sexta-feira, agosto 18, 2006

Fim da Política? Fim da história?

Em entrevista recente o Sociólogo Francisco de Oliveira coloca a política como um elemento já descartado das relaçõe ssociais, substituído pelo discurso econômico e por um sentimento, entre a população, de distância com relação ao processo e a discussão política.

Se por um aspecto foi precisa a avaliação do intelectual, por outro há um possível equívoco em se tratando da política como condição sinequanon para a manutenção da dinâmica das relações sociais.

Isto é colocado devido ao fato da mesma discussão econômica em si não ser nada além da primazia de um determinado discurso político ligado a todo o processo de dominação do capital sobre o trabalho e a cultura. Este domínio, político em si mesmo, se dá não só pela clara hegemonia do Capital no âmbito político-cultural como determina também uma derrota do discurso socialista se o analisarmos como "superado" a partir do processo de ruína das experiências do socialismo real.

O que há, avaliando-se a realidade sob a dinâmica das relações políticas, é que o discurso econômico é a ponta de lança de todo o aparato ideológico do liberalismo e a partir do processo claro de "transferência" da cultura dominante para a cultura do dominado, acontece o natural contágio da classe trabalhadora pelo pragmatismo economicista propagandeado pela grande mídia e pelas lideranças neo-liberais.

Esta substituição do discurso "esquerdista" pelo discurso pragmático do ganho monetário e da necessidade de um "desenvolvimento econômico" construído a partir do seguimento das "receitas" do mercado não se dá pelo papel secundário da política em relação à economia,mas antes pelo contrário da dominação de uma visão da realidade que coloca o capital como elemento principal das relações e isso, antes de mais nada, é política, mesmo que para socialistas signifique uma política alienígena às suas pretensões, estratégias e táticas.


Como se dá então esta substituição? Se dá através do processo histórico de paulatina derrota dos projetos socialistas, substituidos pelo processo de burocratização constante dos movimentos sociais, sindicatos e partidos e pela substituição da luta política de base, ou mais propriamente dita, revolucionária pelo projeto eleitoral, pela luta eleitoral, pela conquista da institucionalidade em nome de reformas que humanizariam o Capitalismo e a partir de um processo de conciliação de classes levaria ao "desenvolvimento", à satisfação dos desejos das classes trabalhadoras e , porque não, ao fim da desigualdade.

Nada mais falso, é claro. E falso pelo simples fato da isntituição ser exatamente a parte visível do projeto liberal de hegemonia, por ser estruturada exatamente para regular o funcionamento do mercado e adequar a sociedade a este projeto através de medidas coercitivas por um lado e socialmente compensatórias por poutro.

Quando a organização e mobilização da sociedade com o fim de substituição de um modelo de estado e de relações sociais é trocada pelo reforço de uma institucionalidade que é pró-mercado e mantenedora de um arco de relações sociais que é fundamentada na manutenção do mesmo mercado, o que se dá não é o fim da política em si, mas a formalização da hegemonia de uma ideologia sobre outras.

Este hegemonia dá a falsa impressão da necessidade de seguir determinadas regras, leis mesmo, que são "naturais" tanto ao funcionamento do estado quanto na base das relações entre as pessoas. Assim a economia salta de seu aspecto político e ganha ares de ciência natural, reguladora de toda a vida humana, pedra fundamental da existência.

Porém a politica permanece nas relações entre as pessoas e sua negociação permanente para a sobrevivência, quando a dicotomia entre classes, entre "níveis" de vida, de status, as diferenças entre gêneros e "raça" aparece sob o aspecto da luta pelo ganha pão ou pelo aspecto da dominação do outro através do poder à mão no momento. A política está alí na negociação de salários, da lpiogica da supremaci amasculina e heterossexual, na idéia da "raça" como elemento de superioridade e ainda mais na idéia da renda como fruto da implementação da competência e não como fruto de todo um processo de dominação de classes.

Assim quando se fala no fim da política, pode ler-s eo fim da história pintado de vermelho, por aborda sob uma máscara de fatalismo e niilismo uma recusa de perceber a derrota de uma maneira de fazer-se política à esquerda pelo recuo, pela recusa da percepção da falência de um modelo burocratizante de fazer-se política à esquerda e pela substituição deste pelo mesmo velho modelo pró-liberalismo, ao contrário da busca de uma práxis inclusiva da população no processo de mobilziação da mesma, de baixo pra cima e não como feito hoje, na arrogância intelectual de sermos avançados enquanto a população está no atraso da consciência.

É preciso muito mais do que aceitar uma derrota do velho modelo de ação socialista, é preciso uma mudança na metodologia de análise da realidade e de ação com relação à mesma, de forma que possamos não falar de socialismo para às massas, mas sim construirmos um socialismo, com as massas. Mas isso só acontece se olharmos a política da forma como ela é e não como gostaríamos que fosse.

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