguiçoso yuppiezinho romântico-transgressivo que teve um dia duro no escritório e só quer deitar e aproveitar uma relaxante foda anal).

É muito importante que as expressões faciais cubram todas as bases emocionais. Pornô é essencialmente isso, um processo social e emocional. Qualquer um pode empreender uma interação genital... Nikki me beija forte na boca e está chupando o meu pau, e eu vejo Rab parado perto do bar e Gina ainda olhando para ele e parecendo perturbada e Craig chupando os mamilos de Wanda e eu estou pensando que nenhum deles vai me controlar, nunca... Então me dou conta de que algo está faltando.

- Corta! eu grito, quando Nikki começa a chupar o meu pau.

- O quê? Terry continua bombeando. - Você tá brincando, caralho!

Nikki tira meu pau da sua boca e olha pra mim.

- Não, Terry, não, vamos lá. Temos que fazer isso na posição da vaqueira. VRA, Vaqueira Reversa Anal.

- Porra... Ele diz, desencaixando.

Nikki olha para Terry, e então para Mel.

- Como foi? Ela pergunta.

Mel parece bem alegre.

- É dolorido no começo, mas depois você entra no clima. Terry é realmente bom, ele sempre põe pra dentro direto. Alguns caras não sabem como fazer, elas castigam aquela parte de pele, o períneo, e deixam ele bastante ardido e sensível. Terry sabe como botar pra dentro direto, ela diz.

Terry dá de ombros com orgulho.

- Experiência, só isso.

Mas agora Nikki parce na ativa, seguindo minha deixa e participando da brincadeira, louca pra continuar.

- Escuta, Mel, Nikki diz, - você sabe o que eu achei realmente lindo, o que realmente me deixou com tesão? Foi quando Terry cuspiu no seu cu. E, tipo, preparou ele. Eu poderia fazer isso com você?

-Sim, se você gosta, Mel sorri.

Terry não está preocupado, mas eu estou exultante. Sim, Nikki é a estrela aqui. A vadiazinha é de qualidade.

Mas agora volto para o papel de treinador, lembrando Nikki que este é um jogo coletivo e precisamos manter nossa disciplina e nossa forma.

- Cuidado, Terry, não espirra a tua porra na Mel. Tem que haver uma retirada, então uma punhetinha e uma gozada na cara dela. Lembre-se da narrativa da pornografia, nossa jornada seqüencial: boquetes, esfregação, chupar buceta, foda, posições diferentes, anal, dupla penetração e finalmente, a gozada na cara. Lembre-se da velha rotina dos campos de treinamento.

Terry tem dúvidas sobre essa história toda.

- Não curto foder uma mina que nem um louco e não esporrar dentro dela.

- Lembre-se, Terry, isso não é sexo. Isso é interpretação, performance. Não interessa se você está gostando ou não...

- Claro que eu estou gostando, é o tempero da vida, ele diz.

- ... Porque você e eu, nós somos apenas caralhos. É tudo que somos. As minas é que mandam.

Ao fundo, Ronnie e Ursula dedicam-se à rotina e Craig está fodendo Wanda, que está lá deitada como um cadáver. Eles são apenas papel de parede enquanto eu estou ajustando a ação principal para o primeiro plano.

- Eu estou pronto, diz Terry, endurecendo o pau, enquanto Rab olha inescrutavelmente. Aquele idiota do Grant está segurando a bronca com a luz.

- AÇÃO!

Então filmamos enquanto Nikki cospe copiosamente no cu de Melanie e o arregaça. Gina chupa o pau de Terry e Mel, como um caranguejo, está pronta pra descer sobre eles. Bem quando ela está começando a descer, a porta abre e a grande Morag entra.

- Simon ... Oh ... Ela se engasga, os olhos saltando de sua cabeça, - É... Eh... O cara do Sunday Mail está aqui. Eles trouxeram um fotógrafo... Ela se vira sobre os próprios calcanhares e sai, fechando a porta.

Porra de Sunday Mail... Fotógrafo ... Que merda

Então ouço um grito horripilante atrás de mim. Me viro para constatar que a Mel escorregou, caindo com todo seu peso em cima do Terry.

-AAGGHHH! SUA PUUTTAAA! Ele berra em agonia.

Melanie fica de pé, dizendo:

- Ah, Terry, me desculpa mesmo, a porta abriu e eu tomei um susto e escorreguei...

O pau de Terry; parece que o desgraçado quebrou. Está arrebentado, preto e azul e vermelho. Ele está gritando, e Nikki está ligando pra uma ambulância no seu celular e eu estou pensando, a merda do Sunday Mail... Que diabos a gente vai fazer se o pau dele estiver destruído? Ele é a porra do meu protagonista...

SE VIRA

- O texto acima é um trecho do mais recente livro de Welsh, Porno, e foi originalmente publicado na revista Nerve. Leia o texto em Inglês.



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