segunda-feira, agosto 21, 2006

Mísera farpa

Se eu soubesse chorar de verdade
Aquele braço de Rio seria igual a meu medo
Mas eu nunca soube
Eu me engasgo desde menino com o choro escondido
Este choro que aparece como premonição de horrores
E que na maioria das vezes é só o desbundar das verdades encolhidas
Presas no medo da vida.

Se eu soubesse chorar e sentir
Seria grande
E talvez adulto
Talvez casmurro
Mas nunca aprendi o bebá da seriedades
E nem a certeza da calma.

Se eu soubesse chorar inventaria mundos perfeitos
E namoraria iluminadas cores de verão
Mas eu aprendi no mundo doido
Dos Santos e Velhos pretos
A amar quem me ama e a sonhar com quem brilha-me os olhos
Difícil de ver isso na escuridão das mediocridades.

E do choro
Eu retiro a vergonha de fazê-lo só
De olhar espelhos e deixar os medos abundarem
E trancar-me na nublada ingratidão do tempo
E fazer-me nú
Medroso
Calado e sonhador inventador de rimas
Com medo do tempo, da moça
Do desfecho da vida
E perdido assim em mim mesmo
Na arrogância e no egoísmo dos fracos
Escondendo carências e dores nunca sentidas
Me isolo do universo
E conheço o prazer de saber-me.

E dói saber-se
Não pela ausência de toda a mágica do inventado
Mas pela consciência da falha, do engodo
E de si mesmo como apenas uma mísera farpa
De indignidades e grandiosas bondades.

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