Hoje me dano
Me dano pois em mim há os desertos dos infernos que criei
Eu só queria brincar de bola, lamber goiabas e correr sem limites
E chorei nunca ter sido aquilo que abraçaria o coração primeiro
Chorei e choro por me inventar todo dia novo e velho ainda ser infante
E ver que me queriam herói quando era escriba.
Hoje me dano porque preferi o vôo das garças, o andar ao sol e o rir abraçando cães
E querer lidar com pequenos que ouçam a voz do sorriso e brinquem com minha história
Hoje me dano por me sentir pequeno, tolo, tosco, surdo
em meio a uma música que não escolhi dançar
Pleno de saberes e vontades, de fomes e versos
Pleno do querer ver mar, andar amor na Ouvidor
Flanar alegre e sendo um riso que nunca fui
Eu, Casmurro, em um campo de Capitus
Elas ali com olhos de uma ressaca criada por mim e livres em um mundo que não vi por míope.
Hoje apanho de novo do menino mais forte porque lhe disse Heróis gregos e sua força não os conhecia
Hoje de novo abro caminho entre os fortes com os punhos que não quis usar e me perco no sabor do sangue
No gosto do Sangue que queria danar em mim
Hoje me sangro no sangue alheio
E me escondo.
Hoje olho e espero um pai que não vai chegar
Hoje olho o amor que tenho e não sei se virá
Hoje o futuro me lembra um passado
A urna do cotidiano guarda pandoras impossíveis
Hoje preciso ser fraco, calar, gritar, dançar um tango
Ouvir rumbas, rir de besta
Cantar dores antigas
Ironizar minha finitude
Morrer um pouco
Olhar meu Rio de outrora numa rua da Lapa
Hoje preciso de um sentido infinito que morra em segundos
Preciso de muito e de ti
Hoje preciso de irmãos e de ninguém
Hoje sou eu e só
E é isso.
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