quinta-feira, janeiro 05, 2006

Beduíno

Ri sarraceno alvo
Chora as mortes benditas
Traz da alma dos teus alvos
A livre cor das retinas.

Ganha teu mundo em cortes
Em sussuros, gritos, sinas
E me deslumbre os olhos
Com este sangue que me ensina
A desferir sozinho
O golpe d'alma vadia
Na doce tez da calma paz que estagna
Deixa-se amar qual criança
A ver-se brincando na areia
Transforme o amor sem a calma
Arda na floresta cheia.

Traz o livre querer, cigano alvo
Beduíno dos desertos da cheia
Tu que trouxeste o vento que ateia
Este fogo que lança-me ao espaço
Agradeço teu rosto e teu cansaço
Não me alegro, mas tampouco me deito
Apreendo das dores o apreço
De um sonho hoje transformado e limpo
Em outra fé, outro rumo,outro ofício
Sacro ofício de cantar desmantelos.

Cão da verdade
Da lida dos desertos
Tu, meu sangue, meu corpo, meus tropeços
Fala alto do livre ser acerto
Sendo o oposto absurdo de um verso
Tu que falas qual fogueira
Qual terno copo de sonho e segredos
Tu que ensinas o livre reapreço
Mostra a arma do riso ou do destino
Vendo a cor deste ferro corrosivo
Da espada do livre desejo.

A paz que me rende o olhar e a canção
É o fogo ardendo pelas cenas
Onde a alma passeia, não pequena
Beduíno, minha paz não é calma não!
Ela é valsa e guerra e mundão
Ela é a ferida que dói acesa
Neste canto onde rumos trazem a presa
Onde o riso mistura-se à fé
E a dor ensina o todo e é
Ela própria a alegria da beleza.

E Beduíno o meu sonho é tanto
Que minha cabeça não consegue sonhar
Por isso eu rodopio e finjo
Nada sentir enquanto sofro o parto
Enquanto sofro, rio e persigo meus astros.


Como meu sorriso ao te ver e entender.

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