segunda-feira, agosto 21, 2006

Guadalupe

Guadalupe era um imaginar de coisas
Lá fora O Longe.

Bairro menino, pequeno e perdido
Entre Pistas de Velocidade
E entrelinhas mal ditas
Saboreava a mansidão
De longíquo
E passeava entre o não estar perto
E O Longe.

Não via mar, mas pernambucava Cirandas
Coisa que mal se diz hoje em dias de dedos rápidos
Nâo olhava estátuas de longos braços
Mas sabia que carro que voa aparece em quintais
E este segredo lhe dava orgulho
Dava sim!
Orgulho de bola de gude nova
Maior que as outras
E feito olho de gato
Mas mais brilhante.

Guadalupe era ali e até o trem dinamitava as realidades
Quando ia ao Longe
Guadalupe via metrô e lanchonetes de nome difícil
Sabia tirar sangue sem chorar
E apelidava tudo com o nome das placas.

Imaginar era permitido
Antes do mundo fazer sua barba
Ser motivo de esmagar de costas.

Guadalupe crescia assim
Sabendo sorrir
E fantasiando dia onde o Longe era do lado
Daquele lado ali
Perto do som perfeito e do Rio morto.

O mundo cresceu
A moça do Jornal dizia que era isso mesmo
Que tudo magicaria o medo
E faria verdades parecerem coisas novas
Disse que mundão era coisa do lado
Que o Longe acabava
E que até Guadalupe saberia dizer nome escrito
E saborear asfalto com cor de sangue.

Só que do tempo
Guadalupe tirou o cheiro ruim das coisas
E soube logo
Que o Longe era perto demais
Do ínfimo destino da morte
E do medo tremulante
Soube-se grande
E de grande tirou de si moços diferentes
que não sabiam mais se rir das coisa
Sem nem perguntar pro pai qual era o nome do lagarto verde
O lagarto morria de crueldade na pele e de sorriso feio
No rosto dos meninos.

E Guadalupe só não chorou porque era ele mesmo grande
Virava mundo
E eu, aqui oiando tudo
Fingindo caipirês
Só pude guardar Guadalupe nos verso
Pintando ele de cor mais nova, mas sem exagerar no vermelho
Enquanto esperava o sol acordar e me dizer bom dia
Eu fingindo que era grande que nem Guadalupe
Na hora d epegar o ônibus
E ir pro Longe
Escondendo o menino debaixo dos oio
Brincando de recantar canção de Véio Chico
E sonhando com a moça de cabelo preto
Que parecia a princesa do filme que fez sonho
Parecer sorriso novo na barba mal feita
Dos meus 32 anos.

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