terça-feira, agosto 29, 2006

Na mídia, pedra é bomba atômica

Este artigo não tem a pretensão de ser definitivo ou mesmo explicar a guerra Israel X Hezbollah, nem mesmo de coroar uma explicação final sobre o papel da mídia no conflito, mas sim de pincelar observações a respeito do pitoresco comportamento de nossas redações a respeito do conflito.

É complicado para quem observa com cuidado não perceber uma certa má vontade com nossos irmãos Árabes na mídia Brasileira. É quase que praxe colocar Árabe como Terrorista e, como todos sabem, Árabe é qualquer coisa que venha do Oriente médio. Se bobear Camelo é Árabe e recita o Corão nos dias santos. Veio de lá? É batata! Árabe. Damasco é Árabe, Iraniano é Árabe, Areia é Árabe, só o Caviar Iraniano não é Árabe porque inventaram que o Caviar é russo (Tá! Acredito) e caviar é chique.

Os redatores e (muito menos) âncoras pouco se importam se Israel surgiu em um território anteriormente ocupado por outra nação por imposição do Ocidente (Sentindo-se culpada com o coração alheio pelo Holocausto), poucos se importam se os EUA entram em um País para ditar sua política interna baseados em "suspeitas" nunca confirmadas, poucos se importam se para três pedras atiradas, Israel resolve lançar quilhões de mísseis, o importante é defender a tal "civilização". Civilização essa que alguns acrescentam o epíteto de Judaico-Cristã.

Todo mundo que não fica sentado esperando bomba e acenando como os Pingüins de "Madagascar" é terrorista. O pai que perdeu seu filho em bombardeio, os caboclos que perderam casas e família e partiram para uma atitude mais, digamos, drástica, é tudo terrorista. E agora o PCC também é terrorista, ou seja, daqui a pouco a rapaziada do Oriente Médio vai perder o charme de terrorista e cair direto na nomenclatura de Bandido. E você sabe,né? Bandido bom é bandido Morto. E Tome GETAM, ROTA, versão Judaica - Texana, sem culpa e com orgulho. Até porque defender civilização é mais maneiro que defender um sistema, certo? Pelo menos no âmbito da publicidade.

Aí que está o busílis: Todo este bafafá, esta terminologia, esta postura é fruto da defesa intransigente e cada vez com menos argumentos de um sistema que não só precisa do Petróleo existente no Oriente Médio, como necessita da Guerra para impor seus objetivos imediatos já que seus frutos estão no pé e causando danos cada vez mais nítidos para as populações dos países periféricos. O povo do mundo cansou de esperar por paz, tá indo direto pegar na prateleira.

E os donos do mercado não estão a fim de entregar, não acham que os custos foram pagos.
E o que a mídia faz? Uai! põe a voz do dono do mercado no autofalante e o povão que se dane!!
Explicar? Pra que? Nego não vai entender mesmo! Cumprir minha função social de instrumento de comunicação pública? Que isso, Rapaz! Eu sou uma empresa, quero lucro e o lucro está no sistema.E o sistema quer impor suas necessidades ao todo da população, você não vê que isso é modernidade?

Então assim é mole transformar pedra em Bomba Atômica, massacre em Guerra Justa, Resistência em Terrorismo e Crimes de Guerras em perdas colaterais. Porque na defesa do sistema que me mantém vivo minha boca só fala o som que o rei curte.
Tudo e todos aqueles que buscarem uma visão mais ampla, olhando todos os lados que tentem denunciar a hipocrisia da mídia ou mesmo lutar para combater um rolo compressor economico militar são vilões, terroristas, assassinos. E não falo só de populações distantes que usam o legítimo direito de resistir, afirmo também de grupos nacionais que resistem a um sistema muito parecido de opressão e extermínio.
Tudo aquilo que luta contra o sistema, vide MST e MTL, que questiona a propriedade privada que teria de ter função social, mas a função social que possui é a de socializar a concentração de renda e o apartheid rico X pobre, é taxado de criminoso, terrorista. O dever de informar é esquecido amplamente. A mídia assume como seu dever o condenar, o impor posições, o tomar partido.
Não que euacredite em imparcialidade, mas acredito em honestidade. E o que a mídia faz em todos estes casos é tudo, menos honesto. Qualquer desafio ao sistema ganha, no mínimo, o apelido de "arcaico" ou "fora de moda". Se for um desafio mais hard, mais bélico, então é crime na caruda. O crime que gerou o crime fica livre para existir, o ato final, a resistência, é crime inafiançável, hediondo, passível de assassínio.
Pra termos um exemplo: Quantas vezes você viu uma denúncia de mais de 10 segundos sorbe o assassinato de sem terras? E se as viu, quantos segundos você viu sem que aparecesse uma voz ligada ao Fazendeiro informaod da violência dos Sem Terra? Quantas vezes o ataque do Hezbollah foi acompanhado de uma descrição da quantidade de bombas jogadas por Israel no Líbano e da História das contínuas invasões e massacres feitos por este lá? Poucas,né?
Isso tudo porque a mídia pouco se importa com o dever de informar, afinal você é estúpido, você deve acreditar no que ela acredita, até porque um sujeito, mesmo estúpido, não pode ser arcaico e contra a civilização judaico-cristã. Mesmo se você não for nem judaico e nem cristão.

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